Marcação a Mercado na renda fixa

Marcação a Mercado na renda fixa

As instituições distribuidoras de títulos de investimento, como bancos e corretoras, estão sendo solicitadas a implementar um novo método de cálculo para determinar o valor dos ativos, conhecido como "marcação a mercado". Essa alteração é necessária para garantir a conformidade com a nova regulamentação estabelecida pela Anbima - Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.

A intenção é ajudar a garantir que o valor atualizado da sua carteira de investimentos reflita com precisão as flutuações do mercado. Se os preços dos ativos caírem, seu saldo de investimentos também poderá diminuir. Por outro lado, se houver uma valorização dos títulos, seu saldo aumentará. 

Com essa nova regra de marcação a mercado. O objetivo é proporcionar uma representação mais precisa do valor atualizado da carteira dos investidores, com base nos preços de negociação dos ativos no mercado: se houver queda nos preços, o saldo de investimentos diminuirá; e se os títulos se valorizarem, o saldo aumentará.

Este método de atualização de preços é semelhante ao utilizado para os títulos públicos adquiridos por meio do Tesouro Direto. Da mesma forma, os fundos de investimento e carteiras administradas também realizam a "marcação a mercado" de seus títulos de crédito - e, por conseguinte, de suas cotas.

A visualização dos preços dos títulos, com maior transparência e clareza sobre os valores atuais dos ativos de renda fixa no mercado, facilita a gestão do seu patrimônio.

Esse modelo é mais suscetível a variações, podendo apresentar valores acima (com ágio) ou abaixo (com deságio) do que o preço da "marcação na curva" indicaria.


Mas o que é ágio e deságio?

Um título de renda fixa pode ser negociado com ágio ou deságio quando a curva de juros do mercado, em um determinado momento, difere da taxa de cupom originalmente estabelecida ou quando há uma mudança na percepção de risco de crédito associada ao ativo desde a sua emissão ou aquisição.

A curva de juros representa as expectativas de mercado em relação às taxas de juros de um mesmo emissor para diferentes prazos. Essas expectativas refletem o nível de risco percebido em relação ao cenário econômico do país nos próximos anos. De maneira geral, as taxas de curto prazo estão relacionadas à política monetária, enquanto as de longo prazo estão mais ligadas ao risco fiscal

Exemplo:

Vamos considerar os títulos públicos prefixados, como por exemplo o Tesouro Prefixado 2026. É importante ressaltar que esses títulos são precificados de acordo com as condições do mercado secundário, o que significa que seus valores são ajustados diariamente para refletir as condições atuais de negociação. Títulos com prazos de vencimento mais longos tendem a ser mais suscetíveis a variações nas taxas de juros devido à sua duration (Duration representa o prazo médio ponderado de recebimentos dos fluxos de um título). Para ativos que não pagam juros ou amortização até o vencimento, a duration equivale ao prazo do título. Por outro lado, aqueles que pagam fluxos ao longo da duração possuem uma duration inferior ao prazo do título.


O preço da LTN é definido pelo valor futuro unitário (R$1.000,00) trazido a valor presente. Ou seja, para que no vencimento do título ele esteja valendo R$1.000,00, rendendo à taxa de juros determinada, o preço hoje deve ser:

Para demonstrar o comportamento do preço em relação à taxa deste título, confira o gráfico a seguir.

Esclarecendo um pouco mais sobre as oscilações nas taxas e nos preços dos títulos de renda fixa: essas mudanças são normais e acontecem diariamente devido a diversos fatores, como expectativas do mercado em relação às taxas de juros futuras, divulgações de dados econômicos, tensões políticas e perspectivas fiscais.

É importante lembrar que a percepção de risco dos emissores também desempenha um papel significativo. Por exemplo, a rentabilidade de uma debênture é calculada com base em um título do governo de mesma duration, acrescido de um prêmio de risco. Esse prêmio pode variar ao longo do tempo, refletindo mudanças na percepção de risco.

Quando a percepção de risco melhora, as taxas tendem a cair, e vice-versa. Como resultado, o impacto das mudanças nas taxas é inverso ao efeito nos preços dos títulos.


Essas informações sobre como os movimentos dos títulos do Tesouro Direto são refletidos diariamente no mercado. Você pode acompanhar essas variações tanto na plataforma do Tesouro quanto na sua carteira de investimentos.

