O que aprendi com Silvio Santos
Eu li a biografia desse gênio há alguns anos, mas sabe como é, né?
O tempo sempre escasso, a mania insistente de procrastinar, e aquela impressão de que as pessoas que admiramos continuarão por aí.
Só que o destino tem sua própria agenda e resolveu levar esse monstro sagrado no último sábado.
Ainda bem que foi no sábado, porque nem o impassível destino teria a audácia de levá-lo no domingo.
Pois bem, falar dessa lenda não é nada fácil. Mas eu preciso, pelo menos, tentar rabiscar a minha homenagem.
Eu, que cresci numa família pobre, ficando bastante tempo sozinho porque minha velha precisava trabalhar, fiz da TV uma amiga de todas as horas (ainda lembro da TV de tubo, preta e branca, de 14 polegadas).
O cardápio de canais era bastante recheado: Globo, SBT e Manchete. E só.
De dia, me revezava entre Xuxa, Angélica, Mara Maravilha... Depois, TV Colosso, Eliana, Sérgio Mallandro, e por aí vai...
De noite, despachava a velha para assistir à novela na vizinha, enquanto reunia a galera para assistir Os Cavaleiros do Zodíaco...
Mas a programação do SBT tinha um lugar especial.
Chaves era unanimidade onde eu cresci. Chapolin era legal, mas Chaves era obrigatório.
Durante a semana, rolava, Passa ou Repassa, Programa Livre... E ainda tinha Dragon Ball sábado de manhã.
Mas domingo, não tinha jeito. Depois de jogar bola e perambular durante o dia e voltar para casa puxado pela orelha, era sentar no sofá e assistir ao Domingo Legal e ao Programa Silvio Santos.
E ainda tinha o Topa Tudo por Dinheiro, Qual é a Música, Show do Milhão... E a expectativa de ficar rico com a Tele Sena... 👀
Aliás, meu primeiro trabalho forçado foi conferir as cartelas da Tele Sena para minha mãe. Como ela se redimiu fazendo pipoca e cavaco, resolvi não denunciar.
Mas vamos falar do Homem do Baú.
A primeira grande lição que aprendi é que qualquer um pode vencer na vida e ter sucesso com trabalho duro e persistência, mas, se você conseguir descobrir o seu dom, a tarefa fica “muito mais fácil”.
Mas não basta trabalhar com algo que ama e sabe fazer. Seja qual for o seu ofício, no fim do dia, somos todos vendedores, e, para ter sucesso vendendo a sua ideia, é preciso empacotá-la conforme o gosto do seu público.
O carisma de Silvio Santos dispensa comentários e certamente é um dos segredos do seu sucesso. Mas sua jogada de mestre foi descobrir o que o público queria.
Ele diminuiu a distância entre a TV e o povo. Mais do que isso, colocou o povão como protagonista do espetáculo e, ao compartilhar os holofotes, brilhou ainda mais.
Falando de empreendedorismo, duas lições atemporais me marcaram.
A primeira é que a forma mais fácil de ter sucesso em um negócio é resolvendo problemas. Encarar pepinos que dão trabalho e que ninguém quer traz grandes oportunidades.
A segunda é que correr riscos é essencial. Se puder ser de forma calculada, melhor. Mas o certo é que não dá para ter sucesso nos negócios sem correr riscos.
Silvio assumiu o problemático Baú da Felicidade do amigo Manuel da Nóbrega, arrumou a casa e o transformou em uma mina de ouro.
Anos antes, havia enxergado uma oportunidade na enfadonha travessia da balsa entre Rio e Niterói e fez o seu primeiro grande negócio, entretendo as pessoas e vendendo produtos.
á reconhecido no Rio, quando a oportunidade surgiu, não perdeu tempo e se mandou para São Paulo. Disputou concessões de canais de TV com a cara e a coragem e conseguiu montar sua própria emissora.
Poderia ter ficado na Globo e ganhado milhões, no “confortável” papel de apresentador. Mas sabia que a oportunidade mora na “encrenca” e confiou na sua intuição para assumir os riscos necessários. O resto é história.
E a sua capacidade de improvisar?
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Dez horas de programa, sem ensaio? Mudar a programação no meio do caminho? Responder à programação da concorrência em tempo real? Negociar com o sequestrador?
O homem dava nó em pingo d’água.
Silvio nos ensinou que humildade não é um estado social, e sim um estado de espírito.
É claro que há correlação com a pobreza, mas não causalidade. O homem que tinha tudo para “ter um rei na barriga” esbanjava simplicidade, simpatia e humildade.
E o que falar da sua liderança?
É fato conhecido que muitas pessoas talentosas em seu ofício não conseguem repetir o sucesso ao trocar o chapéu de técnico pelo de gestor.
Silvio conseguiu realizar essa metamorfose diariamente como poucos. O apresentador e comunicador extraordinário tinha um faro aguçado para negócios e para pessoas.
Sabia reconhecer talentos, desenvolvê-los e, o que é mais extraordinário, sabia reconhecer a hora de deixá-los voar.
Quantas pessoas ele ajudou? Quantos talentos ele lançou? Quantos, nem tão talentosos, mas que trabalhavam duro e contribuíam, ele manteve, ajudando-os a melhorar?
Quantos artistas ele não apenas liberou para a Globo, mas aconselhou a ir para lá? Quantos não recebeu de volta com os braços abertos?
Pare pra pensar: isso é muito fod@! Não à toa vimos tanta gente falando de gratidão nos últimos dias.
Não apenas gratidão, justiça também.
O empresário Senor Abravanel era pragmático, justo e sincero. Ideias sem fundamento não prosperavam; denúncias sem provas eram ignoradas; pedidos com mérito eram atendidos.
Silvio mostrou que honestidade compensa.
Passou pelo seu momento mais difícil como empresário, a fraude no Banco Panamericano, com honradez, focando em resolver o problema, em vez de apontar culpados ou procurar desculpas.
Em um mundo onde tudo é efêmero e a mentira é valorizada, ele mostrou que a reputação ainda é inestimável e que vale a pena lapidá-la, no melhor estilo "devagar e sempre".
Finalmente, Silvio nos lembrou insistentemente da importância da alegria. Ele apresentou, empreendeu, criou, mudou... e fez de tudo, sempre com um sorriso no rosto e um jeito bonachão que conquistou um país que tem a mania de esquecer a sua essência.
Perfeito? Ninguém é. Mas, na conta da vida, seu saldo positivo é incomensurável e seu legado, inefável.
Ele amou o Brasil e os brasileiros, como escreveu sua família, mas, acima de tudo, soube entendê-los e diverti-los.
Talvez por isso ele tenha furado uma bolha de antipatia que poucos conseguiram.
Ganhar dinheiro e ter sucesso no Brasil costuma ser uma maldição. Em vez de aplaudir os que venceram e aprender as suas lições, costumamos execrá-los, como se a prosperidade fosse algo sujo e pecaminoso.
Não me pergunte o porquê.
Mas, assim como Niemeyer, Ayrton Senna e Pelé, seu brilho foi tão intenso que conseguiu dissipar essa nuvem negra.
Não poderia ser diferente.
Desejo que o Sr. Senor Abravanel descanse em paz, porque o nosso Silvio Santos estará sempre em nossos corações.
Afinal, do mundo não se leva nada; vamos sorrir e cantar.
🎤🎉💚
Pequeno empresário na Agg variedades
4 mBem pertinente sua mensagem! Gostei,sabias palavras.