O desafio dos desafios

O desafio dos desafios

No cenário empresarial atual, tenho percebido algumas características, como o crescimento de sua complexidade e o dinamismo, quando o assunto é gestão de pessoas e cultura.

De fato, percebo que esse tem se tornado um dos maiores desafios, tanto para líderes quanto para liderados que almejam uma posição de liderança, pois, por incrível que possa parecer, o verdadeiro desafio não está mais na inovação tecnológica, na conquista de mercados ou mesmo na sustentabilidade financeira a longo prazo, mas sim na capacidade de lidar com as pessoas.

Cabe ressaltar que não estou escrevendo isso com a intenção de dizer que os demais desafios não são importantes, muito pelo contrário. Mas tenho compreendido, pelas recentes experiências — e que se diga de passagem, não são poucas — de interação no mercado com diversas empresas, que essas fazem parte agora de um processo chamado “consequência direta”.

Portanto, neste texto, vou buscar explorar a ideia em relação aos principais obstáculos no mundo empresarial em relação à gestão de pessoas, que estão profundamente enraizados na dinâmica humana universal que sempre esteve presente nas empresas.

 

A contracultura de resultados e seus efeitos adversos

Tradicionalmente, a contracultura é caracterizada como um movimento de resistência contra os valores estabelecidos, sugerindo alternativas e práticas que desafiam o status quo. Dentro do contexto empresarial, o desenvolvimento de uma contracultura específica sinaliza uma mudança significativa de valores, trazendo consigo implicações profundas para a dinâmica organizacional convencional.

Portanto, ao adaptar o conceito de contracultura ao ambiente empresarial, observo uma tendência marcada pela priorização da obtenção de resultados a qualquer custo. Esse enfoque não só é reconhecido por ser um gerador de conflito, mas também um frequente inversor dos valores tradicionais.

Nesse contexto, a incessante demanda por lucratividade e eficiência domina e remodela as práticas virtuosas, promovendo uma inversão de valores na qual o sucesso financeiro e operacional passa a ser valorizado acima do humano.

Tal predominância dessa contracultura cria obstáculos significativos, transformando o ambiente de trabalho saudável e produtivo. Pois aos mudar o centro de gravidade dos valores, as empresas passam a viver o risco de comprometer a confiança interna, a satisfação dos colaboradores e, paradoxalmente, a própria sustentabilidade a longo prazo.

Os efeitos adversos incluem desde o aumento do estresse e da insatisfação entre os colaboradores da empresa até a erosão da lealdade e do comprometimento.

Como consequência direta dessa contracultura, emerge o fenômeno do teatro corporativo, que nesse contexto direto, a empresa se transforma em um palco onde a performance e as aparências são mais valorizadas do que a autenticidade e a verdadeira expressão individual.

O teatro corporativo não é apenas uma metáfora para descrever as dinâmicas superficiais no ambiente de trabalho, é uma realidade palpável onde os colaboradores sentem a necessidade de adotar personagens que se alinhem com as expectativas da alta gestão, muitas vezes à custa de sua integridade e satisfação pessoal.

Que fique claro, enquanto a contracultura de resultados redefinir valores e colocar o sucesso acima do humano, será inevitável que surjam dinâmicas prejudiciais como a do teatro corporativo.

Pois este cenário promove um ciclo vicioso, onde a falta de autenticidade e a ênfase desmedida em resultados comprometem a inovação, a criatividade e a capacidade da organização de se adaptar a mudanças. A longo prazo, o teatro corporativo pode levar a uma desconexão total entre os valores até então cultivados pela empresa e suas melhores práticas, minando a credibilidade tanto interna quanto externamente.

 

A falta de autenticidade

Dentro do cenário delineado pelo teatro corporativo, emerge um obstáculo significativo à inovação e ao crescimento pessoal: o medo de ser autêntico. Este medo, profundamente enraizado na cultura empresarial que valoriza a performance sobre a substância, conduz a uma uniformidade que sufoca a expressão individual e desencoraja o risco.

A autenticidade, essencial para o desenvolvimento de relações de confiança e colaboração, é muitas vezes sacrificada no altar da complacência e do conformismo.

A pressão para se conformar às expectativas, reais ou percebidas, da organização leva os indivíduos a esconderem suas verdadeiras personalidades, opiniões e ideias inovadoras. Este comportamento não só impede o desenvolvimento pessoal, como também priva a organização de uma diversidade de pensamentos que poderia ser a chave para soluções criativas e avanços significativos.

Encorajar a autenticidade no local de trabalho requer uma mudança cultural que começa no topo. Líderes devem dar o exemplo, mostrando vulnerabilidade e abertura para ideias divergentes e aí entramos mais ainda no profundo problema gerado pelo teatro, pois como um líder pode assumir suas dificuldades?

