O tema Smart City nos eventos: análise crítica
Torre de Babel.

O tema Smart City nos eventos: análise crítica

O que a sua empresa pode oferecer de soluções para o Município de Palhoça?

Esta foi uma das perguntas que fiz durante o Smart City Business Brazil que aconteceu nesta última semana em São Paulo. Tenho estudado muito sobre cidades inteligentes e não poderia perder um evento deste porte. Primeiro, por que tenho inúmeras dúvidas sobre o tema e ainda é difícil encontrar boas fontes de informação; segundo, pois eventos assim abrem minha mente para novas ideias, oxigena meus planos e me anima demais! E por fim, pois queria entender como o mercado está se organizando para atender as demandas que estão surgindo nos Municípios.

Além das visitas aos estandes, parei para ver algumas palestras e debates que estavam acontecendo ao mesmo tempo. Muitas temáticas de encher os olhos, discussões importantíssimas, temas que necessitam de debate urgente. Consegui absorver vários pontos que enriqueceram meu conhecimento sobre o tema. Somando as conversas com as empresas e as apresentações, cheguei a algumas conclusões a partir da perspectiva de gestora pública que eu gostaria de compartilhar aqui neste espaço.

  • Não há consenso sobre o conceito de cidades inteligentes: ficou evidente que existem muitas definições distintas para cidades inteligentes. E as definições em alguns momentos chegam a se contradizer! Existe uma linha muito clara onde a tecnologia é o centro da definição e existe outras linhas que a incluem apenas como suporte. Ouvi também uma terceira linha onde a tecnologia sequer foi mencionada! O que me deixou um tanto quanto surpresa. A questão é que sem o mínimo entendimento do conceito, é claro que as soluções aparecem de várias formas e sem um foco claro;
  • O mercado ainda está com dificuldades para entrar no setor público: apesar de ver várias soluções incríveis, quando questionava se haviam exemplos de contratos com o setor público a resposta era quase sempre negativa. Muitas empresas estão se estruturando para migrar suas tecnologias para este segmento de cidades, mas claramente ainda sem adesão de nossa parte. Eu vejo várias razões para isso, mas deixarei para o próximo artigo;
  • As cidades ainda sofrem com deficiência de infraestrutura básica: qualquer Prefeito que dispõe de recursos escassos vai privilegiar os investimentos em infraestrutura viária, saneamento básico ou revitalização de espaços púbicos. Infelizmente ainda é uma ruptura incluir tecnologia para a cidade na agenda pública e é completamente compreensível. Apesar de ser um caminho sem volta, o setor público ainda sofrerá um delay em relação ao setor privado na adesão das soluções;
  • Vivemos de cases! Esta foi uma frase de um palestrante que me fez refletir muito. O tema cidades inteligentes ainda é tratado como cases isolados, pequenas iniciativas ou aberturas de parques tecnológicos. Não existe uma política pública concisa e estruturante que direciona os Municípios a criarem suas próprias estratégias. Confundem-se iniciativas de mundo digital com tornar uma cidade inteligente. Em resumo: muito debate com pouco foco.

Este meu resumo da percepção pode não ser consenso entre os demais presentes no evento, tão menos verdade absoluta! Mas tenho certeza que os tópicos merecem uma reflexão profunda por aqueles que querem atuar no campo das cidades inteligentes, tanto aos gestores públicos (que ainda precisam estudar os conceitos básicos relacionados à tecnologia), quanto as empresas que estão atuando nesse nicho. Que sejamos críticos para compreender que ainda somos ignorantes no tema e que ainda existe um caminho longo e árduo pela frente.


Daniele Esteves

Location Tech│Sales Tech│ B2B Partnerships│ B2B Product & Sales

5 a

Muito interessante a reflexão.  O termo "Smart City" de fato está se tornando um jargão e nem sempre há clareza do que se quer dizer. Do lado das empresas, há um discurso muito segmentado pelo tipo da solução inteligente oferecida: para energia, saneamento, mobilidade etc, e obviamente, na tentativa de vender suas soluções, talvez elas pequem em focar na tecnologia envolvida nas suas soluções mais do que no benefício que geram para as cidades e seus cidadãos. A mim me parece que o maior desafio das cidades é entender esse quebra-cabeça de ofertas de soluções e delas conseguir filtrar o que faz sentido para sua cidade independente da complexidade da tecnologia envolvida. 

Marcos Weiss , PhD.

Enterprise Executive Consultant | CTO | Smart Cities Expert and Researcher | Lecturer & Professor | MICTMR

5 a

Excelente reflexão e compartilho das impressões. A questão é que o tema tem se conformado como uma "buzzword" para alavancar alguns interesses que não necessariamente têm a cidade como foco (o foco é outro). Ao ver, ler e conhecer alguns planos estratégicos de TI de algumas cidades, fico me perguntando se a professora lá daquela escola de periferia vai conseguir trabalhar mais e melhor por conta de tantos sensores que a cidade pretende instalar. Ou mesmo se o cidadão que depende do sistema público de saúde não terá que voltar para casa depois de ter esperado meses para uma consulta e ao chegar ao posto de atendimento vê que sua tão esperada consulta foi cancelada. Cidade inteligente não é sobre sensores, é sobre pessoas.

Daniel Laper

Senior Director of Sales, Marketing and Business Development | Head of Business Unit | New Business & Digital Transformation

5 a

Cristina Schwinden Schmidt, boa reflexão.

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