O FANTASMA DA DEMISSÃO
Essa semana abordo um assunto que considero uma das tarefas mais difíceis na rotina de um gestor: a demissão. Mas como o mundo não é feito somente de ‘flores e amores’, cabe ao líder estar preparado para enfrentar esse desafio.
Eu sempre parto do seguinte princípio: “Se chegamos ao ponto de desligar alguém da nossa equipe, certamente já fizemos tudo o que podíamos para desenvolvê-lo e já lhe demos todos os feedbacks possíveis, para que tivesse a chance de se reposicionar”. Caso essas etapas não tenham sido previamente cumpridas, corremos o risco de caminhar para algo traumático, que poderá causar danos irreversíveis tanto para o colaborador que será desligado, como para a empresa. Você pode ler mais sobre esse assunto no meu artigo “Feedbacks, mas pra quê?”, onde relatei alguns casos desse tipo de desligamento e as consequências dos mesmos.
Precisamos considerar ainda que uma demissão também pode acontecer pela necessidade de reduzir o quadro de colaboradores e em situações como esta, o processo se torna mais simples, mas não menos difícil para as partes.
O que fazer então para realizar essa tarefa com êxito? O primeiro passo é colocar-se no lugar de quem será demitido para ter uma ideia da reação dele e assim optar pela melhor estratégia. Apesar de não ser um momento fácil, é importante que você tenha sempre em mente que esse processo faz parte do mundo Corporativo.
“ Nós empregados temos duas certezas: uma que iremos morrer e a outra que seremos demitidos em algum momento!"Provérbio Popular
Então ‘calçar’ o sapato do outro nesse momento, me parece um excelente ponto de partida.
Eu concordo que é bem melhor contratar do que demitir pessoas. Até o clima dentro da Organização muda quando surgem rumores de possíveis demissões. E não há o que se faça para diminuir o desconforto do colaborador no ato do comunicado oficial da demissão. Sugiro sempre que haja ética, profissionalismo e respeito pela pessoa durante todo o processo, pois desta forma a notícia do desligamento poderá ter um impacto menor.
Aproveito para sugerir que você assista ao filme “Amor sem Escalas”,que traz em seu roteiro conceitos sobre o processo de desligamento de pessoas. No elenco, o ator George Clooney faz o papel do personagem Ryan Bingham, um profissional especializado em demitir pessoas. George Clooney é contratado pelas empresas para executar a tarefa de “demitir” e a faz com maestria. Em nenhum momento ele se deixa levar pela emoção ou qualquer outro sentimento. Agora, se você não tem uma empresa ou um personagem para fazer essa tarefa por você, encare o desafio e siga algumas das minhas dicas, que te ajudarão a se sair tão bem quanto o Ryan.
Quer saber quais são? Então vamos lá...
Faça o comunicado do desligamento durante a semana, no período da manhã e evite as segundas e sextas-feiras. Efetuar uma demissão em véspera de feriado, no último dia de trabalho, antes de iniciar um período de férias, ou no primeiro dia após o retorno também não são boas opções. Após efetuar a demissão, libere o funcionário para ir para casa e se ele quiser se despedir dos colegas de trabalho, permita-o que faça, desde que não haja restrição por parte da empresa.
Escolha o local adequado para realizar a reunião e dê preferência para salas fechadas, assim não haverá a exposição do demitido. Se a sala tiver paredes de vidro, as cortinas devem estar fechadas. Chame a pessoa com naturalidade para esta reunião e, sendo o demitido um funcionário externo, agende a reunião com antecedência e defina como local a própria empresa ou escolha um local na ‘base’ do colaborador.
Sempre que possível, esteja acompanhado de uma pessoa do RH, pois além de servir de testemunha, poderá responder qualquer dúvida sua ou do colaborador, relacionadas ao processo da demissão.
