O problema do fingimento do sucesso
Pela manhã, Pedro publica um post no LinkedIn com uma imagem motivacional e um texto impactante: “Hoje, na minha jornada como especialista em transformação digital, enfrentei um grande desafio ao alinhar a estratégia de um cliente com os KPIs do mercado global. Felizmente, minha equipe e eu conseguimos resultados impressionantes, mostrando que a dedicação e o foco sempre vencem.”
Os comentários e reações começam a chegar. Pessoas se dizem inspiradas, admiradas pela clareza e sucesso que Pedro transmite. Mas ele sabe que o "desafio" que mencionou foi, na verdade, um projeto mal conduzido que gerou mais dúvidas do que resultados, e que a “equipe”, na verdade, resolveu a situação sem a sua liderança direta.
Durante o dia, Pedro interage com contatos estratégicos por mensagens privadas. Ele elabora uma narrativa diferente, mais técnica, tentando demonstrar alinhamento com as tendências do mercado. “O post de hoje realmente reflete nossa abordagem estratégica, você viu?” — Escreve para um potencial parceiro. Pedro mede cada palavra, tentando soar mais influente do que realmente é, enquanto sente que está constantemente improvisando.
No final do dia, sozinho, Pedro olha para o LinkedIn e se sente exausto. O feed está cheio de notificações, mas ele não sente a satisfação que esperava. Ele se pergunta: “Será que estou indo na direção certa? Essa exposição vale a pena?” Para se tranquilizar, Pedro relembra os comentários positivos e a validação pública, mas sabe que sua imagem idealizada não reflete seu verdadeiro nível de conhecimento e experiência. Ele percebe que está preso em um ciclo de esforço constante para manter uma narrativa que, um dia, pode desmoronar.
É válido o esforço extenuante do fingimento? Será que ele impacta a formação de uma personalidade (pessoal e profissional) sólida?
Vivemos num tempo onde o jogo de aparências tornou-se a regra, e a verdade sobre si foi relegada à periferia da consciência. Entretanto, o que a sociedade frequentemente negligencia é que esse fingimento sistemático impõe um esforço psico-intelectual triplo, fragmentando o indivíduo e condenando-o a uma existência de insegurança e superficialidade.
Quando alguém se entrega ao fingimento, entra inevitavelmente em um jogo perigoso. Essa prática requer três discursos simultâneos:
Essas três camadas de discurso operam simultaneamente e em constante tensão, demandando uma energia psíquica descomunal para manter a coerência. É um jogo insustentável no longo prazo, que não apenas mina a saúde mental, mas também destrói qualquer chance de construir uma personalidade sólida e íntegra.
Isso gera não só uma dissociação da personalidade, mas uma fragilidade moral. Aquela marca inconfundível de quem vive no fingimento. Não se trata apenas de uma debilidade ética, mas de uma profunda confusão ontológica sobre quem somos.
O fingidor acredita que sua personalidade é apenas o reflexo das expectativas externas, mas esse é um erro fatal. A personalidade não é nada estático ou dado, mas um projeto contínuo, um trabalho ativo que exige coragem, sinceridade e disciplina.
O problema aqui é que, ao priorizar o fingimento, o indivíduo se fecha às possibilidades de transformação genuína. Ele se torna escravo de suas projeções e acaba confundindo-as com a realidade. Como resultado, qualquer tentativa de reforma ou crescimento será necessariamente superficial, porque está baseada em um eu ilusório, e não naquilo que ele verdadeiramente é.
Se quisermos enfrentar o problema do fingimento, precisamos construir o que chamo de uma camada intelectual honesta e um olhar pessoal sério. Essa camada não é apenas um conjunto de ideias, mas um alicerce firme sobre o qual podemos edificar nossas vidas. E aqui está o ponto central: essa camada deve ser transparente e sincera.
A sinceridade não é apenas uma virtude moral; é uma ferramenta cognitiva indispensável. Quando somos sinceros conosco mesmos, nos libertamos das camadas de autoengano que obscurecem nossa visão. Isso nos permite enxergar tanto nossas fraquezas quanto nossas forças, e é a partir desse reconhecimento que podemos crescer.
Aristóteles já dizia que o homem verdadeiramente virtuoso é aquele que alinha seus pensamentos, palavras e ações. Isto é, a unidade do que somos. Sem essa unidade interior, somos como folhas ao vento, movidos por impulsos externos e incapazes de traçar nosso próprio caminho. Ou seja, vivemos numa moralidade plástica, numa ética situacional e numa incoerência de identidade.
O pior ainda está por vir. Chegamos, portanto, a um dos equívocos mais comuns: a ideia de que a personalidade é algo inescapável, um destino fixo. Isso não é verdade.
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A personalidade é tanto aquilo que somos neste momento quanto aquilo que podemos nos tornar. E isso muda tudo.
Pensar a personalidade como um projeto ativo nos dá a liberdade de moldá-la, de transformá-la. Isso, no entanto, exige um compromisso radical com a verdade e com o esforço constante de aperfeiçoamento. Não se trata de buscar uma perfeição inalcançável, mas de caminhar na direção de um ideal mais elevado, guiado por valores sólidos e por um profundo respeito à realidade.
O combate ao fingimento não é fácil. Ele começa com uma decisão consciente de romper com as ilusões e encarar a realidade, por mais desconfortável que ela seja. Sem um conhecimento profundo de si mesmo, qualquer esforço será como construir uma casa sobre a areia. É preciso sondar as camadas mais profundas da personalidade, compreender nossos medos, ambições e contradições.
A mente humana tem uma tendência natural ao autoengano. Para superar isso, precisamos cultivar a disciplina de pensar criticamente e de examinar nossas crenças e ações à luz da razão. Enfrentar a verdade sobre si exige coragem. Não é fácil admitir nossas falhas ou reconhecer que construímos uma vida sobre bases frágeis. Mas essa coragem é a chave para a verdadeira transformação.
