As novas fronteiras da avaliação por desempenho em EaD
Em tempos de tecnologia da informação e comunicação, temos presenciado o surgimento e expansão do mobile learning. Assim como a internet, que no seu surgimento comercial era tratada quase como uma “brincadeira tecnológica”, atualmente podemos considerar que a educação móvel e ubíqua ainda está dando seus primeiros passos.
O que podemos chamar de primeira infância da aprendizagem ubíqua por dispositivos móveis é o atual estágio dos aplicativos e recursos engendrados até agora. No atual contexto, há muita oferta de aplicativos das mais variadas áreas. O ensino de línguas, por exemplo, possui bons aplicativos que conseguem fazer uso inteligente dos recursos e das novas características da educação móvel. Uma outra parte, porém, ainda sofre de um mal comum – estão presos às características da educação digital da década passada, ou seja, mais focada em conteúdo do que em recursos.
Possivelmente esta é a grande chave da aprendizagem ubíqua. De fato, estamos aprendendo a cada instante de nossas vidas, independente de estarmos ou não conectados a dispositivos móveis, e independente ou não de usarmos aplicativos educacionais. Sobre essa camada, adicione as novas variáveis que a computação móvel acrescenta à experiência de estar conectado, e teremos o novo contexto digital que se abrirá para a “adolescência” da aprendizagem ubíqua.
Uma das grandes mudanças que a conectividade total trará para o campo da educação é a mudança gradual dos métodos de avaliação. Quem atua nesse meio sabe muito bem que a educação passa por um processo de revisão de suas práticas e métodos. Fatores como a aprendizagem significativa, a aprendizagem baseada em projetos, o protagonismo do aluno e uso cada vez maior das tecnologias educacionais remetem a um novo e necessário modelo de avaliação.
Nesse modelo, a avaliação que verifica a fixação de conceitos e conteúdos ainda tem sua importância, mas finalmente estamos entendendo que o desenvolvimento das habilidades e competências necessárias à aplicação de conceitos e conteúdos “na prática” é cada vez mais necessária. Diríamos que é urgente, em face da situação da educação pública brasileira, principalmente no ensino médio.
É nesse sentido que o desempenho acadêmico ou profissional do aluno precisa ser melhor mapeado. É chegada a hora de rompermos com a mesmice educacional, no qual formamos alunos preenchedores de formulários, respondedores de provas, mas pouco adaptados à realidade social e às demandas profissionais que estão inseridos.
Em uma educação baseada em conteúdo, o professor torna-se o detentor do conhecimento. Há pouco compartilhamento no método expositivo. Esse modelo conseguiu ser replicado para o EAD tradicional, através de LMS e AVAs que reproduziram e replicaram conteúdos para a tela do computador.
O que estamos querendo dizer é que com a aprendizagem ubíqua via mobile learning este modelo não cabe. É muito mais provável que venhamos a ter uma aprendizagem baseada em recursos do que em conteúdos. A sua geolocalização será importante no processo de aprendizado. A sua capacidade de produzir mídias (vídeos, fotos e textos), bem como a capacidade de compartilhar informação também estão em outra escala, quando comparados à um AVA fechado.
O chamado microlearning, uma das soluções instrucionais para o aprendizado por dispositivos móveis, também precisará sair do empacotamento mínimo de conteúdo para poder gerar avaliações de uso dos recursos, e consequemente, propor uma avaliação de contexto, focada em desempenho.
Se temos uma desconstrução do atual (e cada vez mais obsoleto) modelo educacional, ao mesmo tempo descortinam-se novos e interessantes cenários. Como quis Domenico de Masi, ao propor no começo desse milênio que o trabalho, a educação e o lazer se fundiriam, é possível verificar que a geração Y está muito adaptada a esta nova realidade. Como nativos digitais que são, estão prontos para as novidades, e ávidos por um ambiente educacional onde seja possível uma troca mais rica de experiências.
Enfim, os profissionais de educação, gestores e estrategistas precisarão dessa nova visão da cultura digital. Será cada vez mais necessário avaliar o percurso, o desenvolvimento pessoal e a capacidade de resolver problemas e propor soluções. Provas continuarão a existir, mas não mais como um instrumento burocrático que sistematiza a educação-produto e facilita o trabalho do mestre em avaliar um momento muito particular do aluno. É como se hoje avaliássemos o aluno por uma foto. De fato, a aprendizagem ubíqua fará com que os educadores avaliem o filme todo, não apenas um frame. Não que a educação ubíqua irá salvar o mundo de todos os seus problemas, mas colocará as tecnologias da informação e comunicação à serviço da educação em outro patamar.
Por Daniel Boppré