Manuais de parentalidade? Não existem.
Decidimos ser pais por diversos motivos.
Queremos dar continuidade à nossa história, queremos responder aos anseios familiares de seguimento, queremos fazê-lo por amor… Mas muitas vezes somos pais sem o procurarmos, sem o esperarmos, sem um especial desejo ou preparação prévia para o efeito.
Em ambos os casos, aprendemos com a experiência porque por mais manuais editados sobre o assunto, a verdade é que no mundo dos afetos, o que impera é a realidade.
Ser pai e mãe obriga-nos, que o queiramos ou não, a revisitar a nossa própria infância. Seja por comparação, seja por imitação ou seja por oposição àquilo que vivenciámos. De uma forma ou de outra, o passado é sempre pai do presente embora não tenha que ser ditador do futuro.
Já Freud dizia que ser educador é uma profissão difícil porque façamos o que fizermos, fazemos sempre mal. Por vezes, pecamos por invasão, por vezes pecamos por alheamento, quer através da ação inibidora e desorganizadora, quer através da ausência de resposta congruente e apropriada.
Então…questionemo-nos…
Desejamos promover o desenvolvimento?
Desejamos formar pensadores autónomos ou meros acumuladores de conhecimento desprovidos de análise?
Desejamos realmente que aprendam não apenas a saber, a saber fazer e a refletir ou que se limitem a uma repetição de padrões alheios, divergentes da condição fundamental da individualidade e unicidade de cada ser?
A incondicionalidade do amor… insisto sempre na importância desta posição primal para a manutenção de saúde mental e emocional.
Amar-te-ei sejas quem fores,
Alto, baixo, gordo, magro, professor de ginástica ou advogado.
Amar-te-ei simplesmente…
Amar-te-ei quando no meu medo visceral de te perder ou de te ver sofrer assinarei a autorização que te permitirá viajar num mundo de incógnitas porque a vida é feita de descobertas, de confrontos com o medo e de luta pela liberdade.
Amar-te-ei no desejo primeiro de que sejas livre de ser, de sentir, de pensar e de agir.
Destruir a acomodação da Culpa e incentivar o desconforto libertador da responsabilidade…
A culpa…esse travesseiro pseudo-macio em que todos nos aninhamos para nos ausentarmos e ilibarmos da tomada de consciência assustadora de que podemos fazer melhor, podemos ir mais além mas temos que arriscar, temos que lutar contra o nosso tão frequente e pseudo-libertador desejo de nos anestesiarmos…de não sentirmos, de ficarmos só quietos...
Mas...quietude não é anestesia. Quietude é paz. E a paz consegue-se com longas e árduas negociações internas connosco, com o mundo e dá trabalho...dá muito trabalho... mas quando se consegue deixamos de ter necessidade de anestesias, passamos apenas a vibrar pelo entusiasmo da descoberta, do encontro com quem verdadeiramente somos independentemente do que os demais esperam, exigem ou "desentendem".
Ensiná-los a arriscar é também obrigarmo-nos a arriscar…
Não há manuais. Se houver amor são, generoso e corajoso, há o principal. Homens e mulheres, vivos. Filhos felizes, futuros pais alicerçantes, firmes mas libertadores e incondicionais no abrir de braços que SEMPRE os recebe de volta.
|Fotografia retirada da Internet|