O sabor agridoce da desmobilização
Uma reflexão sobre o impulso por “sentir-se essencial”
Na última semana de trabalho em minha mais recente empregadora. Fiquei meditando a respeito da expressão “profissional essencial”. Foram meses frenéticos de modelagem de metodologias, elaboração de controles, levantamento de informações, estudo detalhado de projetos, memoriais, definindo equipe da força de trabalho necessária para realizar o empreendimento mais importante da indústria química da Bahia em 2019. Onde erros não podem ser admitidos dadas consequências catastróficas que podem gerar.
Contratado a “toque de caixa” para participar da equipe de planejamento numa das principais empreiteiras participantes do empreendimento. Para alguém habituado a procurar grandes empreendimentos para participar e assim, aprender um pouco mais e ter grandes histórias para contar. O sentimento ao ingressar naquela multinacional foi motivo de orgulho.
Após portfólio de 46 projetos concluído com êxito. Os quase mil funcionários contratados são desmobilizados. Missão cumprida para eles! Cada colaborador parte para sua cidade com novas experiências e histórias para contar aos amigos, familiares e próximos colegas de trabalho. Apenas um pequeno grupo de trabalho permanece na empresa para continuar nos serviços de rotina. As peças do jogo voltam para seu lugar de origem e os que possuem “cadeira cativa” retomam seus postos.
Figura 1 Dia de desmobilização. Dia de glória para uns, dia angustiante para outros
Neste momento, o sentimento agridoce de esperar que alguém da empresa vá a ti e diga: -Você vai permanecer no quadro, pois “você é essencial”. Se mistura com a certeza de dever cumprido... Agora siga em frente.
Esta mescla de emoções, certamente comuns aos profissionais da área de gerenciamento de projetos. Já que a natureza da profissão escolhida envolve acompanhar os ciclos de vida de seus projetos/portfólios. E junto com eles, muitas vezes. Encerrar sua jornada dentro da empresa em que colaborou. Mas é inevitável que a algumas empresas e grupos de trabalho, se crie um vínculo profissional de sobremaneira favorável. Que desejariam ficar mais algum tempo juntos para mais uma rodada de projetos.
Em meio a este rompante de emoções, expectativas, certeza de cumprimento das atribuições que competem a função que desenvolvo. Lembrei de um episódio confortante ocorrido há vinte anos quando estava servindo como missionário voluntário na Amazônia. O tempo regimental deste serviço era de vinte e quatro meses. Porém, eventualmente o presidente desta missão convidava alguns missionários a permanecerem por mais um mês com propósitos diversos.
Figura 2 Autor do artigo (à Direita) Abaetetuba-Pa Nov. 1999
Como observador, percebia que eram mantidos por mais um mês. Aqueles que tinham sido notáveis missionários. Apesar de serem de uma organização em cujo propósito é justamente desapegar-se do impulso egoísta de buscar reconhecimento pessoal por seus feitos. A permanência por aqueles trinta dias gerava nos demais (não em todos) a sensação de que “este (a) missionário (a) é indispensável para a missão”.Naturalmente senti o impulso de ser notado como indispensável. Por considerar-me à época dotado de muitos atributos que me qualificariam para tal. Quando faltavam dois meses para concluir o período de missão, conversei com ele tentando não demonstrar um interesse egoísta. Disse: -Presidente, se caso precisar de mim por mais um mês, que seja... Estou disponível.
Esperando um elogio meloso, um reconhecimento ao trabalho ou atributo pessoal. Mas principalmente, no íntimo pretendia o status implícito de “ser essencial”.
Contrariando minhas expectativas, o experiente ex-executivo, fitou-me firme nos olhos e disse: -Um mês a mais não fará diferença. Se você deu tudo que tinha que dar. Não precisará de mais um mês para sentir que cumpriu honrosamente sua missão.
Não sei se deixei sutilmente evidente meu desejo de obter status com aquele prolongamento da missão ou se ele interpretou algum sinal de que eu pretendia “correr atrás do prejuízo” com aquele pedido. Ou até mesmo. Se aquela era sua forma de dizer que estava satisfeito com o trabalho que fiz até então. Fato é que desde então, pedir para ficar após o cumprimento de uma missão deixou de fazer parte de meu repertório. Apesar de ainda haver uma chama do desejo de ser considerado indispensável a este ou àquele contratante. É necessário lidar com o fim de cada empreendimento como o fim de uma missão honrosamente cumprida. Principalmente se esta foi um sucesso como as que tenho encarado na área de gerenciamento de projetos.
Talvez esta história tem acontecido em sua vida. E como lidar com estas emoções?
- Seja ágil em compreender a cultura organizacional e adeque-se a ela o quanto antes em cada contrato que participar;
- Crie relacionamentos saudáveis e duráveis no ambiente de trabalho (você dependerá deles);
- Compreenda a natureza de sua função. Você é substituível, mesmo sendo essencial o trabalho que realiza;
- Tenha expectativas realistas sobre cada contrato que participa;
- Não aja como se todo contrato fosse durar para sempre;
- Não trabalhe em clima de despedida (nenhum gestor gosta de mercenários);
- Durante o contrato. Faça seu melhor e permita que os outros saibam quanto está empenhado (a) no trabalho e você sabe realiza-lo com primazia;
- Aprenda a lidar com naturalidade ao fim dos projetos e contratos que participa;
- Seu marketing pessoal nunca para. A hora de sair também é a hora de deixar uma ótima impressão a seus colegas e contratante. Seja gentil e cortês com todos;
- Não sufoque suas emoções. Você não é uma máquina, muito menos um ator/atriz.
Seja feliz com a missão que receba em cada contratante, seja feliz em sua profissão. Ser essencial a uma organização não é primordial. Essencial é ser lembrado (a) pela virtuosidade pessoal e profissional que novo contrato e empreendimento surgirão para mais uma rodada de emoções.
Supervisor de Planejamento de Obras na RIP Serviços Industrias - KAEFER
5 aExcelente Lenisson Xavier, Show!!'
TÉCNICO DE MANUTENÇÃO
5 aSer essencial é ser lembrado, pela pessoa e profissional que somos!!! Muito bom!!!
Engenheiro | Coordenador | Analista | Planejamento | BI | PMO
5 aShow Lenisson! 👍🏿