MINHA EXPERIÊNCIA COM EDUCAÇÃO POPULAR

MINHA EXPERIÊNCIA COM EDUCAÇÃO POPULAR

A educação popular sempre esteve presente na minha vida. Quando estudava em Curitiba, tomei contato com os círculos de cultura e de alfabetização, que seguia o método do pedagogo Paulo Freire, na periferia de Curitiba. Visitei muitos destes grupos em favelas e bairros populares da cidade. No meu Trabalho de Conclusão do Curso(TCC) de licenciatura em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná(PURPR), pesquisei sobre o tema educação popular, focado no pensamento do pedagogo brasileiro Paulo Freire. Pesquisei sobre o assunto, entrevistei educandos e educadores, destes círculos de cultura e alfabetização que visitei, participei das suas reuniões, geralmente era a noite nas casas dos próprios moradores, nos salões comunitários das associações de moradores de bairro, nos salões das igrejas e em outros espaços populares, li os materiais destes círculos de cultura e de alfabetização que era usado como subsídio de estudo para estes grupos e também alguns materiais produzidos pelos educandos e tive muitos diálogos com eles. Além disto, li toda obra do educador Paulo Freire e pesquisei sobre o assunto para produzir minha monografia sobre o tema. Foi uma experiência e tanto. Um verdadeiro banho de educação popular na teoria, mas principalmente na prática, isto é, vi como ela ocorria no seu processo concreto no seu dia a dia. Fiquei encantado, me conquistou para sempre. Vi como as pessoas ressurgem através da alfabetização e da cultura, como elas recuperam sua humanidade, se conscientizam que são capazes e que podem aprender a ler e a escrever, que elas tem este direito, negado até aquele momento. Seus olhos brilhavam, quando começavam a dominar a palavra e a escrita, percebiam que podiam escrever sua própria história, construir sua liberdade, conquistar a liberdade, viver este momento foi sublime. Vivi vários momentos como este em minha vida. No final do meu curso de graduação em filosofia apresentei o resultado de minha pesquisa, diante da banca de professores da PUCPR e a monografia que produzi como resultado desta pesquisa. O tema foi: Educação para a Libertação em Paulo Freire.

Quando fui convidado para trabalhar no Núcleo Regional de Educação de Maringá(NRE-Maringá), fui coordenar, junto com um grupo de professoras, o Programa Paraná Alfabetizado(PPA), que tinha como método de alfabetização justamente o método do pedagogo Paulo Freire, que eu já conhecia muito bem, tanto teoricamente como na prática, como já relatei acima neste texto. O Programa Paraná Alfabetizado era um programa de educação popular de alfabetização de jovens e adultos com idade acima de 15 anos de idade.

Cheguei lá e encontrei colegas professoras, educadoras, apaixonadas, empenhadas por esta ação educativa, apaixonada pela a educação popular, pela alfabetização de jovens e adultos. Uma equipe empenhada, maravilhosa. Entrei na equipe, foi uma experiência única, profundamente humana, de sensibilidade, solidariedade, de amor, que marcou minha vida para sempre como pessoa humana e como educador. Que prazer eu tive de ter encontrado criaturas tão humanas, destas que nos tornamos amigos a primeira vista, espontaneamente. O preparo e o amor ao estudo, é que faz os professores mais cheios de coleguismo e comportamento fraternal. O duro que dão em cima dos livros, o trabalho que dá o bem saber, fazem-nos valorizar essas qualidades nos outros e o tempo debruçados nos livros e nos educandos não tem intervalos de folga para fofoca, o disse que disse, as intrigas, a calúnia. A certeza do próprio valor cria os tolerantes com o valor alheio. Eram assim as colegas que encontrei lá, simplesmente maravilhosas educadoras.

Era ali o nosso lugar de trabalho, muito trabalho e alegria, onde com orgulho e paixão coordenávamos o Programa Paraná Alfabetizado do estado do Paraná, ligado a Secretaria Estadual de Educação do Paraná(SEED), em vinte e cinco municípios da região de Maringá. Ali atendíamos as coordenadoras e alfabetizadoras do programa. Fazíamos reuniões com elas, passávamos orientações e materiais didáticos para ser usados nas turmas nas cidades da região e nos bairros de Maringá, elas nos traziam as relações das turmas com os alfabetizandos matriculados. Fazíamos o controle de tudo. Cada turma tinha no mínimo quatorze educandos e no máximos vinte e cinco. Cada sete turmas havia uma coordenadora, além de cada cidade ter sua coordenadora das alfabetizadoras e das turmas. Ali o programa de alfabetização pulsava.

Chegamos a formar 350 turmas de alfabetizandos espalhados pelas vinte e cinco cidades, pelos bairros e áreas rurais da nossa regional. Estas turmas funcionavam em salões paroquiais, em salões das associações comunitárias de moradores, espaços públicos da comunidade e em escolas, onde houvesse espaço público em condições de servir como espaço de alfabetização. A maioria destas turmas de alfabetização funcionavam à noite. O ciclo de alfabetização durava oito meses.

Visitávamos todas estas turmas, geralmente à noite, em bairros afastados, nas periferias das cidades, encontrávamos turmas cheias, empenhadas, aprendendo, com alegria. Conversávamos com os educadores e especialmente com os educandos, incentivando-os a não desistirem do estudo. A maioria dos educandos, já eram pessoas de idade, que não tiveram oportunidade de estudar no momento certo por motivos variados, alguns diziam que não tinham ainda aprendido a ler e nem escrever por que trabalhavam na roça e a escola era muito distante, as mulheres que eram maioria nas nossas turmas de alfabetização, diziam que tinham casado muito cedo e com filhos não tinham como estudar, outras ainda diziam que o pai não deixavam elas estudarem pois achava que não tinha importância e que mulher não precisa de estudo e tantos outro motivos. Mas, todas falavam, que estavam felizes por aquela oportunidade agora nesta altura de suas vidas. Muitas vinham nos agradecer pela oportunidade de estar sendo alfabetizada e nos contava da alegria de aprender a ler e a escrever, que o mundo se abria agora para elas, que agora podiam ler a bíblia, ler a placa do ônibus que elas usavam, ler o preço dos produtos no supermercado, não precisavam sujar o dedo de tinta para votar. Nos dizia que era um mundo novo para elas, que antes era como se elas estivem cegas, agora passaram a enxergar, olhar, ver e ler tudo claramente. Eram livres. Havia muitos depoimentos de agradecimento, emocionantes. Que nos enchia o coração de alegria como educador. Nos realizávamos nestas falas.

Fazíamos campanhas nas cidades para incentivar os que ainda não sabiam ler e escrever a frequentar as turmas de alfabetização e os círculos de cultura.

Foi uma experiência extremamente humana e humanizante. Como foi bom ver o brilho nos olhos daquele que de repente aprendia ler.

Contar para não esquecer.

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