O livro que tod@ C-Level em Tech no Brasil deveria ler
Antes de mais nada, usei o "C-level" ali em cima só para dar mais "peso" no título e chamar a atenção.
Acredito que todo mundo que trabalha em uma empresa tech de alto crescimento deveria conhecer este livro. E só restrinjo a tech porque é o setor que trabalho há anos.
Sendo mais preciso, diria que qualquer pessoa em uma empresa de alto crescimento vai se identificar com o que este livro traz.
Porque crescer rápido é bom, mas caótico e ainda não temos bons playbooks para gerenciar as crises que vem com o crescimento.
Aqui estou falando de crescimento em receita, tamanho da empresa e do impacto daquela organização no mundo.
Ah e uma premissa que tenho, que só reforça o porque de gostar tanto desse livro:
Crescer por crescer é legal, mas pode ser passageiro. Impacto de verdade é criar negócios perenes, que cresçam por muuuuuito tempo
Acabando com o mistério: o livro se chama "A Mentalidade do Fundador".
O livro dá direções simples para lidar com o desafio de ser uma empresa com escala e ágil. O melhor da startup e o melhor da big corp, que tem muita escala.
Escrito por dois sócios da Bain & Co, que olharam para elementos em comum entre empresas que consistentemente eram melhores do que a concorrência. Gerando muito mais valor, retendo melhor os talentos e muito mais prontas para mudanças na indústria do que outros players
Analisando um grupo específico de empresas em várias indústrias, concluíram que causas internas eram as responsáveis por 90%das empresas que não cresciam.
Problemas Previsíveis
Essas causas estavam relacionadas a momentos de transição para essas empresas.
Crises do crescimento que acometem a todos que veem algum sucesso inicial. Mas que são as maiores oportunidades para criação ou destruição de valor no longo prazo.
E, por isso, saber identificar e lidar com essas crises é o "Santo Graal" para construir negócios perenes e que continuam a crescer.
Tá, mas por que é tão bom?
O senso comum é: "empresa cresceu, bora profissionalizar a gestão"(se você já ouviu ou falou isso, presta muita atenção agora)
Se essa gestão é pensando em processos, projetos e departamentos, tá errado.
A principal mensagem que fica pra mim é "empresa cresceu, temos uma gestão profissional da cultura? Temos entendimento claro do que faz a gente ser diferente? Isso está entranhado no dia a dia?".
E porque eu me importo com isso?
Vi situações que já vivi em outras empresas. Especialmente nessas transições em estágios de crescimento. Tem sempre uns "solavancos" no resultado, no clima e na cultura.
Cada um vai resolvendo como acha que faz mais sentido. Tem conselhos diversos e um passado "saudoso" de quando a empresa ainda era uma startup. Mas pouquíssimas pessoas têm vivência de pegar empresas nesses momentos de transição.
Esse livro foi a coisa mais próxima que já vi de um playbook para lidar com essas dores e continuar/voltar a crescer.
E, pessoalmente, odeio potencial desperdiçado.
De uma forma visceral até. É uma das poucas coisas que me tira do sério.
Sabendo lidar com as crises do crescimento, teríamos mais empresas excelentes e perenes. Mais gente trabalhando em lugares assim e se desenvolvendo. E mais impacto positivo no mundo.
Então vamos lá!
Esse "resumo" é longo mesmo..salva ai e vai lendo aos poucos. Ou compra o livro logo e me fala o que achou. É curtíssimo.
Premissas
Mentalidade do Fundador
Três aspectos da cultura e dos sistemas de gestão da empresa se destacam entre as companhias que conseguiram o melhor dos dois mundos (escala x agilidade).
Essas três dimensões são comuns entre startups e normalmente estão por trás do sucesso inicial. Na pesquisa foi mais comum ver isso em negócios que escalaram e continuaram lideradas pelos fundadores. Por isso o nome.
1. Missão Insurgente (Insurgency)
Aqui a melhor figura de linguagem é a de uma guerra.
Guerra para criar um novo mercado ou para mudar um já existente. E o motivo dessa guerra sempre passa por um cliente mal atendido ou uma necessidade emergente.
Um exemplo que ele usa é o de uma rede de supermercados chinesa.
Surgiram vendo uma oportunidade de atender melhor "a mãe chinesa", por terem uma cadeia logística melhor integrada com produtores do que a concorrência. O que garantia preço e qualidade.
