Nunca fez tanto sentido o trabalho ter algum sentido

Nunca fez tanto sentido o trabalho ter algum sentido

Os millenials estão loucos para sair do mundo corporativo. Enquanto isso, as empresas ainda se apegam a lógicas antigas e têm dificuldade para entender a individualidade dos próprios colaboradores. Como fazer essa conta fechar?

O contexto pandêmico trouxe diversas reflexões e, sem dúvidas, uma delas foi sobre o tempo, uma mudança em como vemos a passagem dele. Se antes nossos planos contemplavam um olhar a longo prazo, agora pensamos em viver plenamente o hoje.

E, convenhamos, nem sempre a rotina diária nos gera muita satisfação. Em muitos casos, é exatamente o contrário: as pessoas se sentem sufocadas e desgostosas com o próprio dia a dia.

Perder a liberdade, passar a viver e trabalhar de forma remota, encarar medos e incertezas quando precisamos enxergar saídas diante de um ambiente volátil, são apenas alguns desafios que enfrentamos nos últimos dois anos.

Uma das consequências desse caos foi o aumento do senso de urgência. A certeza de que não temos o controle da vida, do longo prazo, nos motiva a buscar a felicidade diariamente, ir atrás das realizações possíveis. E o nosso trabalho é parte essencial dessa busca por plenitude.

 

Propósito organizacional é mais do que papo de guru

Nos últimos anos, o desenvolvimento de um propósito organizacional ganhou força estratégica nas empresas. Tem muito guru digital que se aproveita dessa conversa, mas a verdade é que trata-se de uma reflexão essencial para qualquer negócio. O que, afinal, a sua empresa entrega para o mundo, para a sociedade?

 

A busca por lucro é inerente a qualquer empresa – não é propósito, é resultado. A pergunta que vale é: o que sobra da organização se tirarmos o dinheiro da conta? Por que ela existe?

 

Apesar de importante, essa questão ainda não avançou com força no setor automotivo. Em 2021, 14% da alta gestão (diretoria, vice-presidência e presidência) admitiram não dominar o conceito de propósito organizacional, segundo a pesquisa Liderança do Setor Automotivo, realizada por Automotive Business com a coordenação técnica da MHD Consultoria.

O porcentual é pequeno, mas lembre-se de que estamos falando da alta gestão, das pessoas que deveriam guiar as empresas para o futuro, que têm um efeito multiplicador enorme dentro dessas organizações.

Curiosamente, apesar de não ser parte da estratégia da maioria das companhias, mais da metade dos respondentes da pesquisa indicam que sentem-se motivados por algo maior em seu dia a dia de trabalho. É o tal do propósito aparecendo mesmo quando não há esforço da empresa nesse sentido.

A minha única explicação para isso é que a busca por felicidade é inerente às pessoas. Pensar que o nosso trabalho contribui em algo para o mundo nos coloca um passinho mais próximos de alcançar essa plenitude.

 

Os millenials cansaram da lógica corporativa

Desejar uma vida melhor trouxe junto um movimento interessante, especialmente por pessoas entre 30 e 45 anos, os millenials: a Great Resignation. Traduzido para o português a “grande renúncia” refere-se a uma imensa onda de pessoas pedindo demissão porque já não querem retomar o modelo de trabalho que tinham antes da pandemia ou por não gostarem das novas propostas de retomada feitas pelas empresas.

Segundo pesquisa da Harvard Business Review, as demissões de millennials, nos EUA, aumentaram em mais de 20% entre 2020 e 2021. No Brasil, esse grupo também busca uma mudança no mercado de trabalho. Segundo levantamento da Deloitte, 36% dizem que querem sair de seus empregos no próximo ano. Os entrevistados apontam o desejo de canalizar suas energias para ações com propósito e com o objetivo de trazer mudanças em questões sociais que consideram mais importantes.

A pesquisa indica também que o estresse e a ansiedade são constantes no local de trabalho e os esforços das lideranças para apoiar a saúde mental são vistos como inadequados.

A cultura tóxica das companhias, a insegurança dentro da organização, o excesso de pressão e a falta de reconhecimento profissional também contribuem para o aumento do número de pedidos de demissão.