Além disso, políticas e práticas organizacionais deveriam ser revisadas para garantir que aconteça o franco apoio, e não a inibição dos problemas frente a uma questão de aparências, onde a expressão genuína é sacrificada o tempo todo.

Criar um ambiente onde todos os líderes e liderados se sintam seguros para serem eles mesmos, é de fato um passo crítico para desmantelar o teatro corporativo e promover um espaço de trabalho mais saudável e produtivo.

 

A Importância do desenvolvimento contínuo

Confrontar o medo da autenticidade e o teatro corporativo revela a necessidade de colocar o foco no desenvolvimento contínuo tanto de líderes e de liderados. Entendo que o crescimento pessoal e profissional não pode ser visto como um luxo ou uma recompensa, mas como um componente essencial para a construção ou até o reestabelecimento de uma cultura de valores que gere resultados coerentes e consistentes nas empresas.

Reconhecer que todos, independentemente do nível hierárquico, estão em um processo contínuo de aprendizado e evolução é fundamental para construir uma empresa resiliente e adaptável aos diversos mercados que enfrentamos.

Importantes ressaltar que o desenvolvimento que penso aqui de forma contínua vai além de programas de treinamento formais, envolve uma criação de uma cultura de comunicação construtiva, com oportunidades de apoio mútuos e iniciativas de aprendizado coordenadas em consenso.

Esta abordagem não só fortalece as competências individuais, mas também fomenta um ambiente onde o aprendizado é valorizado e compartilhado livremente, pois para cultivar uma cultura que prioriza o desenvolvimento contínua ajuda a combater o estigma associado ao erro ou a falsa sensação de incapacidade.

Com essa prática estabelecida, ao invés de encarar os erros como falhas a serem escondidas, eles serão vistos como oportunidades de aprendizado, fundamentais para a inovação e melhoria contínua. Esta mudança de perspectiva é essencial para sair do ciclo vicioso do teatro corporativo e avançar em direção a uma boa cultura com autenticidade e transparência.

 

O desafio dos desafios

Portanto, na minha visão um dos maiores desafios empresariais do nosso tempo se chama gente. As dinâmicas humanas dentro das organizações são complexas e exigem uma abordagem que vá além da busca por resultados imediatos.

O teatro corporativo, sustentado pela cultura de resultados a qualquer custo e pelo medo de ser autêntico, representa um obstáculo significativo ao desenvolvimento saudável das empresas e dos indivíduos que as compõem e com certeza esse é um dos principais motivos da queda do IDH no Brasil e do baixo índice de produtividade no trabalho.

Superar este desafio requer uma mudança fundamental na forma como as empresas valorizam e tratam seus líderes e liderados, pois para encorajar a autenticidade, promover o desenvolvimento contínuo e desmantelar o teatro corporativo se faz necessário a abertura do espaço de aprendizagem e esses são passos essenciais para criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam valorizadas, não apenas como recursos, mas como seres humanos integrais.

Ao enfrentar esses desafios com especialistas que tenham um conhecimento profundo sobre o tema, coragem e determinação, as empresas podem não apenas melhorar a satisfação e o bem-estar de seus colaboradores, mas também posicionar-se para o sucesso sustentável em um mundo empresarial cada vez mais complexo e interconectado.

Acredito que o futuro pertence às empresas que reconhecem que o seu maior ativo, e desafio, se chama gente.

Por isso que esse texto aborda o complexo desafio de gerir pessoas em um ambiente empresarial que muitas vezes prioriza resultados imediatos em detrimento dos alicerces, bem-estar e desenvolvimento de que gera resultado.

Por isso que costumo afirmar que a única fonte de resultados é gente cuidando de gente o tempo todo, todo o tempo.

Portanto, não deixe de identificar e discutir o impacto do teatro corporativo, o medo de ser autêntico e a importância do desenvolvimento contínuo, para ai sim propor um caminho para a criação de uma cultura organizacional mais saudável e produtiva.


Keine Alves

Líder educador e pesquisador

Excelente texto! Provoca uma reflexão para todos os níveis da organização, desde o membro júnior que busca crescimento até o líder sênior, sobre o que a busca de resultados a "qualquer custo" está fazendo com os relacionamentos corporativos em um tempo onde a vida profissional se mescla cada vez mais com a pessoal fazendo com que esse teatro corporativo (muitas vezes carregado de maquiavelismo) crie relacionamentos rasos, pautados em interesses e sem senso ético, parabéns Keine Alves!

Ricardo Barbosa

Conselheiro e Mentor de Empresas | Inovação e Estratégias de Vendas | Impulsionando o Sucesso por meio do Conhecimento

8 m

Mal posso esperar para ler, parece super interessante! 💼🚀 Keine Alves

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