PEGADA DE CARBONO NA PECUÁRIA DE CORTE A pecuária de corte tem enorme importância para o agronegócio brasileiro.
A pecuária de corte tem enorme importância para o agronegócio brasileiro. Além de trazer divisas com as exportações de carne que registraram US$10,8 bilhões em 2023 garante o abastecimento do mercado interno com oferta de proteína animal de alta qualidade. O rebanho bovino no Brasil está estimado em 234,4 milhões de cabeças, ocupando 160 milhões de hectares no país. Porém, com todos esses predicados a bovinocultura ainda é vista como grande responsável pela emissão dos gases contribuintes do efeitos estufa, mais precisamente CO2 e NO2 oriundos da degradação de pastagens e NH4, gás metano originado na fermentação entérica dos bovinos.
A aplicação de protocolos na produção como Carne Carbono Neutro (CCN) e Carne Baixo Carbono (CBC) foram testadas em uma área comercial de produção e esses protocolos, num experimento da Embrapa em parceria com a ABCZ. Os protocolos reduziram em 12% e 15% respectivamente a emissão de metano entérico dos animais recriados a pasto (2024). Os animais foram desmamados, recriados a pasto e terminados em confinamento. A redução da emissão do metano foi fruto do aumento das produtividades em ganho de peso entre 4% e 8% nos protocolos avaliados. Em 385 dias de prova o ganho de peso final para os animais foi de 346 kg no sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta dentro do sistema CCN e de 359 kg no sistema ILP no protocolo CBC, todos terminados aos 21,5 meses de idade.A produtividade permitiu a redução do tempo e portanto a emissão de metano quando comparado com carcaças no sistema tradicional e abate mais tardio.
Segundo o gerente de melhoramento da ABCZ, Lauro de Almeida, o programa mostrou que manejos mais intensivos adotados nos dois protocolos é possível chegar ao peso ideal de abate aos 22 meses, praticamente metade do tempo médio para abate praticado no Brasil. Os cálculos foram feitos durante os anos de 2022 e 2023 seguindo a equação aplicada pela rede Pecus, da Embrapa, utilizadas nos 2 protocolos CCN e CBC, para estimar a emissão de metano entérico, levando-se em conta a qualidade da dieta, pasto +ração, a ingestão de alimentos e o ganho de peso médio diário dos animais.Após desmama entre 6 e 8 meses os animais ficaram 280 dias em recria , parte na seca e parte no verão, fazendo a recria no sistema ILP e ILPF. Após a recria foram confinados por 105 dias totalizando 385 dias de teste.
Após o abate, além da redução da emissão do metano entérico, os resultados se mostraram muito bons quanto ao rendimento de carcaça, registrando 56,1% melhorando a produtividade da relação de carcaça produzida/emissão de metano. Em resumo, fazer com que um número menor de animais produza mais carne é uma das estratégias para diminuir a emissão de metano entérico e reduzir a pegada de carbono da pecuária.
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Neste contexto de aumento da produtividade do rebanho, que sempre deve levar em conta o bom manejo de pastagens e da nutrição, segundo o pesquisador Sérgio Medeiros o Brasil já assumiu o compromisso de baixar em 43% as emissões até 2030. Vale lembrar que além do gás metano, um dos responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa são os pastos degradados que ao contrário dos pastos bem manejados, perenes, que sequestram carbono, os pastos degradados emitem CO2 em sua oxidação, num balanço negativo de carbono para a atmosfera.
Num estudo da Embrapa Pecuária Sudeste em São Carlos foi demonstrado que sistemas mais intensivos têm o mérito de gerar créditos de carbono pelo balanço positivo do sequestro do carbono e emissão de metano considerando todas entradas e saídas do sistema. No estudo foram avaliados 5 níveis de intensificação: pastagem degradada, pastagens recuperadas com fertilizantes e corretivos com média lotação animal, , pastagens recuperadas com fertilizantes e corretivos com alta lotação animal, pastagens recuperadas com fertilizantes e corretivos com alta lotação animal mais irrigação e a vegetação natural.
Os resultados mostraram que no sistema com pastagens degradadas foram deficitários em kg de peso vivo e carcaça produzida necessitando 63,9 árvores plantadas para neutralizar os gases do efeito estufa, metano e CO da oxidação da matéria orgânica do pasto. O sistema de alta lotação irrigado também foi negativo no balanço de carbono porém com maior produtividade por área e por animal demandou 29,11 árvores a serem plantadas para equilibrar o balanço de carbono. Os sistemas de sequeiro com média lotação (200 kg de N em brachiárias) e de alta lotação em sequeiro (400 kg de N em Panicum) registraram um maior sequestro de carbono que a emissão de GEE. No caso da média lotação o saldo positivo foi equivalente a um plantio de 6,3 árvores de eucalipto/garrote. Na alta lotação o saldo positivo foi menor de 1,08 árvores para cada garrote no sistema. Estes dados são interessantes pois coincidem com simulações exaustivas realizadas em 2 décadas para análise econômica de longo prazo, com fluxo de caixa de 15 anos. Estas simulações tendem a apontar como lotação ótima 3 a 3,5/UA hectare , que é exatamente a taxa de lotação média do estudo da Embrapa. Ou seja, parece haver um ótimo econômico e ambiental para sistemas com lotação entre 3 a 3,5 UA/ hectare, sugerindo ser este um nível ideal de lotação das pastagens tanto do ponto de vista da pegada de carbono como do ponto de vista da viabilidade econômica do sistema de produção.
Podemos concluir que os Gases de Efeito Estufa , CH4 CO2, e o NO2, os dois últimos liberados em pastagens degradadas, podem ser amplamente compensados por sistemas de produção em pastagens bem manejadas associadas a suplementação ou confinamento. Estes sistemas têm um efeito poupa terra por maior produtividade por animal e por área diminuindo o balanço do metano emitido e da quantidade produzida e ainda, sequestram carbono pelas forrageiras , reduzindo a pegada de carbono na pecuária , como o potencial de gerar crédito de carbono nestes sistemas.