Pequenas empresas e gestão do relacionamento familiar
O artigo abaixo foi escrito por minha sócia e amiga Georgina Alves Vieira da Silva. Sendo um tema tão importante, decidi publicar também em meu perfil.
Empresas são fundadas com grande expectativa e esperança. Expectativa de que vá crescer, propiciar ganhos para a sociedade, para os acionistas ou sócios. E esperança de que os filhos e sucessores darão continuidade ao negócio, o que garantirá o futuro de todos.
Ao longo do tempo, a empresa começa a se organizar, a expandir-se, a procurar a melhor gestão da produção, mas os gestores esquecem-se, no entanto, do fundamental: o relacionamento societário.
Empresas abrem e fecham, com uma rapidez impressionante. Ao lado dos problemas de capital e da falta de empreendedorismo, um outro fator costuma ser determinante para o seu fracasso: o difícil relacionamento entre sócios, sejam eles familiares ou não. No caso das empresas familiares, o problema se agrava, pela interveniência de múltiplos papéis simultâneos: os sócios são, a um só tempo, participantes de uma família, detentores do capital e gestores do próprio negócio. O crescimento dos filhos traz novas dificuldades: a luta da segunda geração para se afirmar, as disputas internas, a visão diferente da estratégia. Os empregados começam a tomar partido e, em pouco tempo, perde-se, não só a empresa, mas os vínculos afetivos e familiares, restando almoços de família na casa da “matriarca”, caracterizados pelo desconforto ou divididos, domingo sim, domingo não, para cada ramo familiar.
Notícias de amplo conhecimento público são divulgadas cotidianamente pelos principais jornais e periódicos. Empresas de grande porte como a Lacta (ex-proprietária do Sonho de Valsa, Diamante Negro e outros), o Grupo Pão de Açúcar, a Garoto, a Brastemp, são todas exemplos de como o difícil relacionamento não apenas afeta o negócio como o faz mudar de donos. Em entrevista a uma grande revista de circulação semanal, um grande empresário, ao ter que vender sua empresa em função de problemas vividos com os filhos do primeiro casamento, desabafa: “com os filhos não há mais diálogo. Estamos agora totalmente separados. ... Eles só enxergam dinheiro, dinheiro e dinheiro". Evidentemente os filhos teriam outra visão dos problemas e certamente, se ouvidos, teriam os seus próprios motivos e ambas as partes, provavelmente, teriam uma parcela de razão. O caso apenas demonstra como a questão do relacionamento familiar pode arruinar uma empresa de mais de cinquenta anos, acabar com um sonho e levar à ruptura familiar.
As grandes empresas são notícia e manchete. Mas as pequenas e médias empresas sofrem do mesmo problema e carecem da devida assistência para levar suas empresas à frente. Procuram ajuda de consultores financeiros, de consultores de qualidade, de consultores de marketing e esses, após frustradas tentativas de desenvolver a empresa, acabam aconselhando uma consultoria especializada em questões societárias. O que significa despender tempo, dinheiro e reputação.
Não raro, no entanto, essa procura por ajuda especializada chega tarde demais, restando ao consultor da área comportamental apenas preparar a cisão da sociedade. Mas há muito a fazer antes que isso aconteça. Pode-se dizer que está nascendo uma nova disciplina gerencial: a gestão do relacionamento. Sob essa perspectiva, consultores especializados buscam entender a dinâmica do relacionamento societário, ouvindo todos os familiares envolvidos, buscando em modelos organizacionais o equacionamento ou a minimização de problemas que não se resolvem nem com o capital nem com as ferramentas tradicionais de gestão.
Estamos falando de sessões de aconselhamento individual, de acordos de entendimento, de implantação de Conselhos de Administração e Conselho de Sucessores, além de reuniões e assembleias mediadas por agentes externos, do estabelecimento de condutas para entrada e saída de sócios, de familiares, de remuneração e outros.
Eventualmente é preciso designar um Executivo profissional, a funcionar como o elemento agregador das funções empresariais e um catalizador de problemas societários, preservando assim a integridade da empresa.
Quando tudo falha – ou quando os problemas de relacionamento já são insolúveis – ainda assim é requerida a presença de um consultor de relacionamento para preparar a própria separação e ruptura da sociedade. Caso contrário, além da perda da empresa, os sócios poderão ter perda financeira (vendendo ao primeiro que aparecer), perda de auto-estima e desilusão quanto ao próprio futuro, projetando suas insatisfações no ambiente familiar.
As grandes empresas também vêm se preocupando com os aspectos de gestão. Grandes grupos empresariais hoje incluem, como medida de desempenho do Gerente, a sua capacidade de relacionamento interpessoal, medida através de pesquisa com os funcionários e com o sistema de avaliação de desempenho em 360 graus, em que vários aspectos de seu trabalho – incluindo a forma como se relaciona com subordinados, pares, chefias e clientes - são avaliados e considerados como indicadores de desempenho. Enfim, em uma época de tecnologias disponíveis em tempo real para todos os concorrentes, em que a pressão pela conjugação preço x qualidade é altamente exercida pelo consumidor, em que um problema na Ásia repercute no interior do Amazonas, as empresas estão conscientes que seu único diferencial são as pessoas, pessoas produtivas, flexíveis, com capacidade negocial, habilidade para transitar por várias áreas e equipes, reconhecidas em seu desempenho, motivadas a alcançar alta performance e felizes como ser humano. É tempo, portanto, da Gestão do Relacionamento.