O que a Assessoria de Imprensa e meu joelho tem a ver?

O que a Assessoria de Imprensa e meu joelho tem a ver?

Um dia desses, depois de me empolgar na esteira, senti uma leve dorzinha no joelho. Mas isso não é nada comparado ao calvário que passei há alguns anos. Em 2014, comecei a correr, animada pela esposa do meu irmão que era praticamente uma maratonista. Não estava obesa. Mas uns quilinhos a mais me incomodavam (quem me conhece sabe que lá em 2008, cheguei perto de 3 casas na balança). E via tanta gente viciada na corrida que me arrisquei. Comprei um tênis próprio para a atividade e comecei a rotina, depois de 15 dias da cunhada me dando orientações e correndo comigo. 

Correr era maravilhoso. Estava viciada. Do que vivi até agora, foi a atividade que mais me trouxe adrenalina. Trabalhava de forma presencial e saia pontualmente às 18 horas (se não tivesse nenhuma ocorrência, claro), mas às 17 eu já tinha trocado o uniforme pela roupa de corrida e começava a contar os minutos. E corria todos os dias (mesmo ouvindo que precisava descansar um dia). Não conseguia ficar sem. TPM? Nessa época nem tinha. Peso? Não diminuiu drasticamente, mas estava tranquilo. Logo conheci grupos de corrida e me encantava com um universo de pessoas que entendiam a minha “nova” paixão pela corrida. 

Não demorou muito (depois de um ano do primeiro trotinho) e eu já estava nas competições de corrida de rua. Lembro bem que via muita gente com mais de 60 me ultrapassando. Resolvi que tinha que acelerar o passo e fui. Claro que ao final de um ano dessa jornada insana de querer me comparar a quem, mesmo com 60 anos, já corria há décadas, já não suportava a dor e o inchaço no joelho. Diagnóstico: condromalacia patelar grau 3. Cartilagem zero e o osso cheio de fissuras. Mal podia andar. Foram 90 (NOVENTA) sessões de fisio, mais outras tantas de reabilitação e uma tristeza sem fim. Só agora, em 2021, depois de um ano fazendo Pilates e agora praticando musculação, consigo caminhar distâncias maiores, mas ainda não me arrisquei a voltar a correr. 

E o que a Assessoria de Imprensa tem a ver com o meu joelho, afinal? Quando comecei a correr, ignorei que precisava de fortalecimento muscular, e não sabia que a falta de preparo poderia me levar a esse caminho (ou me fazer parar de seguir qualquer caminho que fosse). Parece banal, mas na estrada da Assessoria de Imprensa é praticamente a mesma coisa. Tem muita gente que quer se aventurar no meio acreditando que a vivência vai trazer o conhecimento para atuar bem na área. A vivência ajuda, mas se você não tiver preparo nenhum, já te digo: pare e vai buscar formação, curso, conversas com colegas experientes mas não saia correndo por aí acreditando que assessoria é só ligar para uma redação e enviar o release para a turma. O mais recente fato envolvendo profissionais da área (a atuação impensada da assessoria da cantora Marília Mendonça) prova que se não tiver estrutura emocional e preparo diante de uma crise, seu trabalho todo, desde o início da sua caminhada, pode ser colocado em cheque. *Em tempo: a assessora se justificou alegando que divulgou informações “oficiais” repassadas por uma fonte confiável (o produtor da cantora).

Aliás, notou aí que escrevi “estrutura emocional”? Que me perdoem os psicólogos se o termo está errado. Na verdade tem a ver com inteligência emocional. Diante de uma crise é normal tremer as bases, mas foi a minha formação que me ensinou, antes de viver uma crise (que por sinal foram várias - um dia volto aqui para contar) que era preciso ter cabeça fria e responder, ao menos, um “vou buscar essa informação e já te posiciono”. Lembro bem que em uma entrevista de emprego (eu já tinha mais de 10 anos na área), em uma rodada de entrevistas de avaliação de perfil com outros concorrentes, a psicóloga que coordenou o momento testou nossa habilidade de trabalhar sob pressão. Era uma entrevista para um cargo em que eu sabia, de antemão, (e a vivência só comprovou que era bem maior do que eu imaginava) que teria de administrar crises o tempo todo. Ter passado por outras crises (homéricas também) me ensinou a manter a calma (e até uma frieza) de, antes de explodir, analisar o cenário e não sair respondendo às pressas, mesmo diante da pressão da redação. Afinal, o jornalista e a sociedade merecem saber dos fatos. O problema é COMO você vai levar os fatos. Não se trata de omissão ou enrolação. É saber a FORMA como você vai responder à crise. Uma nota ou posicionamento mal pensado e tudo pode virar uma avalanche ainda maior. 

E quando eu falo em preparo em Assessoria de Imprensa não digo apenas em situações de crise. Obviamente são situações que exigem isso. Mas a preparação é para uma atuação no dia-a-dia. É saber elaborar bem um texto (a redação pode não ter tempo de melhorar o que você escreveu - quer espaço gratuito? Então, facilite o trabalho do repórter), é ter relacionamento com a imprensa, é planejar divulgações para não entupir a caixa de email dos colegas, é estar disponível o tempo todo, é, ainda, atuar com outros públicos e outras mídias, afinal, muitos clientes já escolhem entre mandar um release ou fazer uma ação de divulgação com a imprensa ou com influenciadores.  

Não disse lá atrás, mas a cartilagem do meu joelho nunca mais irá voltar. A tal da condromalácia não vai diminuir o grau. Mas é o fortalecimento muscular que me permite, aos poucos, seguir no meu sonho de voltar a correr. Agora, diferente do meu joelho, sua carreira na área pode não ter um futuro tão promissor se você não buscar preparo de imediato. Formação, cursos (não só o da Faculdade, ok?), bate papo com colegas, networking e estudo de casos podem te ajudar nessa jornada. Diante disso, repense seu próximo passo.

Hellen Quida

Jornalista | Social Media Manager | Consultora em Marketing Político Digital | Palestrante

3 a

Que delícia de texto! Quanta coisa boa você tem a compartilhar! Alta capacidade de nos fazer refletir de forma ampla. Parabéns Lu, você já está virando aquelas que não nascem, estréiam!

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