Os grandes vilões

Os grandes vilões

No mundo corporativo sempre é possível encontrar situações onde a lentidão, ineficiência ou a perda de um mercado gritam com as equipes de forma escandalosa e aterrorizante. Nesses momentos é comum que se procurem os culpados.

Quando a culpa não está estampada no rosto de um funcionário ineficiente ou desastrado, as coisas se complicam um pouco. Como culpar o gestor? Como informar a todos que um funcionário que foi estrela até ontem se descuidou da análise de um processo ou de um risco e permitiu que algo ruim acontecesse em todo o grupo? É nessas horas que surge uma solução universal, vamos culpar o processo.

Então temos opções para definir esse culpado. Pode ser o consultor externo, afinal ele consumiu muito dinheiro e a empresa continua à deriva. Vamos culpar o governo, porque ele nos consome impostos e não nos oferece nada em troca. Vamos culpar o clima, a política externa, o preço do dólar, a taxa Selic. Tanto faz, desde que achemos uma solução para nosso medo.

Mas quando se percebe que a culpa vem de dentro e não há como fugir dessa realidade, então surgem dois culpados excelentes que toda boa empresa tem. São figuras persistentes, sempre responsáveis por uma solução mirabolante, ou pelo fracasso de um projeto. Estranhamente eles persistem da mesma forma que nasceram, não evoluem, porque se evoluírem deixarão de ser culpados. Quem são? Os sistemas informatizados e os treinamentos.

Os sistemas informatizados têm o poder mirabolante de resolver tudo. Se faltar qualquer informação, a culpa é da TI. Se os indicadores não avisaram do erro, se a contabilidade falhou, se as compras foram inadequadas, os estoques estão em níveis muito elevados, é porque algum sistema precisa ser melhorado, desenvolvido ou adquirido. É a típica assunção de incompetência organizacional, como não somos capazes de sistematizar nossas ideias, culpamos os sistemas pela falta delas.

Da mesma forma os treinamentos funcionam como um paliativo para a solução de questões óbvias. Os treinamentos são como aqueles remédios que servem para tudo que nossa avó fazia. Qualquer dor, de cabeça ou de varizes poderia ser curada com um único comprimido. Assim são os treinamentos para algumas pessoas.

Se eu não sei me dirigir à minha equipe e dizer o que precisa ser feito, contrato um treinamento. Se meus processos são lentos, falta treinamento. Se minha equipe é insegura, treinamento neles.

E é lógico que, assim como os sistemas, os treinamentos são parte fundamental do bom andamento da empresa. Mas não são bodes expiatórios adequados. Treinamentos e sistemas devem ser avaliados antes e depois de sua execução, de sua aquisição ou de sua aplicação. Se uma unidade deseja um desses recursos para melhorar, deve estar pronta para explicar os motivos de sua piora ou de seu não resultado no tempo, porque se não for assim os recursos organizacionais teriam sido despendidos apenas para aplacar as piores iras.

Sistemas informatizados e treinamentos são investimentos organizacionais. Assim devem ser vistos, e como tal devem ter retorno programado, risco avaliado e um esforço importante de aproveitamento por parte de toda a equipe, para que sejam valorizados.

RONALDO MOURA é administrador de empresas, coach e master practitioner em PNL.

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