O conselho consultivo como um instrumento de melhoria da governança corporativa e geração de valor em empresas de capital fechado.

O ponto de partida deste artigo trata do entendimento que Governança Corporativa é a mola mestra para todos os conselhos, seja ele um Conselho Deliberativo ou Consultivo.

Lembrando a definição do IBGC sobre Governança Corporativa: “Sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselheiros, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais stakeholders”

Uma melhor governança deve dar maior transparência e equidade aos processos decisórios, através da prestação de contas da implementação de melhores práticas, visando aumentar o valor da empresa e assegurar sua longevidade, através da responsabilidade corporativa.

No Brasil a chamada “lei das S/A” determina a obrigatoriedade de implantação de um conselho de administração para as empresas de capital aberto. Não existe regulamentação a respeito dos conselhos consultivos. 

Se não há obrigatoriedade, para vários empresários podem surgir algumas dúvidas: como ter uma melhor governança pode me ajudar, por que devo implementar um conselho consultivo? 

Durante as discussões que tivemos neste módulo revisamos vários aspectos que apontam boas razões para se adotar um conselho consultivo. A lista abaixo certamente não é exaustiva:

- O Conselho Consultivo muitas vezes é o primeiro passo dado por empresas fechadas para fomentar a adoção das melhores práticas de Governança Corporativa;

- Ao trazer pessoas experientes e com boa bagagem de negócios, os conselhos consultivos podem aportar complementariedade de conhecimento às empresas, com enriquecimentos das discussões e encaminhamento de sugestões para a diretoria executiva;

- Os conselheiros consultivos podem ser ponte para novos relacionamentos e geração de novas oportunidades de negócio para a empresa;

- O conselho consultivo pode ajudar no encaminhamento de discussões entre os sócios, em caso de pontos de vista divergentes;

- Ter um conselho consultivo pode indicar para o mercado e todos os stakeholders, incluindo potenciais investidores, que a empresa tem um bom modelo de governança e transparência;

- O conselho consultivo pode ser um instrumento de preparação no processo sucessório de uma empresa familiar.

Sem dúvida são aspectos qualitativos que indicam bons motivos para se adotar um conselho consultivo em empresas de capital fechado. Para complementar os aspectos qualitativos, compartilho aqui de maneira resumida 5 estudos que apontam benefícios ao se implementar conselhos consultivos:

- Estudo da Harvard Business Review, "The Power of Advisory Boards", publicado em 2011. O estudo analisou mais de 2.000 empresas de capital fechado nos Estados Unidos e descobriu que as empresas com conselhos consultivos tiveram um desempenho melhor em comparação com empresas sem essas estruturas de governança.

- Estudo da National Bureau of Economic Research (NBER), "Board Composition and Corporate Innovation", publicado em 2017. O estudo apontou que as empresas de capital fechado com conselhos consultivos tiveram um aumento de 17.6% na produtividade em comparação com empresas sem conselho consultivo. O estudo também indicou que as empresas com conselhos consultivos eram mais propensas a investir em pesquisa e desenvolvimento e a desenvolver novos produtos e serviços.

- Estudo da McKinsey & Company, "Board of directors: Increasing the impact of your board", publicado em 2018. O estudo apontou que as empresas com conselhos consultivos eram mais propensas a buscar novas oportunidades de negócios, inovar e desenvolver novos produtos e serviços. Os autores do estudo destacam que os conselhos consultivos oferecem uma perspectiva externa valiosa, trazendo conhecimentos e experiências de fora da empresa e ajudando a empresa a se manter atualizada com as tendências e mudanças no mercado.

- Estudo realizado pela Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), "A influência do conselho consultivo na performance das empresas familiares", publicado em 2018, abordou a adoção de conselhos consultivos em 267 empresas familiares brasileiras. Os resultados da pesquisa mostraram que as empresas familiares que adotaram conselhos consultivos (87 delas, ou 33%) apresentaram um desempenho superior de mais de 25% em termos de rentabilidade, além de crescimento e longevidade em comparação com empresas familiares que não possuíam um conselho consultivo.

- Estudo realizado pela Fundação Instituto de Administração (FIA), em parceria com a Fundação Dom Cabral, "Conselhos consultivos no Brasil: características, desempenho e fatores críticos de sucesso", publicado em 2017. Foram pesquisadas 249 empresas brasileiras de diferentes portes e setores, sendo 125 com conselhos consultivos e 124 sem conselhos consultivos. Os resultados da pesquisa indicaram que as empresas que adotaram conselhos consultivos relataram um melhor desempenho em comparação com as empresas que não possuíam um conselho consultivo. A pesquisa não trouxe dados objetivos do percentual de melhoria.

Em resumo, podemos dizer que a adoção de um conselho consultivo, quando bem implementado, alinhado ao propósito, cultura e valores da empresa, reúne muito potencial para aportar valor a uma organização.

O último comentário fica por conta do como fazer. A adoção de um conselho consultivo deve ser feita com bastante planejamento, entendendo que não é um movimento de “tiro curto” e sim uma jornada de transformação no processo de governança corporativa. Se decidir seguir por esta trilha, é recomendado que o empresário busque auxílio e orientação. A maneira que foi implementada em uma organização, muito raramente poderá ser “copiada e colada” para outra. Os conselhos devem ser “customizados” para o momento e necessidade da empresa.

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