Na ponta da agulha

Na ponta da agulha

Faço parte de uma geração que foi inspirada por mães que incentivaram a gente a se virar. Assim aprendi a cozinhar, lavar roupa, limpar a casa e não depender de outras "fontes de mão-de-obra", caso necessário - ou em alguns casos por opção mesmo. Mas confesso que não sei prender um botão em uma camisa. Quando acontece, tenho que levar numa costureira. Quem sabe vou assistir à um tutorial no YouTube?

Enfim, fui recentemente na gloriosa prestadora de serviços, e ela se dispôs a fazer na hora, para minha alegria, agradecimento e admiração :) Pois ali estou, assistindo a complexa operação (para mim) de linha pra lá e para cá tendo um botão como protagonista e a camisa como meio e ela me comenta que dia destes estava em uma entrevista de seleção (para costureira, óbvio) e o entrevistador estava meio perplexo por ter subitamente perdido um botão do terno que usava. Ela prontamente se ofereceu para prender o botão, coisa que fez, enquanto era entrevistada, para surpresa do moço. Fiquei pensando se ele não tinha feito de propósito, a la Heineken, mas ela reforçou que foi muito espontâneo e que ele ficou até perplexo. Me contou que sempre anda com um kit, uma necessaire na bolsa. Não sabe ainda se passou, mas deve ter ganho pontos. :)

Mas o acontecido serviu para reforçar como nossos processos de seleção são superficiais e como a maioria ainda está focada no currículo em vez da atitude e capacidade. Lembro de uma palestra que assisti anos atrás onde foi feita a pergunta sobre os atributos de um bom vendedor, e as mais de 500 pessoas da plateia levantaram mais de 80% de características que nada tinham a ver com formação acadêmica. Podemos argumentar que em atividades técnicas não é bem assim, mas será? Já parou para pensar que a nossa longevidade e mesmo empregabilidade tem muito mais a ver com o COMO do que com O QUE fazemos? Revisitemos nossos currículos e vejamos o que está escrito por lá... uma oportunidade para pensar sobre o dilema e quem sabe nos inspirar a melhorar os processos de seleção, em tempos de automação, key-words e entrevistas em que dizer o que é esperado parece ser a regra... ou você conhece algum ou alguma bad team player que assume abertamente que detesta trabalhar em equipe e não está nem aí para metas, deadlines e recursos escassos?

Que MBO S.M.A.R.T. reconheceria este tipo de atitude? Que tal focarmos no que realmente importa e dar não apenas a oportunidade, mas reconhecer e premiar uma pessoa que leva seus afazeres tão a sério ao ponto de não titubear frente a necessidade, sem mencionar a atenção e apreço a necessidade do cliente (mesmo que não fosse um cliente)? Ajudar uma pessoa. Existem outras dimensões a serem consideradas no processo de seleção e avaliação, sem dúvida. Mas estaríamos deixando espaço para estas dimensões menos tangíveis em nossos processos? Que ferramentas vamos desenvolver combinando inteligência artificial para melhorar, em vez de ficarmos menos inteligentes ao entregar o que de mais valioso temos a sistemas? Talvez estejamos querendo passar um camelo pelo buraco da agulha...

Christiane Bacchin

Adiciono valor ao negócio, fortalecendo a marca do cliente, trabalhando seu propósito, com Projetos de Cultura e Esporte

5 a

Selecionei como assistente uma pessoa justamente porque, além de todas as qualificações, ela espontaneamente ajudou um ouro candidato que estava com dificuldade no Inglês.

Paola Cezar Cauduro

Consultora de Projetos para Negócios

6 a

Excelente ... muito pertinente !

Sem dúvida atitude e capacidade de realização são muito mais importantes que a formação acadêmica.

Excelente artigo, legítimo dedo na moleira!

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