Os Quatro Elementos e o Limiar da Finitude
“O ano começou pesado!”. “É muita desgraça junta!” “Que coisa, estamos numa fase terrível!” “Parece que estamos chegando perto do fim do mundo!” “O clima está péssimo!”
Por uma coincidência, comecei esse ano mais reflexivo, buscando compreender melhor alguns processos internos, entender alguns movimentos externos em minha vida, e ensimesmado como não costumo ser. Talvez isso tenha contribuído para eu ter me sentido tão impactado com essa série de notícias difíceis que vimos nesses primeiros meses de 2019.
Ao mesmo tempo, tudo isso reforçou em mim um sentimento que os cabelos brancos e que um processo constante de auto-conhecimento trabalhado fortemente nos últimos anos me têm ajudado a aceitar. O da finitude como algo natural, uma companheira voando sempre na nossa ala, mantendo a distância regulamentar para não ser vista, mas pronta para assumir o comando e surgir, de repente ou não.
Não quero entrar no mérito das inúmeras responsabilidades que permeiam as quatro tragédias mais recentes no Brasil, daquelas que o mundo conectado fez parecer terem sido na vizinhança da nossa casa. Quero apenas lamentar profundamente e me solidarizar com todos os que foram direta ou indiretamente impactados pela lama em Brumadinho; pelas vidas perdidas e prejuízos causados pelas águas no Rio de Janeiro; pelos sonhos desfeitos e histórias consumidas pelo fogo no Ninho do Urubu; pelas lamentações inúmeras e sensação de vazio pela partida abrupta do Ricardo Boechat em um acidente aeronáutico.
Em todos esses casos, assim como outros menos notórios, como na partida repentina de um amigo que morava nos Estados Unidos e se foi em um acidente banal, o sentimento é de opressão, de aperto, de achar que a morte virou uma companheira próxima.
Mas, de fato, ela é. Quando olhamos a vida como uma caminhada e valorizamos o que fazemos agora, celebrando e agradecendo por tudo, desde as mega vitórias, as pequenas conquistas, as pisadas na bola e os erros cometidos, passamos a conscientizar mais um processo com o qual não nos acostumamos: o da perda.
Dois livros foram divisores de águas para mim em relação a esse assunto. Um deles, por sinal, estou relendo. O belíssimo “A Última Grande Lição – O Sentido da Vida”, do Mitch Albon, obra com diversas conexões com minha vida. Ele também jornalista, com uma trajetória bem sucedida, uma vida extremamente corrida, a pressão sempre jogando no time como protagonista, um exemplo de vida moderna. Quando toma conhecimento da doença degenerativa de um antigo professor, figura especial na história de vida dele, Mitch passa a se encontrar frequentemente com o Mestre, a ouvir dele lições de amor, paciência, resignação, fé, alegria.....de vida. Detalhe que a doença do Prof. Morrie é a mesma que acometeu meu saudoso Pai, Seu Vicente, momento onde aprendemos muito com a dor. A dele, a nossa.
O outro, de uma verdade pungente, me fez chorar tanto quanto refletir nas suas pouco mais de 160 páginas. Quem tanto salvou vidas, aquele cujo jovem talento e inteligência devolveram a alegria para tantos, de uma hora para a outra se vê sem ter quem o ajude. Em “O Último Sopro de Vida”, o médico Paul Kalanithi, neurocirurgião de destaque, descobre de uma hora para a outra um câncer incurável e agressivo. Ao invés de se entregar ou viver de questionamentos, basicamente a reflexão que ele faz é: afinal, o que faz a vida valer a pena? Não é spoiler, pode ficar tranquilo, mas o livro inacabado chega ao seu final graças à firmeza da esposa, Lucy.
Não digo que é fácil, muito menos que consigo fazer isso de maneira natural ou simples. Mas quando vemos a nossa existência com lucidez e certos de que a grandeza está nas coisas mais simples; ou quando nos tranquilizamos de que essa trajetória pode ter um fim a qualquer momento, passamos a entender um pouco melhor a relação entre vida e morte. E podemos aproveitar a caminhada de maneira mais feliz, leve, plena.
CEO na AVTEC BRASIL
5 aParabéns, amigo Mauro! Brilhante, como sempre!
Jornalista de TV/rádio | Assessoria
5 aTexto maravilhoso!
Diretora de Atendimento | Especialista em Comunicação Corporativa e Gestão de Crise | Adepta da Felicidade Corporativa
5 aObrigada por compartilhar mais uma bela reflexão, Maurex! Como falamos brevemente, a consciência da finitude realmente faz mais presentes, mais gratos e mais amáveis. Acredito nisso.
Muito bom, Mauro!