Orientação política divergente no ambiente de trabalho: como lidar?
A Persistência da Política. REIS, Paulo Henrique, 2017.

Orientação política divergente no ambiente de trabalho: como lidar?

2018 ficará marcado como o ano dos desafetos. Se há pouco tempo fala-se que política, futebol e religião são assuntos que não se discute, hoje eles são pauta na mesa de bar, na padaria, no almoço de domingo com a família e em tantos outros lugares. E quando o assunto política chega no espaço profissional? É possível estabelecer diálogo e criar um ambiente onde posicionamentos distintos convivam sem se digladiar?

Discursos, grupos e personagens que até então só encontravam eco dentro de seus pares, com baixíssima exposição ao contraditório, atualmente se chocam cada vez mais com visões de mundo diferentes de si. A web potencializou discussões a tal ponto que um simples compartilhamento de ideia no Facebook é uma granada de guerra à espera de alguém puxar o pino, que mais cedo ou mais tarde, explode no trabalho. Qual o papel da empresa em cenários como esse? Deixar o circo pegar fogo? Tomar partido de um lado? Se isentar? O desafio é menos óbvio do que parece, ainda mais quando o diálogo não é um pilar cultivado pela gestão.

Em ambientes extremamente hierarquizados colaboradores podem se sentir constrangidos em contrariar a orientação política - e com razão - do gestor ou da marca, por temerem perder o emprego. Já em espaços mais abertos ao contraditórios muitos podem falar demais e acabar magoando pessoas pelo simples fato de se pronunciarem com as palavras erradas, no momento errado. Minha mãe e minha avó sempre diziam que o silêncio é ouro, e pra mim esse é um fundamento que faz muito sentido quando não temos nada a dizer.

O posicionamento de marca no mercado diz muito sobre o que a empresa apoia e o que ela não apoia, e isso precisa ser alinhado pela gestão com o time, com o intuito de evitar ruídos tanto na comunicação interna quanto na comunicação externa. É saudável fomentar o contraditório quando ele não é prejudicial para o desenvolvimento dos colaboradores e principalmente, para a clareza do cliente. Princípios ditos como universais (que não são tão universais e óbvios assim na humanidade, já que não são herdados biologicamente e nasceram de duas de nossas principais faculdades, a faculdade de se comunicar e de se transformar) no Ocidente como liberdades individuais, soberania do Estado, o Direito, Economia e tantos outros assuntos que fazem parte do nosso cotiano, não são ideias inatas; não fariam o menor sentido para o Homo Sapiens de 300 mil anos atrás que vivia da caça e de um contato mais próximo com a natureza.

O mundo está se transformando numa velocidade cada vez mais rápida, e é importantíssimo que acompanhemos essa transformação. Nos últimos mil anos muitas verdades surgiram, que no século XXI já não são mais tão verdades assim. Precisamos aprender a aprender, ouvir e compreender; essas características são importantíssimas pois nos permitem enxergar realidades por uma perspectiva diferente da nossa, a partir dessa reflexão teremos oportunidade de fortalecer nossas ideias, ou de mudar se for o caso. Comunicação Quae Sera Tamen!

Heloá Bento

Análise de Dados | Web Analytics | Comportamento Digital

6 a

Ótima reflexão! Acho o debate válido até para a pessoa repensar sobre a sua atuação dentro de uma organização que talvez não esteja alinhada com os seus princípios e ideias. Por exemplo, vamos pensar em um caso hipotético de uma pessoa que trabalha em uma Ong e não acredita/defende direito humanos. Talvez ela não tenha percebido que não está alinhada com os valores da própria empresa. O que a longo prazo poderia causar uma grande frustração profissional para ambos os lados. Abrir espaço para essa conversa de forma saudável é que é o grande desafio, como falou. 

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