OS BONS NUNCA MORREM

Existem pessoas que passam pela nossa vida em forma de brisa, que só mais tarde nos apercebemos que tiveram um efeito de um furacão.

Nos anos 90 dei de caras com um homem que eu conhecia de vista (por ser médico, cirurgião, com particular interesse pelo cancro da mama) sentado num banco em Faro. Umas quantas palavras de cortesia depois, fiquei a saber que a grande preocupação desta pessoa era o facto de cidadãos do Algarve e do Alentejo terem de se deslocar para Lisboa sempre que precisassem de radioterapia, ficando alojadas em tugúrios, entregues à sua sorte, como se não bastasse o facto de estarem a lutar contra um cancro, tinham de ser submetidos a humilhações, espoliações dos seus familiares, porque o cancro não é democrático, os ricos podem pagar a companhia dos seus mais próximos, mas os pobres tinham de se sujeitar ao que o Serviço Nacional de Saúde lhes permitia.

Neste contexto encetou ele uma luta para que o Algarve e Baixo Alentejofosse dotado de uma unidade de radioterapia, o que conseguiu com o apoio de fundos comunitários INTERREG - Cooperação Transfronteiriça com Espanha - para o Projecto URA onde a Comissão de Coordenação Regional do Algarve foi crucial, tendo conseguido esse feito, entre muitos outros, em prol de pessoas e da região.

O Dr. Santos Pereira foi mais importante para as pessoas do Algarve e do Baixo Alentejo que muitas personalidades que nos ofuscam com o brilho de medalhas e mordomias concedidas pelo Estado, mas que para terem um pingo da humildade, do espírito de cidadania, do entendimento que a medicina não é um curso para mercadores mas que deve estar ao serviço das pessoas, teriam de ser outros e outras.

O Dr. Santos Pereira merece o nosso reconhecimento enquanto cidadãos, pessoas que se importam com o próximo, para que as gerações seguintes possam saber que em tempos tão conturbados existiram pessoas que foram capazes de colocar os interesses dos mais frágeis acima de outro qualquer e que aumentou a esperança e a qualidade a milhares de vidas, que de outra forma continuariam no calvário de acharem bem serem transportadas para Lisboa, alojadas sabe Deus onde e no fim ainda tinham de estar agradecidas.

De facto podemos dizer que o Dr. Santos Pereira promoveu o orgulho, a auto-estima, a cidadania de milhares de pessoas, apenas trabalhando para e em nome do próximo, sendo a Associação Oncológica do Algarve o espelho desse trabalho e desse sentido de vida, que não termina aqui com a sua morte física.

Pode o Presidente Marcelo nunca saber quem foi este homem ou o Governo nada querer saber de uma organização algarvia (AOA) que tantas vidas salvou e salva; pode o Estado apenas ver e olhar para os corredores dourados de Belém ou S. Bento; podem todos os detentores de algo efémero como é um cargo político nunca saberem que foi este Senhor, porque todos aqueles e aquelas que beneficiaram do seu altruísmo, abnegação, solidariedade, o manterão como exemplo a seguir. E esse facto é o que importa, porque líder é todo aquele/a que consegue criar ideias que sejam seguidas por outros.

Obrigada Dr. Santos Pereira


Jaime Dias Ferreira

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