Juntei aqui esses números para mostrar a amplitude do problema. Mas tem outra métrica que talvez você se identifique: quantos amigos e conhecidos dessa geração você conhece que estão em sofrimento por causa do próprio trabalho ou, ainda, enfrentando doenças mentais como burnout e ansiedade por causa da rotina profissional?

Eu, infelizmente, tenho uma série de casos assim ao meu redor.


As empresas estão preparadas?

É curioso notar que, mesmo com toda essa insatisfação, muitas empresas ainda parecem operar dentro da lógica de 20 anos atrás, com rotinas engessadas, que não se adequam às diferentes necessidades das pessoas, muito investimento em employer branding e pouco na jornada desses colaboradores e, por fim, com enorme presença de lideranças tóxicas.

Esse debate, essencial ao setor automotivo, estará no #ABX22 – Automotive Business Experience, evento que promoveremos no dia 8 de setembro e vai reunir todo o ecossistema automotivo e da mobilidade (veja mais aqui).

Lá, queremos entender como as organizações estão trabalhando para acolher novas necessidades de seus funcionários, coisas que afloraram com a pandemia e demandas antigas, que talvez ninguém tivesse a coragem de colocar.

Estudo da PWC, realizado em 2021, diz que 65% dos funcionários estão procurando um novo emprego e 88% dos executivos afirmam que suas empresas estão passando por uma rotatividade maior do que o normal.

A falta de mão de obra já é vista como a razão mais provável para a interrupção nos negócios para 73% dos CEOs, segundo pesquisa feita pela Deloitte com as empresas da Fortune 1000.

Agora, aqui entre nós, o que me dói mais não é o aspecto que abala os negócios, a lucratividade, mas sim o propósito. Alguém aqui acha razoável ter ou trabalhar em uma empresa incapaz de ouvir e absorver as novas necessidades dos próprios colaboradores?

Minha sugestão é abraçar o conceito de succeeding from anywhere, ou sucesso a partir de qualquer lugar, e investir em autonomia, liberdade e escuta ativa para ter equipes mais produtivas e, principalmente, mais felizes.

Alessandro Coelho

Vendas - Comunicação - Análise de mercado - Estratégia - Digital - Negócios - Consultoria - Treinamento - Conexões - Relacionamentos - Parcerias - Soluções

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Paula Braga excelente ponto a ser debatido! Gostei do destaque "A busca por lucro é inerente a qualquer empresa – não é propósito, é resultado" Não é necessário abrir de resultados para atingir a "felicidade", ao contrário.

Celso de Souza e Souza

Professor de Liderança Diferenciada (Differentiated leadership teacher) e Conselheiro para Plenitude da Vida (Counselor for fullness of life).

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Paula Braga convido você a ler o livro Liderança Diferenciada. Caso aceite o convite, envia um e-mail para mim solicitando. Enviarei a versão digital como cortesia. A versão e-book é encontrada na Amazon. celso@liderancadiferenciada.com.br

Fábio Guimarães

LinkedIn Top Voice | Gestão da Engenharia | Gestão Empresarial | Gestão de Contratos & Projetos | Consultoria |

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Em seu livro: Comece Pelo Porque, Simon Sinek explora de forma muito didática, o tema descrito por você em seu post Paula Braga, entreveros entre o que se faz e o porque se faz, são para muitos gestores o santo graal a ser descoberto nas instituições que corajosamente conduzem. Contudo acho que devemos balizar a questão do porque num nível um pouco anterior! Vivemos numa realidade onde o profissional procura o emprego que se encaixe melhor na sua necessidade e não propriamente à sua profissão, isso quando a própria profissão já não foi uma escolha de alma e sim por questões familiares ou somente financeiras. O que gostaria de apontar é que se tivemos uma cultura mais latente de educação e formação de base, despertaríamos ´já em nossas crianças seus verdadeiros talentos e consequentemente suas paixões, assim a escolha da profissão balizaria a escolha da empresa ou do emprego. Assim as empresas naturalmente teriam que ter um conjunto de predicados que seriam comunicantes com os profissionais e consequentemente com seus valores, tornando muito mais prazerosa a experiência laboral. Assim posto os profissionais tenderiam a escolher onde trabalhar e a retenção desses profissionais seria algo menos penoso.

Éder Ayres de Souza

Vendas na Pacaembu Autopeças Ltda

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Excelente!!! Parabéns!!!

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