Essa "missão ousada" tem que ser reafirmada diariamente e é o grande combustível de todo o resto.
Junto com a missão temos spikeness:
Pra essa empresa chinesa era a gestão da cadeia logística.
Então eles tinham que manter um pulso firme nisso enquanto a empresa profissionalizava. Porque cada executivo que vinha de fora poderia ter a agenda para o "RH perfeito" ou o "marketing em estado da arte", mas os principais recursos iriam sempre para a gestão da cadeia logística. E o resto teria que dar suporte a esse foco.
Junto com o spikeness (talvez na contra-mão) temos a visão de horizonte ilimitado:
A partir da missão ousada e do spikeness em competências-chave, ir "alargando" o core.
Um bom exemplo é o de uma empresa nigeriana que começou comercializando castanhas de caju.
Desenvolveram competências em logística e, a partir dessas competências, conseguiram expandir o core para novos produtos, regiões e etapas do processo produtivo. Ao longo do caminho focaram em ser excelentes nas competências (existentes ou novas) que fizessem a diferença pra realizar a missão e continuar a "guerra" para servir melhor o cliente.
Uma reflexão interessante sobre essa empresa nigeriana é que, na superfície, era uma questão de competência em logística. Mas no detalhe mesmo, era um diferencial na cultura. Na forma como essa empresa integrava gestores com produtores e valorizava essa relação.
2. Obsessão com a Linha de frente
Na equipe fundadora você vai ter os primeiros desenvolvedores e vendedores da empresa.
Essas pessoas têm um profundo interesse nos detalhes da operação. Enxergam mais nuances no "front" do negócio do que o olho destreinado.
Customer Advocacy
Em primeiro lugar, essas emprestas têm customer advocacy. Em resumo, colocam a lealdade do cliente como prioridade do topo ao "chão da operação".
É estratégia e impacta a rotina de quem está "na trincheira"
Com NPS sendo uma métrica de importância para a alta direção e essa preocupação se desdobrando em treinamentos e recursos para a linha de frente.
Também dando tempo e criando momentos para que esses times possam aprender e experimentar entre si.
Empoderamento da Linha de Frente
Quem melhor resume isso é a Luiza Trajano, da Magazine Luiza. Ao afirmar que a pessoa que toca a loja é o rei ou rainha da companhia. A empresa inteira tem que direcionar esforços pra que essas pessoas tenham todas as informações e recursos que precisam. Porque são os principais veículos de realização da missão.
Essa afirmação tem que ser traduzida em ações que ajudem o trabalho dessas pessoas e que gerem uma visibilidade dentro da companhia. Na magazine luiza os heróis não são os "estrategistas" que ficam no escritório, mas sim os "executores" na linha de frente.
Experimentação
Com isso, temos uma agilidade maior e mais experimentação ali na linha de frente. Assim fica mais fácil de pensar qual a próxima aposta para "alargar" o core. Porque a inovação vem para resolver uma dor do cliente e seguir cumprindo a missão insurgente.
3. Cabeça de Dono
Aqui talvez seja o mais fácil de captar pela expressão:
Dono que é dono gasta o dinheiro da companhia como se fosse seu e gosta de ver "as coisas acontecendo" (ao invés de só ficar na conversa ou limitado em "burocra")
O desafio é ter isso na cultura e sistemas da empresa.
Eles falam bastante do exemplo da AB Inbev, o orçamento base zero e todo o trabalho de gerar responsabilidade pessoal em todas as pessoas da companhia.
Não é algo citado pelos autores, mas entendo que a cultura de partnership tem um protagonismo forte nisso. Essa ideia, que é mega central na cultura 3G, bate muito em vender a ideia de ser sócio da companhia. Como caminho de:
A preocupação com custos e caixa se manifesta, especialmente na preocupação com o unit economics e em crescer com qualidade.
Em relação a flexibilidade com burocracia temos como algo positivo colaboradores que lutam contra procedimentos ou sistemas que os impeçam de resolver o problema de clientes. Em diversos cenários é preciso celebrar essas pessoas.
E o viés pra ação se manifesta na contratação de pessoas com esse viés (especialmente os "rebeldes" e misfits vindos de grandes empresas ao invés dos "acomodados") e na preocupação com a forma como as lideranças tomam decisões e executam. Outro aspecto importante é o uso da "reunião de segunda", prática usada em algumas empresas para levantar e aniquilar semanalmente burocracias que dificultem a vida dos empreendedores internos.
