Os limites da polarização e seus efeitos na economia
O debate democrático e as consequentes divergências que fazem parte de uma troca de ideias são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer sociedade livre, civilizada e plural.
O grande desafio, dentro desse contexto, é conter os extremismos que – independentemente do espectro para o qual se caminhe – tendem a dificultar justamente as possibilidades de diálogo, uma vez que, nesse cenário, a discordância é vista como uma ameaça e aqueles que possuem filosofias diferentes como inimigos ou, usando uma metáfora bastante popular em nossos dias, como torcidas rivais.
E não é por acaso que os desgastes de uma sociedade cada vez mais polarizada se refletem na realidade do país. Em uma pesquisa realizada no ano passado e divulgada pelo jornal Valor Econômico, por exemplo, nada menos que 31% dos cidadãos do Brasil afirmaram se identificar com um dos extremos ideológicos que imperam na política.
Mas, como se não bastasse o clima de divisão quase irreconciliável que se espalha em todas as regiões do país, o grande fato é que toda política de viés mais radical tende a trazer efeitos danosos para a economia: seja pela instabilidade que gera nos mercados, pela consequente pouca atratividade para os investimentos ou pela implementação de metodologias políticas que, ao invés de se pautarem nos princípios que regem uma economia de mercado saudável, optam por abraçar ideias populistas que confundem ideologia com condução econômica equilibrada.
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Em todo esse cenário, quem se prejudica é a população: os empreendedores que, dentro de um ambiente econômico instável e no qual não se caminham reformas importantes para o país, têm mais desafios para crescer; os trabalhadores, que sofrem com a baixa geração de empregos graças a um cenário de baixo crescimento econômico.
No fim das contas, a nação como um todo acaba por ficar ilhada e não construir pontes de diálogo com outras nações importantes; diminuindo assim seu potencial para captação de capital externo, talentos e pesquisa e perdendo cada vez mais o passo dentro do cenário de uma economia globalizada e transnacional.
Obviamente, a polarização e a tensão dos extremos políticos não são os únicos fatores que afetam o ambiente econômico de um país, mas, certamente, quando a política não tende a se orientar para uma rota de equilíbrio e diálogo democrático, o cenário tende a prejudicar o desenvolvimento nacional.
Além disso, outro dos efeitos danosos do excesso de polarização política é a dificuldade na construção de legados políticos e sociais no Brasil. Em um país no qual cada governante tende a não reconhecer aquilo que seu antecessor deixou de positivo, vivemos, continuamente, na lógica do "vamos começar do zero", como se fôssemos incapazes de aprender com a história e reconhecer feitos que poderiam contribuir com a construção de um projeto de Brasil que nos fizesse avançar do ponto de vista econômico, social, cultural, científico e de tecnologia.
Concluo reforçando que o problema não é o debate – na verdade, a falta de posicionamento e de clareza de nossas lideranças políticas é que abrem espaço para os extremos de ambos os espectros – mas sim os extremismos que, ao invés da troca de ideias, desejam calar a voz do outro.
Afinal de contas, em uma sociedade realmente livre e democrática, a máxima que deve imperar não é a da intolerância, mas o princípio (atribuído a Voltaire), de que "posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo".