O valor da diferença

O valor da diferença

Todos vimos Usain Bolt vencer a final dos 100 metros rasos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em apenas 9s81. Pergunto: alguém lembra o nome do segundo colocado? Qual foi o seu tempo? Sabiam que ele fez o tempo de 9s89, ou seja, apenas 8 centésimos de segundo a menos? A diferença entre o americano Justin Gattin e Bolt vale milhões de dólares em patrocínios, fama e reputação. Isso sem mencionar a obscuridade do terceiro colocado, o canadense Andre de Grasse, que ficou apenas 2 centésimos de segundo atrás de Gattin, também subindo no pódio. 

Os exemplos dos esportes, mais uma vez, podem ser levados para o mercado de trabalho. Às vezes, ouço histórias de pessoas insatisfeitas por trabalhar em empresas não meritocráticas. Em tais organizações, os donos ou os gestores promovem pessoas por critérios subjetivos, aparentemente injustos. Escuto queixas, também, de pessoas maltratadas por seu chefe e de profissionais que trabalham em condições inadequadas ou ambientes excessivamente políticos, nos quais prevalece, por exemplo, a bajulação no lugar da competência. Há os que falam de empresas com péssima cultura ou da falta de oportunidades de crescimento. Diante desse universo de reclamações, sempre tenho vontade de indagar ao profissional: por que, afinal, você trabalha nessa empresa?

Acredito que a falta de atitude dessas pessoas se deva a dois motivos: ou são muito passivas e acomodadas diante das situações que mencionei ou não vislumbram uma alternativa melhor. A consequência disso é se tornar mais um, num mundo onde todos caminham para ser cada vez mais iguais. No entanto, com o excesso de informações, as pessoas leem as mesmas coisas (quando leem) e compartilham mensagens de WhatsApp sem preocupação com a credibilidade de sua procedência. Fora do mundo virtual, adotam atalhos éticos, nivelam-se pelos demais, buscando alcançar o êxito pelo menor esforço. Outros até escolhem faculdades medíocres para sua formação, por serem “fáceis de passar”.

Infelizmente, essas pessoas serão sempre iguais às demais, porque não estão dispostas a buscar a “milha extra” para conseguir se destacar. A consequente desvalorização desses profissionais pode ser explicada por um simples gráfico microeconômico de oferta e demanda: quando há excesso de oferta de pessoas com as mesmas características, é inevitável que a sua atratividade para o mercado e o seu valor (preço em economia) caiam.  Se não é diferente, o valor e as oportunidades do profissional diminuem substancialmente.

A boa notícia é que todos nós temos oportunidades de nos diferenciar. Para isso, é preciso estar disposto a inovar e desenvolver comportamentos que a maior parte das pessoas, inexplicavelmente, não está empenhada em fazer. Estou falando de garra, de realizar projetos do começo até o fim, do senso crítico ao receber, analisar e repassar informações, da disposição para trabalhar a sua personalidade e estilo de liderança para maior eficácia. Incluo aqui também a vontade constante de aprender coisas novas e da humildade de observar, se inspirando em modelos bem-sucedidos de outras pessoas que lhe parecem interessantes.

Um profissional pode também se destacar buscando trabalhos, mercados e até geografias onde a concorrência seja menor. Lembro-me de quando analisava as alternativas ao sair do MBA em Stanford. Se tivesse optado por empreender no Vale do Silício ou trabalhar em Investment Banking em Nova Iorque, enfrentaria a concorrência de centenas de outros iguais ou melhores do que eu. Aceitei voltar ao Brasil e empreender em educação no Nordeste, opção que não atraiu muitos da minha turma.

Em entrevistas, sempre pergunto: você está disposto a crescer? A resposta é quase sempre o sim. Apesar disso, a verdade é que nem todos estão prontos a “pagar o preço”. É como perguntar se uma pessoa deseja estar em boa forma. Dizer que sim nem sempre significa disposição para malhar e ir à academia com a disciplina que o projeto exige. A estratégia de diferenciação é bastante peculiar para cada carreira e, apesar de não existirem fórmulas prontas, ter a vontade de crescer é o primeiro passo, pois o sucesso requer empenho e muito esforço.

Hoje, na gestão da Adtalem Educacional do Brasil, prefiro contratar profissionais cheios de garra e vontade e que, em breve, começarão a exigir “pista” para crescer. Nesse caso, a gestão de carreira passa a ser invertida, pois somos nós que precisaremos criar oportunidades para manter engajados esses talentos em nossa organização.

Por que não maximizar as oportunidades nessa vida? Por que não assumir o controle do nosso destino, ao invés de ficar assistindo o tempo passar, com a vida à deriva? Sempre pergunto aos entrevistados qual o seu maior sonho. Muitos não conseguem responder. E sabe por que? Porque a maioria não sonha. E, cá entre nós, se você não sonha, o sonho não chega.

lucilea soares soares

assistente de biblioteca na FMF WIDEN

6 a

Que visão fascinante,infelizmente são raras as pessoas que conseguem enxergar o potencial dos seus colaboradores nesse contexto,geralmente pessoas com cargos de chefia ainda"gostam de pessoas que teimam em não aceitar mudanças",o que é uma pena e aqueles que buscam em crescer são descartados e não são valorizados.

Carlos Eduardo Ferri

Vendas, Marketing, Atendimento ao Cliente

7 a

Lembro quando ele ficou pra trás do Gatlin logo na sua despedida...Mas isso mostrou duas coisas, a derrota não apagou o brilho da carreira de Bolt. A vitória de Gatlin foi vitória da perseverança, aos 35 anos ele se torna o campeão mais velho da história.

Yuri Kaminski

Transformando Founders e C-Levels em geradores de demanda através de Conteúdo de Valor e Social Selling | CEO @Datasaga.ai | Founder-Led Growth | Business Influence | ABM | AI | Reforge | Stanford

7 a

Muito bom texto, Degas. O que me faz pensar também sobre o outro lado da moeda: Quantas pessoas com mais garra e menos currículos estelares estamos dispensando? Talvez devêssemos pensar em políticas que olhassem um pouco mais para o fit cultural que para os skills técnicos de um candidato (mantendo as condições de base) para enriquecer nossas companhias com gente "com sangue no olho" e vontade de aprender. É claro que é muito mais fácil peneirar gente boa com bons carimbos no currículo, mas um talvez estejamos deixando passar belas pepitas procurando diamantes lapidados. No fim das contas, um ótimo adágio que tomo como verdade empírica é: Contratamos pessoas por habilidades e as demitimos por comporatmento. No fim do dia, a variedade pode nos reservar boas surpresas!

Ivan C.

Manchester MBA | CFO, Board & Startup Advisor | GV Angels | Finance, Healthcare & MSP Ecosystems

7 a

Degas, parabéns pelo texto! Simplesmente espetacular!

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