O fingimento estrutural é uma armadilha que aprisiona o indivíduo em uma existência fragmentada e superficial. Para superá-lo, precisamos resgatar a sinceridade como valor central, construir uma camada intelectual e pessoal sólida e assumir a personalidade como um projeto ativo. Esse é o único caminho para uma vida autêntica, onde a unidade entre pensamento, palavra e ação se torna não apenas um ideal, mas uma realidade.
"fake it till you make it" é a maior mentira.
A ilusão de sucesso é mais pesada do que o fracasso real. Fingir sucesso exige a construção de uma narrativa artificial que demanda esforço constante para ser mantida. Enquanto o fracasso real pode ser uma oportunidade de aprendizado e ajuste, o fingimento aprisiona o indivíduo em uma falsa realidade, onde cada ação deve sustentar a aparência de vitória.
O custo emocional e mental é alto: medo de ser desmascarado, ansiedade para atender expectativas irreais e desconexão com a própria essência. Reconhecer o fracasso como parte do processo é infinitamente mais libertador do que perpetuar uma mentira.
O sucesso verdadeiro começa onde termina a necessidade de fingir. O fingimento é uma barreira que impede o indivíduo de investir energia no crescimento real. Ele desvia recursos emocionais e intelectuais para sustentar aparências, em vez de fomentar desenvolvimento genuíno.
Quando deixamos de fingir, aceitamos nossas limitações e começamos a trabalhar com autenticidade, construindo resultados sustentáveis. Sucesso verdadeiro não é um estado estático ou uma imagem a ser exibida, mas um processo de evolução que só ocorre quando nos alinhamos com a realidade.
Fingir sucesso é plantar sementes de insegurança. Cada ato de fingimento cria uma base instável que pode desmoronar a qualquer momento. Isso gera um ciclo de ansiedade, onde o medo de ser descoberto alimenta novas camadas de fingimento. Essa prática não apenas mina a confiança dos outros no indivíduo, mas, pior, destrói sua própria autoconfiança. A segurança emocional e intelectual só é possível quando construímos nossas realizações sobre bases firmes, mesmo que humildes. A autenticidade, embora menos glamorosa no início, é a única estrutura que resiste ao tempo.
No nível psicológico, a verdade organiza sua psique. Ao falar e viver a verdade, você integra as partes fragmentadas de si. Você deixa de ser dividido entre o que aparenta ser e o que realmente é. No nível social, a verdade constrói confiança, a base de todas as relações significativas.
Se quisermos romper com o ciclo do fingimento e construir vidas mais significativas, precisamos encarar a verdade como nosso norte. A personalidade não é algo fixo ou inescapável; é um trabalho contínuo, ativo e deliberado.
A escolha está em nossas mãos: continuar jogando o jogo da fragmentação ou começar a construir uma vida de unidade e integridade. Afinal, como dizia Aristóteles, "Somos aquilo que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito."
Adquira o hábito da verdade. Se não conseguir sempre, tente o máximo. A verdade é mais do que um conjunto de fatos. Ela é uma força fundamental que sustenta o mundo, dá sentido à existência e organiza o caos que constantemente ameaça nos engolir. Falar a verdade não é apenas uma questão moral ou ética; é uma prática transformadora, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.
Mergulhe na arte do storytelling aprendendo mais num curso completo ou me deixando te ajudar a transformar a história do seu negócio, na prática, a maneira como sua marca é percebida, sentida e lembrada. Porque no final, as melhores marcas são aquelas que contam as melhores histórias.
@lealmurillo | Jornalista | Top Voice LinkedIn | Storytelling e Conteúdo
Account Manager de Marcas para Marketing de Influência
2 semMurillo Leal seu artigo aborda de maneira brilhante a complexidade e os efeitos devastadores do fingimento de sucesso. É fundamental entendermos que a sinceridade não é apenas uma virtude moral, mas também uma ferramenta para a construção de conexões verdadeiras e duradouras, tanto na vida pessoal quanto profissional. Quando nos permitimos ser autênticos, não apenas aliviamos a carga emocional e mental, como também construímos uma base sólida de confiança e engajamento com nosso público. O cérebro humano é altamente receptivo à sinceridade e à transparência, criando um vínculo emocional mais profundo e uma lealdade genuína. Este artigo nos desafia a refletir: quantas vezes nos deixamos levar pelo "fake it till you make it" em nossas vidas? E, mais importante, como podemos começar a construir uma narrativa autêntica que realmente reflita quem somos e o que queremos alcançar. Parabéns pelo trabalho!
Estrategista de Comunicação | Palestrante | Educador | Conselheiro FCamara | TOP 1% em Comunicação do LinkedIn Brasil | N° 1 LinkedIn Top Voices | 110k alunos no LinkedIn Learning | Ipsos Reputation Council | TEDxSpeaker
3 semEu adorei!
Mestre e Doutorando em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, LinkedIn Top Voice e Creator, Consultor de customer experience, mídia, cultura, reputação e transformação digital, Professor, Jornalista
3 semMeu amigo Murillo Leal, isso me dá UMA PREGUIÇA IMENSA! E ainda por cima as pessoas fazem isso tão mal...!
Ótimo texto!
Professora /magistério, técnica em hotelaria/ hospitality management, Soror Rosacruz , mãe e avó,
3 semCara! Gostei. Vai tentar ter dúvida honesta. Tenta enxergar algum detalhe e apontá-lo. Tenta não ser fofinho. Se o negócio é ganhar " likes" tem que seguir o gosto do algoritmo. Se não for, bota a cara a tapas porque no final você encontra pelo menos meia dúzia que acorda.