Quando o assunto é demitir, evite rodeios, seja claro e vá direto ao ponto, pois desta maneira você manterá um clima amistoso e finalizará sua missão sem correr o risco de ganhar um inimigo. Lembre-se que a pessoa que você demite hoje poderá trabalhar com um cliente seu amanhã ou ainda voltar a trabalhar contigo numa outra ocasião.
Segurança nas ações
Demonstre segurança em sua fala e em suas ações. Qualquer tipo de hesitação da sua parte neste momento poderá incentivar o demitido a ir além e se sentir à vontade até para questionar a sua decisão. Fale olhando nos olhos do seu colaborador e seja firme. Caso ele queira saber quem foi o responsável pela decisão de demiti-lo, assuma a responsabilidade, mesmo que tenha partido de outra pessoa.
Fundamente sua decisão. Você deve explicar com clareza a causa da demissão, mas seja breve e evite longas explicações ou mesmo discussões com o funcionário. A decisão já foi tomada e quanto mais se falar sobre a causa, maior será o desgaste entre você e seu ex-colaborador. Lembre-se que o demitido estará sob forte efeito emocional e na maioria das vezes não absorverá muitas informações, além do fato propriamente dito.
Embora não seja comum, você pode ser surpreendido com uma postura mais tranquila do seu liderado, ocasião em que ele aceita e demonstra entender a causa da sua demissão. Em situações como essa, é comum ele até te pedir recomendações e dicas para melhorar em empregos futuros. Isso é raro, mas caso aconteça, você poderá usar toda a sua experiência e realizar com ele uma breve sessão de Coaching, orientando-o e dando segurança para que ele siga em frente.
Nunca peça desculpas pela decisão de demitir alguém e jamais elogie a pessoa em excesso no momento do desligamento. Frases como “Desculpe ter que fazer isto…”, “Sei que é injusto, mas…”, “Não queria tomar esta decisão…” ou “Foi um erro te contratar”são proibidas neste momento, porque servirão somente para incentivar mais questionamentos e poderão despertar a ira do demitido. Caso você queira destacar os pontos positivos da pessoa com o intuito de levantar sua autoestima, faça de forma discreta ou terá que explicar novamente porque optou pelo desligamento do mesmo.
Jamais se deixe levar pela emoção para que a situação não saia do seu controle. Seja como George Clooneyno filme: “profissionalismo acima de tudo!”
E por fim, aborde os próximos passos do processo de desligamento, ou seja, trate das questões burocráticas, como entrega de chaves, equipamentos, exames médicos, data prevista para a homologação, etc. Ao despedirem-se, deseje-o boa sorte e deixe seus contatos para uma eventual necessidade.
Se você já teve que desligar alguém do seu time, sabe o quanto isso pode ser complicado. Aliás, a maioria dos gestores concordaria em dizer que dispensar um funcionário é uma experiência ruim para todos os envolvidos. Ninguém gosta de fazer isso, mas há situações em que se faz necessário, como já relatei.
O segredo está em “saber como agir” na hora, evitar que a decisão saia do âmbito profissional e passe a ser considerada pessoal. Se o líder perder esse “time” a empresa correrá o risco de enfrentar uma demanda trabalhista por parte do ex-colaborador. Estudos apontam que grande parte dos processos trabalhistas são motivados pela maneira como foi conduzido o ato de desligamento e não por descontentamento de quem saiu da empresa.
Esteja preparado
Não há diferenças por conta do ‘tempo de casa’ do funcionário, pouco importa se ele trabalha há anos ou apenas meses ali. Não existe uma receita pronta de como fazer ou um sentimento pré-formatado para essa situação. Cada pessoa age de uma forma e não devemos tentar adivinhar a reação do outro ao receber a notícia. O importante é estar preparado para lidar com todos os tipos de situações que poderão surgir no momento, seja qual forem.
Seja paciente, perseverante e cumpra o seu papel de líder! Estou certo que se sairá muito bem!
Gerente Operações Sênior | Controladoria | FP&A | Compliance
6 aMuito bom 👏🏼