Um resumo visual do Founder´s Mentality
As três crises
Quando se trata de empresas novas existe um caminho bem comum.
Ter poucos recursos, mas ser super ágil e centrado no cliente. A partir daí, evoluir para uma companhia com muita escala e pouca agilidade.
Existem negócios que conseguem o melhor dos dois mundos. Mas isso requer que se gerencie a mentalidade do fundador como um ativo.
Em cada um desses quadrantes existem forças que "empurram" a insurgente para se tornar uma grande e lenta empresa. Assim como outras forças que levam essa grande a empresa a estagnar e diminuir ao longo do tempo.
Até o ponto em que essa "ex-rebelde" não colhe os beneficios de escala ou agilidade centrada no cliente.
São várias as causas e o livro entra mais no detalhe, mas alguns destaques:
Overload
Transição de startup para empresa.
A empresa "se provou", conseguiu product market fit e está escalando. O crescimento é uma constante e o otimismo é generalizado.
Recomendados pelo LinkedIn
A maioria "morre" na etapa de validação de produto e canais. E é fácil achar que a batalha está ganha, que agora é "só profissionalizar a gestão" ou que contratar vai ser simples.
Sintomas e Evidências
Causas
Tratamento
Stall Out
É uma desaceleração repentina e parece só um "acidente de percurso".
Momento super sensível e que, se não bem tratado, pode criar vulnerabilidade a uma queda livre.
Sintomas e Evidências
Causas
Mais do que um concorrente ou mudança de mercado, a causa mais provável é complexidade interna.
Tratamento
Aqui temos dois padrões entre as empresas bem sucedidas.
Um é de focar no "core do core", entendendo e reforçando a diferenciação do modelo de negócio que gerou o sucesso inicial da companhia.
Respondendo a pergunta: quem são nossos maiores promotores? Por que? O que fazemos que empolga esses promotores?
Outro padrão envolve reviver a mentalidade do fundador. Normalmente focando mais em uma das dimensões do que nas três ao mesmo tempo. Vamos transformar isso em um passo a passo:
Se não pratica o OBZ, agora é a hora! Também é uma boa pedida passar um pente fino em ativos e negócios que não façam sentido, tendo em vista o core. Pensando em processos, vale a cada mês eliminar o que é excessivo em termos de report, controle e padronização.
2. Aplicar esses recursos no core e na linha de frente.
Auto-explicativo.
A partir daqui vale seguir a opção que fizer mais sentido:
2.1) Redescobrir a missão insurgente
Voltar a discutir a missão, cultura e usar algumas das práticas citadas anteriormente.
2.2) Renovar a obsessão com a linha de frente
"Desenterrar" práticas e histórias do passado que coloquem o pessoal da linha de frente no centro de tudo. Além de tornar cada um dos membros da empresa "donos" de um pedacinho da operação. A simplificação de custos e processos também ajuda muito nisso.
O exemplo de "resgate" usado no livro é o da 3M, que passou por uma desaceleração e buscou no passado a chave para sair dessa:
2.3) Reativar a cabeça de dono dentro da empresa
Aqui a chave é ter "mini fundadores" ou intraempreendedores populando a empresa. Tem como fazer isso de diversas formas. Algumas ideias:
Queda Livre
Onde o filho chora e a mãe não vê
Aqui o risco de sobrevivência da companhia é real e a sensação é de que existem problemas críticos no externo, assim como no interno.
O próprio modelo de negócios corre o risco de deixar de ter a relevância de outrora.
Sintomas e Evidências
Causas
Riscos
Importante avaliar o quão vulnerável a empresa está em relação a uma queda livre. Perder a mentalidade de fundador já cria uma vulnerabilidade, mas os riscos virando realidade é que deflagram a crise.
Os 3 principais riscos:
O melhor exemplo é o da faculdades que oferecem EaD e presencial. O crescimento do EaD implica em mudanças na cadeia de valor do ensino, assim como na redução do ticket médio.
3. Modelo de Negócio novo que resolve o mesmo problema que você, mas melhor e/ou mais barato. - Netflix (streaming contratado em recorrência) X Blockbuster (aluguel de dvds)
Tratamento
Aqui o buraco é mais embaixo do que no stall out.
