Educar a vontade
Muitos pais se preocupam em fortalecer a inteligência dos filhos, e preenchem a agenda deles com aulas, jogos e atividades que, dizem, estimulam os neurônios. Mas, se pouco fazem para fortalecer a vontade ou a capacidade de querer das crianças, mau negócio, pois elas poderão ser muito “inteligentes” para fugir das próprias obrigações por preguiça. Educar a Vontade dos filhos significa torná-la forte por meio de ações pequenas e constantes que criem hábitos bons.
Para fortalecer a vontade é preciso distinguir na pessoa humana algumas de suas potencialidades: inteligência e vontade como faculdades espirituais e racionais; e sentimentos, emoções e paixões como potências físicas ou sensíveis, não racionais. Cada uma dessas potências -vontade e sentimentos- tem uma ação que lhe é própria: Querer e Gostar.
- Querer é ação própria da vontade, também chamada de apetite da inteligência. Esse querer da vontade é sempre intelectualizado porque passa primeiramente pela nossa capacidade de compreender. É a partir desse conhecimento que queremos ou não queremos algo, porque foi revelado pela inteligência como bom ou mal. O querer da vontade está na esfera do livre arbítrio, do decidir se queremos ou não algo que foi pensado.
- Gostar é ação própria dos sentimentos, emoções e paixões, que são irracionais e nos fazem simplesmente gostar ou não gostar de algo sem explicação para isso: gostamos ou não gostamos de tal tipo de alimento, música, roupa, filme ou obra literária; preferimos essa cor e não outra, etc. Não sendo racionais, os sentimentos não são chamados para serem reitores das ações, e só devem ser seguidos depois de analisados pela inteligência e queridos (ou não) pela vontade. Se a vontade com o seu querer estiver enfraquecida, não conseguirá se sobrepor à lei do gosto, que é a lei dos sentimentos ou estados de ânimo. Estes, por serem irracionais e cambiantes, não devem comandar nossas ações: se gostar, faço; se não gostar, não faço. Quem se pauta por isso terá muitos dissabores na vida.
Para compreender a diferença entre querer e gostar, pensemos que ao recolher indigentes cobertos de pústulas nas sarjetas de Calcutá, Madre Teresa o fazia porque sua inteligência mostrava ser importante essa obra de caridade, e sua vontade decidia cumprir tal ação. Mas, podemos razoavelmente acreditar que os sentimentos dela, ao recolher nos braços alguém cheio de pus, sujo e cheirando mal, poderiam ser de rejeição e repulsa. Por isso se diz que a vontade de alguém é forte quando o seu querer se impõe à lei do gosto, própria dos sentidos ou sentimentos.
Pensemos agora no comportamento das crianças, quando os sentimentos delas levam a gostar ou não gostar de brincar com bola, preferir carrinhos ou miniaturas de super-heróis, dançar ou cantar, correr ou brincar sentados. Até aí tudo bem, porque os sentimentos, muito ligados ao temperamento de cada filho, levam a que prefiram uma coisa e não outra, o que é uma maravilha, pois isso revela que pessoa humana não é fabricada em série como as garrafas de refrigerantes.
Mas há ações que as crianças precisam ser incentivadas a realizar, independente de gostar ou não delas: estudar, ajudar o irmão mais novo a aprender matemática, colocar em ordem seus brinquedos: bolinhas na caixa de bolinhas, lego na caixa de lego, carrinhos na caixa de carrinhos; devem guardar a roupa na gaveta ou no cesto para serem lavadas, levar o lixo para fora, colocar pratos e talheres na mesa, dormir e acordar no horário, não comer fora de hora, ir brincar só após ter feito a lição de casa ou cumprido o encargo que lhe foi atribuído. Quando a criança já possuir controle motor deverá, sozinha, arrumar a cama, se banhar e enxugar o box, vestir-se, preparar seu prato e cortar o bife.
Ao exigir o cumprimento dos deveres, os pais tornam a vontade dos filhos forte e robusta para que se sobreponha à preguiça ou ao comodismo, pois, como diz o ditado, "com churros não se faz alavanca". Em pouco tempo, a criança que adquiriu bons hábitos realizará com alegria e prontidão aquilo que deve ser feito.
Texto produzido por Ari Esteves
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