Por outro lado, quando se trata de ativos de renda fixa como CDBs, LCIs, debêntures, CRAs, entre outros, eles são "marcados na curva". Isso significa que mostram a rentabilidade acumulada com base na taxa combinada no momento da compra, sem considerar as condições do mercado.

É importante lembrar que, caso deseje vender um ativo antecipadamente, é necessário verificar o preço e a taxa de negociação no mercado secundário naquele momento.


Precificação: “Marcação na curva” X “Marcação a mercado”

Atualmente os títulos de renda fixa na sua carteira são exibidos com base no valor de "marcação na curva". Isso significa que o valor que você vê é o valor de aquisição do título, que é atualizado diariamente de acordo com o indexador (como inflação ou CDI) e os juros relacionados à remuneração do papel (conhecido como "taxa de compra"). Isso ajuda a aproximar o valor que você visualiza da rentabilidade do título, caso você decida mantê-lo até o vencimento.

Mas é importante lembrar que esse preço de curva pode não refletir necessariamente o valor de negociação do título no mercado, caso você decida vendê-lo antes do vencimento (ou seja, no mercado secundário). Isso ocorre porque a taxa usada para calcular o preço do título ao longo do tempo é a taxa de compra, que foi acordada no momento da aquisição, por exemplo, 10% ao ano.

 

Na "marcação a mercado" (nova regra), a taxa usada para atualizar o título é a que está sendo negociada no mercado, e geralmente muda diariamente de acordo com a oferta e demanda.

A variação dos títulos antes do vencimento também depende das condições de mercado, do prazo e do indexador: quanto mais longo o prazo (duration), mais sensíveis os títulos serão à marcação a mercado. Em relação aos indexadores, os prefixados são os mais sensíveis, seguidos pelos IPCA+. Os pós-fixados são mais estáveis e variam pouco ou quase nada devido à marcação a mercado.

 

Mas na medida que a data de vencimento se aproxima, o preço do título converge para o mesmo valor em ambas as metodologias. Veja o exemplo simbólico a seguir, de uma LTN com vencimento em janeiro de 2023:

O PU e a Taxa de “curva” equivalem a PU e Taxa “de compra”.

Importante: O preço da “marcação a mercado” é um indicativo do valor de negociação do ativo, e não necessariamente o valor exato que o investidor receberá no caso de venda antes do vencimento, uma vez que pode haver outras variáveis que afetam o preço para cima ou para baixo, como o risco de liquidez imediata do mercado, bem como os custos de transação.



Conclusão:

Esse modelo é, portanto, mais suscetível a variações, podendo apresentar valores acima (com ágio) ou abaixo (com deságio) do que o preço da "marcação na curva" indicaria, o que pode fornecer ao investidor informações adicionais na decisão de vender o ativo antes do vencimento para obter lucro, ou evitar perdas ao aguardar até o prazo final.

A "marcação a mercado" pode atrair mais investidores e aumentar a liquidez no mercado! Isso significa que os investidores podem se desfazer de seus títulos com mais facilidade em um mercado secundário robusto. Além disso, com mais títulos circulando, mais empresas e instituições podem se interessar em captar recursos no mercado primário de renda fixa.

Para ilustrar, podemos fazer uma comparação com o mercado de automóveis: se um modelo de carro não tem um mercado de usados forte, pode ser difícil vendê-lo sem oferecer um desconto. Já um carro com alta demanda no mercado de usados é mais fácil de vender pelo preço desejado.

Fontes

Anbima – Regras e Procedimentos para Apuração de Valores de Referência nº 09

Tesouro Direto - Site Tesouro Direto

Youtube XP - site

XP Expert - site

Gabriel Veiga

Engenheiro Mecânico | Lubrificação | Confiabilidade | Gestão de Ativos | Gestão de Projetos | Desenvolvimento do Produto

6 m

Excelente explanação! 👏🏾

Paloma Guimarães

Customer Experience B2B Assistant | XP inc | CPA-20 | FBB-100 | PQO CADASTRO | Administração | Finanças

6 m

Você é fera!! 🚀

Gabriel Gasques Brassolati, PAAP®

CPA-20 | Vendas | Foco em Resultados | Trabalho em Equipe | Relacionamento com Cliente

6 m

Sabe muito 📈

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