Oportunidade, risco e reinvestimento: nasce a Votorantim
Entre as diversas relações comerciais derivadas dos seus negócios, Antonio Pereira Ignacio era fornecedor de uma fábrica de tecidos controlada pelo Banco União, que ficava a sete quilômetros da cidade de Sorocaba, chamada Votorantim. Na metade da década de 1910, o negócio enfrentava dificuldades e o empresário foi chamado para ajudar a sanear uma empresa que começava a atrasar salários.
A pá de cal viria com a Greve Geral de julho de 1917, um movimento que começou em duas fábricas têxteis do Cotonifício Crespi, no bairro da Mooca, em São Paulo, e em poucos dias tinha se espalhado, agregando mais de setenta mil trabalhadores. Eram tempos em que as condições de trabalho nas indústrias não eram nada fáceis – basta ver algumas das principais exigências dos grevistas, como a não contratação de menores de 14 anos, o fim da jornada noturna para mulheres, limite de oito horas de trabalho por período e o pagamento de salários a cada duas semanas, no máximo cinco dias após o vencimento. A razão imediata para a greve, porém, foi o impacto que a Primeira Guerra Mundial provocou no custo de vida da população, cujos ganhos não acompanhavam a alta de preços dos itens básicos.
Um dos efeitos da Greve Geral foi a quebra do Banco União, no que Antonio Pereira Ignacio enxergou uma oportunidade. Tinha-lhe sido oferecida a chance de adquirir o espólio da instituição financeira por um valor oito vezes menor do que o capital nominal registrado. Claro que havia risco: ele teria que assumir a responsabilidade de gerir os negócios do banco e cobrir as necessidades diárias da massa falida. O benefício seria poder comprar as participações dos demais sócios a preços e prazos acertados, se tivesse êxito.
O empresário aceitou o risco e tomou posse da Votorantim em 1918, interessado nos três campos de atuação da empresa, o que incluía a fabricação de produtos têxteis, uso da sua via férrea e a exploração das jazidas de minérios calcários nas suas propriedades.
Reaplicar para crescer
No novo arranjo, já a partir da segunda metade de 1920, Antonio Pereira Ignacio aprofundou a prática que se tornaria permanente e uma das grandes características do seu grupo: reaplicar os resultados na empresa para aumentar as reservas e financiar o crescimento.
Curiosamente, é nesse momento também que as histórias dos Pereira Ignacio e dos Ferrari fazem uma breve intersecção. Entre as heranças do Banco União havia uma série de terrenos em São Paulo e São Caetano do Sul que não tinha ligação com as atividades principais do grupo. Para transformar esse apêndice em ativos, Antonio ingressou no ramo imobiliário, colocando os lotes à venda com prazos longos e prestações baixas, a forma encontrada para atrair compradores à então distante Cidade Monções, à beira do Rio Pinheiros. Ali mesmo, em 1945, pouco depois de chegar ao Brasil, meu avô compraria a pequena casa da rua Chicago, em cuja garagem nasceria a Zenit Elevadores.
Antonio Pereira Ignacio mandou reformar e instalou postes de eletricidade ao longo da linha férrea que ligava a Votorantim ao centro de Sorocaba, inaugurando, em 1922, a primeira ferrovia particular eletrificada do Brasil. Com a instalação de novos teares, suas empresas têxteis processavam nada menos do que 17% de todo o algodão produzido no estado de São Paulo naquele ano. A Votorantim já era a principal empresa do grupo, que agora incluía vinte unidades descaroçadoras.
Antonio começava a planejar a sucessão, com a entrada no negócio do filho mais velho, João Pereira Ignacio, na posição de diretor-tesoureiro. Até aqui a história do grupo é o exemplo clássico do self-made man, personificado no imigrante pobre que começou como sapateiro, foi pequeno comerciante e se tornou industrial, reinventando os próprios negócios ao longo do caminho para aproveitar as oportunidades.
Nesse momento é que chegou à Votorantim o homem que daria continuidade a essa trajetória, agregando o sobrenome que se tornou uma das maiores referências da história da indústria brasileira: José Ermírio de Moraes. Veremos essa parte da história logo mais.
Bruno Ferrari Salmeron
Autor do livro “Governança em Família: da fundação à sucessão”, é diretor de Operações da Divisão Automotiva da Schulz S.A., membro do Conselho do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) e coordenador do Capítulo de Santa Catarina do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
O livro pode ser adquirido no site da Editora Évora, através do link:
VENDEDOR DA UNIDADE FITATEC
3 aEXCELENTE!!!
Engagement Director @Goldratt Consulting
3 aObriagado pelos insights Bruno Ferrari Salmeron
Conselheiro | Mentor | Administração | Harvard | Insead | Indústria | Gestão | C-Level | Diretor Geral | Palestrante | Cerâmica | Vidro | Mercado Internacional | Gestão Estratégica
3 aA Votorantim é um exemplo de modelo de negocios que ja esta na terceira geracao, que se afastou da gestao do dia a dia. Bela lembranca Salmeron