Muito cedo ou muito tarde?
Olho no relógio, são 20:47:27s. (Isso mesmo, com esse nível de detalhe!!). Quem já ficou com um bebê de sete quilos no colo tentando fazer ele dormir sabe que cada segundo conta. Já completei quase vinte minutos parado no mesmo lugar. No tapete azul com bolinhas brancas em formato circular, que fica no meio do quarto, entre a poltrona e o berço. Balanço pra direita e pra esquerda, enquanto acompanho fielmente o relógio que colocamos em cima da cômoda para marcar o horário das mamadas. Minhas costas queimam e meu braço esquerdo já adormeceu há uns cinco minutos. A cada trinta segundos olho, torcendo, pra ver se ele já dormiu. Um silêncio absoluto no resto da casa, como se estivéssemos dentro do cinema ou de uma biblioteca.
Alguns minutos antes estávamos dando banho nele. Eu de um lado da banheira e minha esposa do outro. Enquanto um segura o outro passa o sabonete. Mais fácil e prático!! Ele, apoiado na boia, bate os pezinhos na água se divertindo com o momento. Dizem que o banho relaxa então vamos deixar o máximo possível pra, quem sabe, ter uma boa noite de sono. Chegou a hora de virar de barriga pra baixo. Pego ele no colo e viro. Olho pra minha esposa e ela está se alongando. Pede alguns segundos. A coluna já gritou de tanto (???) ficar inclinada. Respira, alonga, aperta a lombar, respira de novo e voltamos pro banho.
Não somos um casal muito novo, na faixa dos “quase quarenta”. Nossas vidas e nossas escolhas nos levaram a termos filho após os 35. Por culpa talvez do trabalho ou de relacionamentos frustrados, até mesmo dos óvulos que não fecundavam, mas também por opções de vida que fizemos. Ao mesmo tempo que me preocupo se nossas costas e braços vão aguentar, mesmo sabendo que vão, tenho hoje a maturidade que com certeza não tinha antes dos 30.
Não sei se tem uma idade ideal pra ter filho. Se for considerar a questão da fertilidade, quanto antes melhor. Se for pela financeira, quanto mais tarde mais estabilidade e, talvez, melhores condições. Se for pela maturidade e experiências, também.
Aqueles que foram pais com menos de trinta, com certeza não tiveram dores nas costas. Conseguiram levantar e agachar quantas vezes foram necessárias. São os pais que acordam de madrugada e voltam a dormir como se tivessem ido pra uma balada. Mas não é balada né? Afinal de contas agora tem um filho pra cuidar e já não dá também pra fazer todas as coisas que um jovem de 25 faz. Já não dá (??) pra encher a cara no churrasco da galera no sábado, ou ficar até 5 horas da manhã no casamento da melhor amiga. “Responsabilidades filho, agora você é pai!!” diria minha mãe. Por outro lado, um amigo foi campeão de futebol com o filho de quinze anos assistindo ele jogar. Uma amiga da minha esposa empresta roupas pra filha sair. Se arrumam juntas, se maquiam, como melhores amigas, que de fato são!! São momentos simples mas que fortalecem a relação entre pais e filhos.
Mas e se aquele relacionamento de anos acabar inesperadamente e tiver que começar do zero? Ou aquela promoção inesperada no trabalho “obrigar” uma mudança de planos? Ou simplesmente não achar que é o momento? Uma amiga, com mais de 35 anos, solteira, focada no trabalho, resolveu congelar os óvulos pra, quem sabe daqui uns anos, engravidar, com ou sem marido. Um amigo se separou depois de quase quinze anos casado. Zerou o cronometro e teve que começar a contagem do zero. Com trinta e muitos anos vai ser pai depois dos quarenta provavelmente. A medicina possibilita isso.
Antigamente se falava que tinha que engravidar antes. Hoje, por mais que ainda seja difícil, que a fertilidade não seja a mesma (tanto do homem quanto da mulher), já não é mais raro mulheres que engravidam com mais de 35. E talvez seja melhor. Quanto mais velhos, melhores decisões tomamos. Estamos mais preparados pra lidar com as dificuldades que possam aparecer (e elas aparecem!!). A parte financeira também tende a estar mais estabilizada possibilitando melhores condições aos pequenos. Já enchemos a cara em muitos churrascos e casamentos, já fizemos muitas viagens decididas em cima da hora. Estamos, talvez, satisfeitos e prontos pra entrar nessa nova fase. A fase das festinhas de criança, das milhares de fotos deles no celular, das musiquinhas da galinha pintadinha e das pequisas no google sobre a melhor fralda pra dormir ou a mamadeira ideal pra cólica. Prontos pra nos dedicar de corpo (ou o que sobrar dele) e alma à essa nova função.
Olho no relógio, são 21:02:55s. Não sinto mais meu braço esquerdo. Coloco ele no berço rezando pra não acordar. Saio do quarto como se estivesse pisando em um campo minado. Peço um tandrilax pra minha esposa que esta deitada com uma bolsa de água quente nas costas. Deito ao lado dela e juntos olhamos ele pela babá eletrônica. Sem saber se existe ou não a idade ideal mas com a tranquilidade que seremos os pais ideais pro nosso filho.
Pai Coruja