O Yin e Yang da gestão: há simetria entre o integrar e o entregar?
Não é incomum ouvir alguém, ao pensar em dizer “integrar”, diz, sem querer (“querendo”? rsrsrs), “entregar”, ou vice-versa. Sobre este jogo de palavras que hoje envolvem usos diferentes, muito já foi falado, do fútil ao útil (outro jogo de palavras, rsrsrs...).
Seguindo no jogo de palavras, vou então destacar um aspecto relacionado à gestão que usa muito as duas expressões. Na verdade, inspirei-me em algo que comentei em uma aula minha no Mestrado em Gestão e Estratégia em Negócios da UFRRJ há quase três anos, aplicado à Gestão de Pessoas (ao pessoal da turma de 2012, “meus créditos”!), mas aqui vou “generalizar a solução”.
Por um lado, exige-se dos profissionais de gestão, seja de que área específica forem, ter uma visão sistêmica, saber das repercussões, das relações de causa e efeito, das interações, de todos atos e decisões decorrentes do gerenciamento e da administração, em especial no tocante ao que é planejado, projetado, melhorado, transformado, reformulado, e assim por diante. Esta é a face “integrar” da gestão. Todavia, tais sugestões demandam algum tempo de maturação e aprendizado, no sentido de evitar retrabalho ou soluções incompletas, o que esbarra frequentemente na exigência costumeira de resultados imediatos, resposta operacional ágil, do tipo “precisamos de uma solução para ontem”. Aliás, trata-se de algo por que sempre sofrem os analistas de estratégia, tachados de sonhadores, “gênios pensantes”, jogadores de loteria etc..
Por outro lado, ou em função desta observação anterior, demanda-se dos profissionais de gestão a capacidade de satisfazer o cliente, fornecer respostas objetivas, dar resultado. Este é a face “entregar” da gestão, como é de outros tantas áreas, é a famosa “entrega” . O problema é que, às vezes, ou muitas vezes, dependendo da situação e da pessoa, reclama-se que a resposta não saiu bem pensada, ficou sujeita a retrabalho, foi imediatista, incompleta, prematura, não houve, enfim, uma “visão sistêmica” e integrada.
Assim é o vai e vem da gestão, ora integrando, ora entregando. É um yang e yin, alternando uma capacidade mais ativa e de resultado com outra mais introspectiva, receptiva e integradora.
Por isso mesmo, não se deve pensar que há uma dicotomia, um trade-off, entre integrar e entregar. O que mais se exige é que o profissional de gestão entregue (dê resultado, tenha foco no cliente, tenha agilidade e iniciativa) e integre (tenha visão sistêmica, esteja atento ao aprendizado contínuo, esteja habituado a modelar soluções). Trata-se, assim, de harmonizar as energias “yin” e “yang” deste particular.
É normal, também, que cada um de nós tenha mais um lado do que outro, seja em baixo ou elevado grau, o que só reforça o trabalho em equipe. Todavia, não pode haver grandes discrepâncias entre as duas faces, ou lados da face. O mais comum é que não tenhamos faces simétricas (os lados de nossa face não são, em geral, iguais), mas quando elas são muito diferentes, o resultado estético não é dos melhores, assim como a eficácia profissional também não é das melhores: um sistêmico/integrador sem resultados é visto como um sonhador e teórico, e um entregador sem visão sistêmica é um operacional “carregador-de-piano” necessário é verdade, mas que para por aí.
Logo, talvez um modelo de desenvolvimento de competências em gestão mais simplificado seria fazer uma análise desta “distribuição yin-yang”, identificar qual é a assimetria entre o entregar e integrar, e então fazer um plano de desenvolvimento que passa tanto pelo lado técnico (ferramentas, modelos) como comportamental (disposições associadas a cada característica). Se não chegarmos a faces simétricas, por vezes vistas como atributo de beleza (até é comum haver pesquisas sobre o assunto), ficaremos bem perto disso. Há de considerar também as atribuições de cada área de trabalho: quem trabalha em gestão estratégica tende a ser mais integrador, quem fica na linha de frente na produção ou vendas tende a ser mais entregador, mas, como já dito, vimos que o outro lado não pode ser negligenciado. De que adianta um analista de estratégia, ou mesmo um pesquisador, por exemplo, sem resultados para oferecer, sem clientes para atender?
Por fim, ficam algumas reflexões: somos mais integradores ou entregadores? Podemos melhorar nossa composição? Qual a influência do contexto no modo de assimetria e como esta poderia também influenciar o contexto? Ficaríamos mais bonitos se mais simétricos? Ou será que não dá para pensar em assimetria ou simetria, mas em uma causalidade circular entre integrar e entregar, um viabilizando o outro dialeticamente, como no símbolo do yin e yang e como nas imagens de Escher? São questões que não precisam absolutamente em se fechar em si mesmas.
Engenheiro Especialista, Consultor Técnico, Palestrante Técnico / Motivacional e Mentor de Carreira, Projetos e Funções.
9 aMeu nobre Profº!!! Como sempre lançando artigos que iniciam-me na reflexão do ser gestão, ter gestão, estar gestão e fazer gestão. Sinceramente! As dicotomias nos são impostas ou mostradas para aprendermos a usar a transversalidade. Ir além do óbvio ou do simples. O gestor moderno tem que ter a vertente da transversalidade.Buscar em outras áreas a solução daquilo que pelo óbvio não sai. E como você deixou esta via para reflexão, fica a inquietação de dizer que é necessário a transversalidade do integrar ao entregar e vice versa. Como eu disse outro dia numa retórica em que afirmei que a transversalidade nos dá a sensação de menos perda, já que a toda escolha há perdas. Então, em vez de escolher entre integrar e entregar, que tal transversalizar?
Professor e Consultor | Coordenador na FGV - Educação Executiva | Especialista em Gestão, Educação, Cultura e Pessoas
9 aExcelente abordagem, professor. Hoje as maiores causas de processos organizacionais inacabados são por conta dos colaboradores limitados a sua área específica acreditarem que não precisam ponderar sobre o integrar e o entregar. Esta é uma tarefa árdua não somente da gestao atual como do compromisso individual de cada colaborador, entendendo seu papel diante do processo e colaborando de forma equilibrada sob os dois aspectos.