Pais condenados a noites sem dormir

Se pensa que são só os bebés que privam os pais de sono, desengane-se. Estudo garante que o stress com os filhos adultos provoca insónias a 90% dos pais.

Se sofre de insónias impingidas pelos seus filhos pequenos, este texto não lhe traz boas notícias. Suponho que enquanto embala o bebé de madrugada, ou se levanta pela vigésima vez porque um tem tosse e o outro pesadelos, imagina que é só uma questão de tempo, e que em breve, muito em breve, voltará a poder meter-se na cama e a dormir de um sono até ao dia seguinte. Infelizmente, lamento informá-lo, as noites bem dormidas desapareceram para sempre.

É evidente que é estúpido passar uma noite em claro a preocuparmo-nos com filhos adultos; e supremamente idiota, perder horas de sono a remoer em como resolver problemas que não nos dizem respeito, mas é aquilo a que estamos condenados. No escuro do quarto engendramos esquemas e estratégias para que ultrapassem obstáculos emocionais ou financeiros, apesar de sabermos que é forte a probabilidade de os próprios estarem pouco, ou mesmo nada, interessados nos nossos conselhos.

Mas nem esse sintoma da sua autonomia, nem tão-pouco a forma como constantemente nos surpreendem com a sua capacidade de resolver problemas que julgávamos intransponíveis, nos impede de nos continuarmos a afligir. Pior, com o desespero acrescido em relação à sua infância, de já não termos qualquer controlo real sobre as suas vidas — não os podemos agarrar pelos colarinhos e levar ao médico, nem lhes escolher os amigos, nem determinar a hora a que se deitam ou levantam, nem a forma como ganham ou gastam o dinheiro.

Por outras palavras, consumimo-nos num exercício de loucos, mas que terá certamente o benefício secundário de nos permitir acreditar que continuamos a ser-lhes imprescindíveis.

Se serve de consolação, fique pelo menos a saber que o mal é geral. Revisitei um estudo publicado no The Gerontologist Journal, da autoria da gerontologista de família, Amber J. Seidl, da Penn State York, que não deixa dúvidas: 90% dos pais norte-americanos de 57/58 anos (oh não, já sou geronte!) sofrem de perturbações de sono provocadas pelo stress e preocupação com os seus rebentos maiores e vacinados. A investigadora garante que é o outro lado da moeda de relações parentais cada vez mais próximas e cúmplices, possíveis graças ao telemóvel e à internet. Simplesmente, a troca constante de desabafos representa uma fonte de stress, mesmo quando não são “pais-helicóptero”, daqueles que pairam constantemente por cima dos filhos.

Antídotos? Muito poucos mas, segundo o estudo, os casais que conseguem partilhar estas preocupações entre si dormem melhor.

Avisos? Dois, muito importantes.

Aviso 1: Amber Seidl pede aos pais que analisem o tipo de apoio que oferecem aos filhos, para perceber se não os estão a infantilizar, a recompensar comportamentos autodestrutivos, ou a manipulá-los.

Aviso 2: a investigadora garante que sem sono de qualidade vamos ficar doentes e dementes mais cedo. E com mais gravidade. E isso sim, é um problema que a curto prazo lhes vai tirar o sono a eles.

Por isso, afaste-se um bocadinho, confie mais, e invista na sua própria vida, em novos projetos, e em ser feliz. Suspeito de que vão ficar bem mais contentes por o saberem no topo do Everest, em vez de receberem um telefonema pela manhã com as suas queixas de que não dormiu nada por culpa deles! Enfim, bem prega S. Tomás...


Leia no site do Jornal de Negócios: https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/isabel-stilwell/detalhe/pais-condenados-a-noites-sem-dormir

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