O MULTIVERSO DAS FEIRINHAS, O TECIDO SOCIAL E UMA AULA DE MARKETING
Se tem uma coisa emocionante e que te ensina demais são as feirinhas. Sim, essas que acontecem em uma praça ou escola, nos finais de semana a noite. Elas devem ter surgido porque permitiam a venda da produção doméstica de um grupo qualquer, ligado a economia criativa.
Rapidamente se tornaram espaços de integração da comunidade, opções de lazer para as famílias, espaços de manifestação cultural para a comunidade e agora uma das principais opções de renda, para quem empreende em casa.
Artesanato, bijuterias, alguns tipos de calcados, roupas e opções de comida são o kit básico. Com a queda da renda, houve um grande aumento da oferta via esse canal. Novos segmentos estão participando, como o de brechós, de plantas, decoração do lar, produtos colecionáveis.
Várias tribos se juntam em uma feira.
GRANDES APREDIZADOS
Houve um tempo que fiz meus bicos em feirinhas. Vendinha uma pulseirinha, produção própria, com barbantes coloridos, que eram uma febre na época. Em outros momentos vendi camisetas que eu mesmo pintava. Nunca esqueço da ansiedade de cada evento desses.
Afinal você é um micróbio, no contexto economico, mas está desesperadamente precisando fazer dinheiro. Você definiu o produto, comprou insumos. Fez a produção e cuidou da logística. Daí você monta sua barraquinha e a ansiedade por alguém se interessa é enorme. Tem vezes que você não vende nada. Tem vezes que você vende bem (mas nunca você vende tudo...)
Junto com você há outros, todos com a mesma ansiedade. A cada minuto decorrido e a cada atendimento não fechado você procura aprender rapidamente, para mudar a abordagem no atendimento seguinte. Que alegria quando acontece uma venda. Mas é no final de tudo, já muito cansado, quando você tem que cuidar de organizar tudo para voltar para a casa, que voe faz suas contas pra saber se valeu a pena ou não.
É muito esforço emocional e físico em busca de um resultado e as vezes do certo, outras não. É preciso ser muito resiliente...
Mas novas possibilidades surgiram, desde as experiencia que vivi (lá pela década de 80). Hoje você pode transformar a feirinha em vitória, mesmo que não venda o que precisa. Hoje temos as vendas sociais, e ganhar seguidores é uma conquista, afinal, a melhor forma de vendas é a indicação e ninguém melhor para nos indicar que os nossos seguidores.
Eles tambem podem gerar encomendas. Quando interagem com as postagens, eles nos animam e motivam a inovar e a lançar novos produtos.
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Ainda há a possibilidade de ganhos atraves de parcerias e aproximações, que fazemos a cada participação em uma feirinha. Em geral, as pessoas participam em várias feirinhas, em locais diferentes, ao longo do mês. E assim como era nos primórdios, ter uma rede de contatos é bom para saber aonde está indo bem e onde não está. Para saber sobre novidades que dão certo e sobre boas práticas que outros estão fazendo para poder delas se beneficiar tambem. É a cocriarão de conhecimento!
Muita coisa do que faço hoje tem suas raízes em aprendizados tirados da minha época de feirinha, e no trabalho de desenvolvimento territorial, essa é uma ação chave, pois atinge e impacta diretamente os grupos que queremos beneficiar.
UM AMBIENTE FEMININO, SEM SEXISMO...
Observando o público, visitando as barraquinhas, você percebe quase sempre uma combinação onde uma mulher (vendedora e produtora) está falando com uma cliente (uma ou mais mulheres).
Essa conversa acaba indo muito além dos produtos e abrange assuntos impensáveis. Algo muito pouco ligado ao universo masculino, mas racional e talvez mais bem simbolizado pelo autosserviço.
De volta aos primórdios, nossas tribos ancestrais se reuniam de tempos em tempos, para a troca de sementes e de outros produtos pre manufaturados. Essa atividade era essencialmente feminina e propiciava ganhos materiais para cada grupo e uma grande conquista de conhecimento e informações, sem o que, cada comunidade teria muito mais dificuldade de sobreviver.
Em tempos em que a renda cresceu um pouquinho, mas a incerteza econômica cresceu mais (pelo alto endividamento público, guerras e violência social), temos enfrentado um grande desafio com vendas em quase todas as cadeias. Muito disso ainda é potencializado pela grande crise de endividamento dos consumidores.
A chave para superar isso é tornar pessoal. É tornar mais útil. É criar indulgencia. É tornar local. É tornar único. E é tudo isso que a feirinha faz!
Augusto Aki – Consultor