Para quem não faz ideia do que está fazendo da sua própria vida

Para quem não faz ideia do que está fazendo da sua própria vida

Texto originalmente publicado em murilloleal.com.br

Seja lá o que você faça da vida, é hora de parar. Não para sempre. Apenas para refletir por um instante sobre o que você está fazendo com a sua própria vida.

Talvez você seja vendedor convencional, viva de pintar quadros, trabalhe educando crianças numa escola primária, lide com a complexidade do comércio exterior, tenha um restaurante gourmet, escreva dissertações acadêmicas, ou simplesmente tenha que lidar diariamente com clientes diversos e mercados comuns.

Em determinado momento da sua vida, você vai ouvir a pergunta: “Você faz isso por dinheiro ou porque gosta?”. Em qualquer canto da sua vida, essa pergunta vai aparecer. E você terá dificuldade de responder com toda certeza que está fazendo a melhor coisa que poderia fazer no mundo.

O ser humano é infinitamente capaz. E isso, nos confunde.

Somos lições diárias, habilidades acumuladas e competências diversificadas. Talvez o erro seja esperamos sempre que alguém ou alguma coisa nos diga exatamente o caminho que devemos percorrer. Buscamos que isso tudo nos dê a certeza que podemos seguramente seguir nesta direção de conforto e alívio.

No entanto, essa certeza é inviável. É de uma inexatidão assustadora. O modo de olharmos para aquilo que fazemos - como se isso fosse a nossa única identidade - tornará, no futuro, o nosso maior carrasco.

Todo mundo tem dentro da sua cabeça um discurso que deflagra uma desconfiança da sua própria vocação diária. A verdade é que somos diversos recortes de nós mesmos, do que fazemos, do que pensamos, de como enxergamos a nossa própria construção de realidade.

E quer saber? Ninguém aguenta permanecer muito tempo num posto que seja mais um lugar-comum, que seja a mais precisa falta da dimensão de propósito e de realidade.

Quando nossa identidade torna-se apenas aquilo que fazemos, descobrimos que, momentaneamente, na falta de tarefas, somos empurrados para a mais concreta impressão de inadequação e senso de si. Este é o ponto de muita gente que encontro nessa caminhada vocacional.

A verdade é a coisa que mais importa

Não interessa o que você quer, pode ou deve fazer da sua vida. O mais importante é ter a coragem de perguntar-se, antes de tudo: O que estamos omitindo da nossa própria verdade? O que é importante para que eu possa ter a certeza que estou fazendo algo extremamente relevante?

Perceba: Atingir um patamar profissional invejável, ter uma grande quantidade de seguidores, ser capaz de falar com muita gente ao mesmo tempo, nem sempre significa alcançar a maior dimensão da realidade do que realmente importa para nós.

O sujeito que tem a coragem de omitir essas perguntas acima perde a oportunidade de dedicar-se de todo o coração a alguma coisa real. Sem que faça da necessidade econômica seu maior alvo. No final das contas, ele não tem nem o prazer e nem a riqueza. E o único prejuízo essencial é ter tudo, menos o controle da própria narrativa.

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Nesta direção, o sentido para o que fazemos não está em apenas contabilizar vitórias e as esfregar no rosto da sociedade como uma espécie de alto consolação, nem tampouco em deixar de fora da vida o prazer para ir em busca de uma vocação prática e despreocupada com os pequenos confortos.

O mundo não pode ser dividido em pessoas que vivem na esperança de enriquecer como resposta a sua impossibilidade de alcançar uma auto percepção saudável e em sujeitos que estejam integralmente inseridos numa sociedade injusta, mas que encontram na crítica do imediatismo materialista a própria desorientação vocacional.

Entendendo tudo que realmente vale a pena

Desde que entendi que a realização da minha vocação - que é claramente sabida como de um escritor - não deve se prender a mera busca pelo emprego ideal, ou apenas focado numa subsistência e desprovido de qualquer importância própria, passei a respeitar o meu próprio futuro como gente.

Descobri aos 28 anos - o que considero pode parecer tarde demais - que entre o trabalho expressamente inevitável e a obsessão pela diversão, existe um encontro possível.

Talvez seja essa a única explicação de como podemos cruzar com gente de pouco retorno financeiro, mas que são brilhantemente satisfeitas com o que tem, ao passo que encontramos almas cheias de revolta que cegamente acusam o trabalho de ser o ladrão de vida e o algoz da sorte.

Para quem não faz ideia do que está fazendo da sua própria vida, o caminho errado não deveria ser objeto do seu estudo, mas sim a busca incessante pelas maneiras de desenvolver o alívio mais óbvio.

O fazemos da nossa vida pode ser uma explosiva acumulação de paixões, mas pode ser também a nossa demagogia predileta. Eu decidi mudar a tônica minha vida. Aprendi que posso viver sendo quem eu preciso ser.

Para quem ainda insiste em ficar nessa corrida incessante da vida moderna, a minha esperança é um dia vê-lo do lado de cá e te ver desfrutando de uma vida com mais sentido.

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Carmencita Rezende

Graduação em Sociologia e Pós graduanda em Atendimento de Crianças e Adolescentes vítimas e testemunhas de violência/ UFG

5 a

amei o texto, me identifiquei com ele. Acredito que buscamos muito além da realização financeira; buscamos significado no que fazemos; e eu continuo essa busca, tentando encontrar esse lugar no qual não me sinta uma outlander... "sing me a song, of a lass that is gone. Say , could that lass be I?"

Nicole A.

UX/UI Designer Product Designer

5 a

Gostei muito do texto Murillo, é nisso que eu mais penso ultimamente. Essa frase é ótima: "Descobri aos 28 anos - o que considero pode parecer tarde demais"- que entre o trabalho expressamente inevitável e a obsessão pela diversão, existe um encontro possível." - é o que eu estou tentando entender.

Daniel Gois

Gestão de Equipe Interna

6 a

Enxergar a vida com otimismo, ser resiliente e sempre buscar formas de como ajudar outras pessoas. São alguns caminhos possíveis para uma existência plena. Ótimo texto.

Camila Guedes Monteiro

Representante de Informação Veterinária Fórmula Natural

6 a

Murillo Leal essa é uma reflexão que carrega comigo e mesmo sem uma resposta exata utilizo como uma forma de incentivo para sempre fazer o meu melhor.

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