Palha Assada com Azeite
"Um palhaço na lanchonete" Reno, Nevada, EUA - (C) 1963 por Thomas Hoepker

Palha Assada com Azeite

Produção de enganação em escala industrial.


Palhaços são controversiais. Assunto delicado.

Alguns amam. Outros odeiam. Parece que, na história, houve apenas um serial-killer que se vestia de palhaço e foi suficiente para fazer um estrago na reputação do artista que, mesmo triste, trabalha para divertir os outros, abnegadamente.

Aqui no Brasil o termo as vezes é usado pejorativamente para designar alguém que foi enganado. Alguém que foi trapaceado - se diz que esta "pessoa foi feita de palhaço".

Mesmo que eu não concorde, tenho que aceitar que é assim no Brasil. Pior que o mau-uso da palavra é a sensação de sermos enganados o tempo todo. É preciso ficar alerta e, mesmo assim, pouco adiantará o nosso esforço.

São embalagens que se transformam com discretos avisos de que a 'receita mudou', 'a quantidade diminuiu', numa 'estratégia de design' (a mais pura maracutaia mesmo) que torna a mudança quase imperceptível (e nunca é para melhorar). As embalagens mudam de um jeito tão sutil que é quase como se o produto estivesse dizendo: "Ah, não, eu não mudei. Apenas minha embalagem, meu conteúdo continua o mesmo... na maior parte" - mas é sempre menos quantidade e menos qualidade. Infalível. Seria uma surpresa enorme que um dia a gente fosse no supermercado e encontrasse nosso produto preferido assim:- "Agora em nova embalagem com 150g a mais e trufas de verdade!". Só rindo mesmo.

Pelo hábito a gente compra manteigas, óleos, preparados misteriosos, 'bebidas-lácteas' (ou sei lá o que isto venha a significar de verdade) que há muito tempo já não são mais aquilo que experimentamos a primeira vez, quando nos apaixonamos por eles.

Você vai comprar milho e leva palha assada (entendeu? Esta é uma piada que apesar da má-qualidade, não causa câncer).

No quesito enganação, os azeites de oliva são um caso de polícia. Vendidos a preço de ouro, são óbvios candidatos dos falsificadores - estes profissionais no talento de enganar e roubar as pessoas. Não estou falando dos de origem duvidosa ou clandestina. Falo daquilo que é vendido nas prateleiras dos supermercados.

Na ficção a Família Corleone (de O Poderoso Chefão) disfarçava os crimes mafiosos com um negócio de fachada de óleo de oliva (Genco! E o óleo era bom!). Se eles soubessem o quanto dá lucro falsificar o próprio óleo, não iam mexer com cassinos ou se arriscar em matar gangsters.

Lembro da primeira vez que eu vi o irmão do meu pai botar azeite de oliva no arroz com feijão. Experimentei. Como ficou bom! Eu era criança e só muito tempo depois vim a descobrir os benefícios de consumir azeite de oliva. Era uma latinha de azeite de uma marca famosa, com uma ave macho no rótulo. Quando eu e meu pai viajávamos, comíamos em restaurantes simples de beira-de estrada. Estava lá, em cada mesa, quase sempre, uma latinha de um outro óleo fabricado no Brasil desde 1942:- O Óleo Maria. Honesto, dizia ser metade de óleo de oliva e metade de soja (parece que a fábrica original que fornecia óleos para a indústria têxtil, percebeu uma oportunidade na dificuldade de se importar azeite de oliva para o Brasil e criou o produto que chegou a estar em 70% das casas brasileiras). Um sucesso.

A marca famosa então virou objeto de desejo de investidores. Passou de mão em mão e em cada passada, a Maria (a portuguesa do rótulo) ficava mais jovem - passou de uma senhora de 40 anos para uma moça de 19) e o óleo, adivinhe? Menos bom. Da lata passou para uma garrafinha plástica. Que eu comprei. E, quando a minha esposa falou no almoço:- "É, nem o Óleo Maria tem o mesmo gosto de antes", eu peguei a garrafinha (feia e mole) e notei em dizeres bem discretos, numa letra bem fininha, um anúncio pseudo-positivo de "nova receita!" (claro, é uma receita nova, como se pedir um cheeseburger e receber um sanduíche de papelão fosse uma receita inovadora) - que anunciava logo abaixo da frase "mais sabor em sua mesa" que agora só havia 10% de azeite de oliva! Três azeitonas enormes e folhas de oliveira emolduravam a Maria (nenhum grão de soja! Tudo bem... Nem o Óleo Soya tem soja na embalagem). Continha também (muito discretamente, feito para apenas evitar entraves jurídicos) letreiros laterais com a famigerada expressão "Foto Ilustrativa" (que para mim é como dizer 'porta de abrir e fechar' ou 'papel higiênico para limpar' - foto em rótulo é para ilustrar!! Não enganar! Todos sabemos que o uso destas duas palavras é para disfarçar a verdade:- "o produto aqui não tem nada a ver com a foto - a foto é só de enfeite - não ilustra nem o conteúdo desta garrafa - é só decorativo!") e o outro escrito alertando que a soja era do tipo transgênico mesmo (nem era uma soja premium).  A Maria era uma mulher honesta, não enganava ninguém (será?). Agora a Maria moça, com a cara blasè, meio que querendo estar em outro emprego, não garante nem os 50% de azeite de oliva. É só 10% mesmo. É isto. É só.

Triste. Triste com T de Transgênico, dentro de um assustador triângulo amarelo.



Estamos na época do suco de frutas sem frutas, do chocolate sem cacau...uma delícia, tão saudável quanto uma pilha.

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