O que aprendi com os lixeiros
Dias desses estava caminhando nas ruas do bairro onde moro. Não faço isso com a frequência com que gostaria – e precisaria... – mas já corto minha autocrítica com o pensamento de que um pouco já é melhor do que nada.
Meu bairro tem ruas planas paralelas, cortadas por ruas íngremes, também paralelas; quase um jogo da velha ampliado e inclinado.
Estava eu em uma dessas subidas, quando escuto o barulho de um caminhão – olho para trás e lá vem o caminhão do lixo. Apertei o passo com a (iludida) intenção de andar mais rápido para o caminhão não me alcançar, o que logicamente não aconteceu.
Então lá veio ele, barulhento e malcheiroso. O caminhão passou por mim, avançava e parava, e de forma inevitável comecei a observar o trabalho dos lixeiros.
Minha inicial contrariedade se transformou em curiosidade.
E com a postura de curiosidade que acompanha necessariamente o trabalho de uma coach fui acompanhando os movimentos daqueles homens, em uma manhã de muito calor.
O motorista avança com o caminhão, devagar, até um ponto de coleta; os homens vêm correndo atrás. Pegam sacos, caixas, o que for, correm até o caminhão, jogam na caçamba e voltam à calçada. Fazem isso sem interrupção.
Quando alguém deixa cair alguma das coisas que está carregando, rapidamente um colega atento vem recolher e leva ao caminhão.
Se um dos pontos de coleta está muito cheio, um deles assobia e o caminhão diminui a velocidade; um ou dois correm para ajudar o companheiro que parou primeiro. Era muita coisa para um só homem dar conta sozinho sem que o caminhão perdesse seu ritmo e prazo.
Não fica nada para trás: cada um vai para um lado da rua, vão cobrindo todos os pontos.
Não fica ninguém para trás: se alguém se atrasa ou se atrapalha, logo aparece ajuda, logo o caminhão diminui a velocidade.
Quando terminam o trecho, sobem rapidamente na traseira do caminhão. Se cumprimentam com as mãos, e o caminhão acelera até o próximo quarteirão.
Não falam. A comunicação não é verbal (no máximo uns gritos de alerta!...). E no entanto, o entrosamento é perfeito!
Minha curiosidade então se transformou em admiração.
Perseverança, esforço, companheirismo, dinamismo, entrosamento, comprometimento com o resultado, motivação, engajamento, sintonia, atenção, sincronia, concentração, reconhecimento (mútuo).
Que tal essas características na sua equipe? Está bom para você?
Pude perceber tudo isso naqueles poucos minutos em que acompanhei o trabalho daqueles homens.
No calor, debaixo de sol, com uma remuneração certamente aquém das necessidades, em um ambiente malcheiroso, em uma profissão quase invisível - e quando não invisível, desvalorizada (lembram? eu queria escapar do caminhão!) - o que eu vi foi o seguinte: uma equipe de alta performance.
No site da Endeavour há uma definição de uma equipe de alta performance: “é aquela que demonstra elevada competência e destacado grau de comprometimento. São pessoas realmente alinhadas, que tem em comum valores, visão, objetivos e engajamento”.
E o que eu aprendi com os lixeiros naquele dia?
Que muito mais do que “condições perfeitas” ou ideais de trabalho, são necessários comportamentos e atitudes para se ter uma equipe que desempenhe e entregue resultado.
São necessários indivíduos que vejam valor no próprio trabalho, que o façam com entusiasmo e engajamento, que apoiem uns aos outros, que comemorem os resultados.
Fácil? Não necessariamente. Mas absolutamente possível.
Meu respeito aos lixeiros. Meu agradecimento. Espero encontrá-los novamente pelas ruas!
Desenvolvimento Humano e Organizacional
6 aAdorei seu texto Re. Mostra sua sensibilidade e atenção com as pessoas.