O perigo das pessoas bem-intencionadas

Nos últimos dias tenho ouvidos inúmeros relatos dos meus clientes de coaching, sobre opiniões, conselhos e sugestões de pessoas “bem-intencionadas”, sobre diversos fatos de suas vidas. É tentador opinar e sugestionar na vida alheia. A minha observação é: por que não usamos esta mesma expertise na nossa própria vida? A atriz Glória Pires virou meme quando na cerimônia do Oscar de 2016, imortalizou a frase “não sou capaz de opinar”. Seria salutar essa atitude de “GLÓRIA” nos dias atuais.

São pessoas “bem-intencionadas” que nos relatam sobre comentários maledicentes a nosso respeito, provocando em nós um extremo mal-estar, fragilizando ainda mais a nossa relação com o outro. Estas mesmas pessoas nos informam quando os ex mudaram de status social ou foi visto em algum lugar, relembrando em nós o quase esquecido. Em alguns momentos, este saber produz muito mais regressão do que evolução.

São pessoas “bem-intencionadas” que nos desencorajam de prestar um concurso, quando insistem no pressuposto das cartas marcadas, na concorrência acirrada, na complexidade da matéria, no pequeno número de vagas. São estas que nos desestimulam a uma promoção, que reforçam nas entrelinhas as nossas fragilidades e incompetências. Mudanças paralisadas, projetos engavetados, sonhos neutralizados pela confiança que depositamos no ponto de vista que só cabe ao observador, e não ao executor da decisão.

São pessoas “bem-intencionadas” que nos conservam na infelicidade de um relacionamento fracassado, nos instigando a tolerar o intolerável, a perdoar o imperdoável; nos convencendo da nossa incapacidade de novamente sermos amados e desejados. São essas pessoas que nos apontam a escassez de pessoas bacanas, disponíveis e interessantes, desconsiderando por completo que cotidianamente surgem novos casais nos bares e nos altares.  

A gloriosidade da Glória Pires foi de se abster de conteúdos que ela não domina, de não opinar em assuntos desconhecidos, de não ser precipitar em falar sobre fatos obscuros, de assumir publicamente o não saber sobre temas que, para carreira e para aquele, momento pareceriam óbvios.

Atente-se para o perigo das pessoas “bem-intencionadas”, porque estas boas intenções não ficaram restritas apenas ao inferno. 

Texto originalmente publicado em www.bedsenrocha.com.br