Precisamos reviver a mentalidade do fundador atacando as três frentes e não dá para ser incremental.
Os autores defendem que uma nova equipe na alta gestão pode injetar ânimo e uma perspectiva mais orientada a futuro. Os exemplos deles sempre envolvem empresas de capital aberto, que mudaram a pessoa CEO e essa CEO mudou grande parte do quadro de executivos.
2. Focar no "core do core"
O mote é "encolher para crescer" ao cortar ativos e negócios que só geram complexidade. Assim você gera caixa e reinveste em tudo do core que pode ser "replicável". Porque a partir daí você consegue expandir para novos negócios a partir destes elementos replicáveis
Exemplo da LEGO: que vendeu sede, unidades de negócio que não faziam sentido e simplificaram a operação do core business. Diminuíram a variedade de peças e reconstruíram a estratégia do negócio a partir disso.
3. Redefinir a insurgência
Por "redefinir a insurgência" se entende um dos seguintes caminhos:
4. Investir pesado em uma nova capacidade
Praticamente todas as empresas que conseguiram reverter uma queda livre precisaram adquirir uma competência nova.
Super comum citar a Kodak como exemplo de empresa que fracassou neste tipo de crise. Mas, no mesmo setor, tivemos empresas que conseguiram se adaptar e sobreviver. Fujifilm e Leica abraçaram a fotografia digital. Cada uma, ao seu modo, conquistou novas capacidades.
Outro exemplo é a Apple, que adquiriu competências em gestão de direitos digitais. Também temos a Netflix, que hoje consegue produzir conteúdo dentro do seu marketplace.
5. Extra: fechar o capital ou parceria com um private equity
Fechar o capital ajuda uma empresa a tirar um pouco o foco nos resultados trimestrais e em ficar "toureando" investidores.
Uma parceria com empresa de private equity pode ajudar com recursos e expertise para renovar as competências essenciais.
Boas firmas de private equity, como 3G, GP e Bain Capital têm um histórico de transformar empresas grandes e ineficientes.
Plano de Ação para Insurgência com Escala
Cada um desses blocos contém diversas possibilidades de práticas para restaurar ou manter a mentalidade de fundador. E o que priorizar vai depender da realidade de cada companhia.
Mas o essencial é lembrar de:
7. Além do livro anterior desses autores, "Modelos Replicáveis" (Repeatability). Que bate bastante em entender esse "spikeness", traduzir isso em todos os níveis do negócio e pensar como expandir o core.
Diagnóstico e Recursos Interessantes
Diagnóstico em menos de 5min sobre qual estágio está a sua empresa
Gerente de Marketing na PM3
3 aQue resumo rico, Arthur Napoleão, está favoritado! Muitas provocações interessantes e que me trouxeram alguns insights. Obrigado por compartilhar.
Chief Marketing Officer @ CapTable Brasil | Captação de recursos e investimentos
3 alevei uns dias pra parar e ler tudo, mas valeu muito a pena! obrigado pela resenha, agora vou atrás do livro hehe
Ajudo Empresas em suas Jornadas de Transformação a Desenvolverem os seus Negócios com foco em Crescimento Sustentável e Inovação | Cloud Growth Journey
3 aArthur Napoleão obrigado por compartilhar seus aprendizados sobre o livro! Eu confesso que já havia visto este livro em algum artigo da Endeavor de indicação de livros para Scale ups mas não dei tanta atenção! Confesso que agora fiquei bem tentado a comprá- lo depois deste belo resumo! Além deste quais livros você indicaria pensando no mesmo (cenário de startups e Scale ups) lidando com a dor do crescimento e precisando construir playbooks e etc?
Growth Marketing | Data Engineer | Data Analyst
3 aSensacional! Li esse livro por indicação sua e achei muito interessante. Artigo tá super completo! 👏
Chief Marketing Office (CMO) | Strategic Leader | Speaker I Co-author of the 1st book about Product Marketing in Brazil: Product Marketing Essencial is out now! 📘🇧🇷
3 aQue bela curadoria, Arthur Napoleão! Passei o olho por cima e vi muita coisa boa. O seu texto veio parar aqui no Discord da Cursos PM3 até. rs Adicionei na minha lista de leitura para mais tarde. Obrigado por esta contribuição, a comunidade agradece!