MAR DE ÁGUA DOCE
Mar de água doce
Na última terça-feira foram lançados nove livros durante a premiação do 1º. Prêmio de Literatura, promovido pela Secretaria estadual de Cultura. Embora todos tenham grande mérito, quero destacar um: “Agnus Dei – No Mar de Água Doce”, escrito pelo meu querido amigo, o jornalista Rui Matos. Tenho o Rui como um filho adotivo. Conhecemo-nos em 1988, em Cuiabá. Ele chegava do interior e aconteceu de vir trabalhar comigo na Revista Contato. Imediatamente chamou-me a atenção o seu bom caráter e facilidade de se relacionar. Trabalhamos juntos ali durante uns cinco anos.
Incentivei-o junto com o também jornalista Jurandir Antonio, a estudar jornalismo. Viemos a nos encontrar de novo em 2005 na Revista RDM. Vindo da televisão, escrever ainda não era o seu ponto forte. Mas o seu texto prometia muito. Era leve e humano. Brigamos muito ao escrever os títulos das suas matérias. Até que pegou o espírito e os seus títulos começaram a espelhar a sua alma. Estava pronto. Quis o destino que seguíssemos caminhos diferentes a partir de 2009. Mas o nosso contato manteve-se próximo.
Agora vejo-o lançando o seu primeiro livro. Li-o antes de escrever a orelha da última capa. Um privilégio. Gosto muito de livros dessa natureza: a abordagem dos dramas e dos sonhos humanos trançados em ambientes complexos. Rui escolheu o Pantanal na década de 1930 como o ambiente da história. O Pantanal é um ser mutante capaz de milhões de faces dentro das quais se pode escrever e viver de tudo. Rui teve o cuidado de ambientar o Pantanal e resgatar costumes, falas, expressões, a língua e as milhares de linguagens pantaneiras. As aves, o tempo, o clima, o vento e as ventanias, as vozes dos insetos, dos animais e revolteios dos peixes nos corixos, o calor que sufoca a vida e liberta profundas emoções humanas, como no amor ora terno, ora forte dos seus personagens.
É livro pra se ler em várias etapas. Cada uma fica ali revolteando na nossa cabeça até ser digerida e pedir pelo próximo capítulo. Ao fim da leitura incorporamos algo bom imperceptível e sutil. Refrescante. Agora resta-nos esperar pelo próximo bom romance do Rui. De braços e mente abertos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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