O meu próximo teste de liderança

O meu próximo teste de liderança

Em 2019, tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida profissional: deixar a Presidência da Adtalem Educacional do Brasil. A ideia seria me dedicar aos negócios da família e auxiliar outros empreendedores a serem bem-sucedidos em seus projetos. Em outras palavras, possivelmente estou me “aposentando” da função de liderança (na forma clássica da palavra) para exercer uma participação mais horizontal e orgânica em um número maior de empresas.

Foram praticamente 25 anos na função de gestão de equipes, dos quais, a maior parte do tempo, passei gerenciando times com mais de 100 pessoas. Em meu último cargo, o número ultrapassou a casa dos 5.000. Permaneci por 16 anos nessa última posição, quando no início ainda exibíamos poucos alunos e colaboradores, trabalhando em um turnaroundnuma única cidade, até nos tornarmos o sexto maior, e absolutamente o melhor, entre os grandes grupos de ensino superior do Brasil.

O momento tem sido repleto de reflexões, não apenas sobre o futuro, mas principalmente em relação a esse ciclo de liderança que agora se fecha. Atribuo a maior parte do nosso sucesso às pessoas com as quais convivi. Aprendi muito com todas elas. Construímos uma empresa sem paredes. Erramos e acertamos juntos, muito mais por excesso de vontade, do que por falta de iniciativa. Construímos sonhos, colhemos sucessos e frustrações. Catalisamos o potencial de milhares de alunos, geramos valor à sociedade, e a cada aquisição, recrutávamos mais colegas em torno da nossa causa. 

Quando penso nessas imagens, não me lembro de ter vivido a tal “solidão do CEO”. Sempre puder contar com muita gente, possivelmente compartilhei mais do que deveria, mas deixei sempre clara qual seria a nossa agenda. Acredito que talvez a minha espontaneidade, em certas circunstâncias, possa ter gerado alguns mal-estares, mas o resultado disso tudo é que não deixo nenhuma conversa incompleta para trás.

Muitos começam pensando que liderança é a arte de ser obedecido. Num segundo momento, esse conceito primitivo evolui para outro em que líder e liderados partilham dos mesmos sonhos, e trabalham de forma espontânea e autônoma, mesmo sem o chefe na sala. E num terceiro momento, temos líderes liderando líderes, em um trabalho absolutamente voltado à mentoria destes últimos, conforme já comentei em outros artigos. Finalmente, nos posicionamos como recurso das pessoas da nossa organização, momento onde a pirâmide se inverte e o trabalho do líder fica mais simples, visto que este começa a receber direcionamentos também dos outros departamentos da empresa. 

De alguma forma, passei por todos esses estágios e, embora me sinta satisfeito com os resultados, ainda possuo uma lista das falhas que cometi ao longo da minha carreira. Todavia, a minha liderança passa, nesse momento, por uma prova inédita em minha trajetória: terei eu conseguido fazer com que a ATB continue forte, e evoluindo, mesmo sem a minha presença? 

Desenvolver uma sucessão é obrigação de qualquer líder. Em primeiro lugar, é necessário dar o exemplo e sinal de mobilidade para toda a organização, afinal os melhores talentos do mercado estão interessados em trabalhar em empresas onde haja possibilidade de crescimento ilimitado, sem telhados de vidro. Em segundo lugar, é muito importante que um líder, especialmente um CEO, não se posicione como um ditador, como se tivesse numa posição vitalícia (atitude adotada por muitos executivos no mercado), afinal a fila tem que andar e profissionais de alta performance esperam por isso. Em terceiro lugar, é muito saudável para uma organização, especialmente nos dias atuais, ter novas perspectivas, pensar em novos modelos. Por mais que tentemos nos renovar diariamente, existem limites de visões que podem e devem ser questionados por novas lideranças.

Como esperava, tem sido difícil lidar com a minha mudança de carreira. Acredito que o vazio só será preenchido pelo sentimento de dever cumprido. E esse sentimento só estará completo, se a ATB e sua cultura se mostrarem fortes como um organismo vivo, independente, com absoluta capacidade de se reorganizar e promover talentos que nascem e/ou desabrocham dentro da própria empresa. 

Passarei, então, nesse último teste de liderança? Ironia do destino, o sucesso da minha liderança no passado, ficará em aberto, a ser medido junto com o resultado de novos projetos futuros.




Moacir Machado

Fundador da InCompanny Consultoria Contábil / Consultor em gestão contábil de Startups / Membro de conselho fiscal e adm

5 a

Parabéns pelo artigo e sucesso.

Flavio Bezerra

Entrepreneur // Marketing and Sales executive

5 a

Sucesso meu amigo! Não tem como dá errado fazendo o que é certo!!

Andrea Monteiro Affonso Esmanhoto

Lawyer | Education & Innovation Enthusiast | Transparency & Information Access

5 a

Puxa, Degas, que bacana! Corajoso! Que essa sua nova fase seja serena e prazerosa, sem que isso seja uma contradição. Quem sabe agora vc consegue encaixar na agenda um tempo para encontrar antigos amigos! ;-) Abraços! 

Willian Bernardo Carvalho

Supervisor Experiência de Hospitalidade

5 a

👏👏👏

Success and an excellent slowdown. Do not forget the jaguar. Lol... Hugs.

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