Por que a produtividade brasileira é tão baixa?

Por que a produtividade brasileira é tão baixa?

Uma das razões de nossa competitividade não ser maior, frente aos concorrentes globais, é a baixa produtividade do trabalhador brasileiro. Mas, isto não necessariamente é culpa do trabalhador.

Há algum tempo escrevi um artigo sobre a produtividade média do trabalhador brasileiro fazendo referência a um relatório da Conference Board e um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que traçavam um comparativo entre produtividade e o nível educacional e profissionalizante.

Nestes estudos fica evidente a diferença entre a produtividade média de um trabalhador norte-americano e brasileiro. Mas, e se compararmos o Brasil com os demais países do bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)?

Bem, se considerarmos os níveis de produtividade média neste escalão de grandes economias globais, o trabalhador brasileiro só é mais produtivo que o trabalhador da Índia e China, e possivelmente não por muito tempo.

Este cenário se agrava ao analisarmos outra pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontando que a produtividade da indústria nacional (entre 2002 e 2012) aumentou insignificantes 0,6%, sendo que em contrapartida no mesmo período os salários dos trabalhadores aumentaram 136%, ou seja, nossa produtividade média praticamente não aumenta, mas os custos de produção sim – e de forma assustadora.

Desafios a serem vencidos

Algo definitivamente não está indo bem, e não é de hoje que estes números preocupam o setor produtivo brasileiro. Mas, quais seriam as possíveis razões? O quê justifica tamanha disparidade? Bem, alguns indicadores e fatores são relativamente simples de serem analisados.

Um dos motivos é a baixa qualidade e tempo de permanência na educação, pois o brasileiro estuda em média metade dos anos de um norte-americano e, muitas vezes, nem sequer completa o ensino fundamental. Já nos Estados Unidos, além da maior qualidade de ensino, o norte-americano estuda, em média, pelo menos uma etapa do ensino superior.

O fator educação é apontado pela FGV como um dos problemas mais graves do Brasil no seu caminho de crescimento e aumento de padrão de vida da população.

Ainda, em relação a treinamento e qualificação, um trabalhador norte-americano recebe – em média – quatro vezes mais horas/treinamento por ano, de acordo com pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC).

Outro fator do avanço norte-americano são os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em setores estratégicos para a economia, no uso de recursos, além da automação e da agregação de valor, visto que em empresas de trabalho intensivo a produtividade costuma ser mais baixa e o valor agregado menor.

São gargalos que simplesmente impedem uma produção nacional mais enxuta e competitiva.

Não bastassem as abusivas cargas tributárias, uma empresa padrão na indústria de transformação no Brasil gasta 2.600 horas anuais para cumprir suas obrigações fiscais, contra 356 horas em média nos países latino-americanos e 184 nos países da OCDE (Banco Mundial, 2015; CNI, 2014).

Possivelmente existe alguma correlação entre nossa produtividade com a forte reindustrialização norte-americana na era Obama, entretanto, devemos considerar as capacidades instaladas e o fator humano para geração de riqueza.

Outro elemento que pode vir à tona é a quantidade média de horas trabalhadas nos demais países com alta produtividade, mas basta analisarmos este outro dado para notarmos que a média brasileira é praticamente idêntica à média norte-americana.

Mas, se trabalhamos tanto quanto os norte-americanos, por que o brasileiro (em média) não é rico? Bem, a baixa produtividade é uma das explicações possíveis.

Além de todos esses fatores, ainda possuímos um elemento de valor intangível que dificulta enormemente nossa competitividade: a dificuldade da participação de estrangeiros no mercado empreendedor e de trabalho brasileiro.

Recentemente, o presidente norte-americano Barack Obama anunciou um programa que concede o Green Card a empreendedores estrangeiros que desejam levar suas startups para se instalar nos EUA.

Todas as grandes economias e empresas da nova economia reconhecem que a inovação é resultante da criatividade em ação, e que a criatividade é baseada principalmente na diversidade de gêneros, gerações, internacionalidades e culturas, ou seja, na multiplicidade.

Segundo dados de pesquisa de 2007 da Universidade de Duke, Califórnia, 52,4% de todas as startups do Vale do Silício (EUA) contavam com pelo menos um fundador/sócio estrangeiro. Adicionalmente, 55% de todos os cientistas e engenheiros daquela região também eram estrangeiros. Isso representa mais inovação, e possui profundo impacto na produtividade média.

Atrair e reter talentos é fundamental, em especial nas áreas de PD&I, entretanto gerar talentos é ainda mais importante, e um dos indicadores para a melhoria da produtividade é o investimento em melhorias na educação e qualificação, desde sua estrutura fundamental até os níveis de pesquisadores avançados.

Segundo dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2010), o número de portadores de títulos de doutorado por mil habitantes na faixa etária entre 25 e 64 anos de idade, no Brasil é de 1,4 enquanto nos EUA é de 8,4 (na Suíça este número é de 23).

Possíveis soluções

É inegável que a economia norte-americana é considerada uma das mais eficientes do mundo, e se queremos garantir desenvolvimento sustentável e uma maior competitividade da economia brasileira, devemos nos unir em torno de objetivos comuns como a redução da carga tributária e trabalhista, melhorias na educação e qualificação, mas especialmente apostar na inovação pautada em P&D, na criatividade e na multiplicidade.

Soluções imediatas para impulsionar a produtividade brasileira existem, e o setor industrial pode desempenhar um papel-chave neste contexto.

Atualmente, um sistema fragmentado de impostos indiretos e em cascata, uma infraestrutura insuficiente, fracas pressões competitivas e uma baixa integração ao comércio internacional estão atrasando o desenvolvimento da indústria brasileira, que não se beneficiou suficientemente das tendências globais que moldaram a produção industrial em outros lugares.

O crescimento econômico precisará vir cada vez mais da produtividade e do setor produtivo empresarial, no qual algumas reformas estruturais chaves poderiam liberar um significativo potencial inexplorado, podendo desempenhar um papel de liderança nesta transformação, guiando um grande processo nacional pelo massivo investimento em educação e profissionalização.

Por outro lado, governos devem reduzir seu peso sobre os ombros do setor produtivo, reduzindo sua burocracia e fricção.

Por fim, universidades tem como missão maior formação de mestres e doutores orientados à resolução de problemas da iniciativa privada e aumento de sua produtividade.

Benyamin Fard, 2016 (benyamin@biovita.com.br)

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Thiarê Felix

Engenharia de Produção Mecânica | Gestão de Projetos | Processos | Lean Six Sigma | Qualidade | Green Belt | Kanban | Kaizen | KPI's | Auditoria

7 a

O artigo mostra de maneira brilhante a importância de investimentos na educação do Brasil. Um país em que faculdades e governos se aliam visando somente marketing e eleições para distribuição de bolsas de estudos demonstra que o caminho seguido está errado. Parabéns pelo artigo Benyamin Fard.

Silvio Vebber

Conceito e Assessoria em Moldes de Injeção

7 a

Nunca, jamais podemos esquecer que a maior riqueza das organizações são as pessoas. São elas que irão potencializar a tecnologia, sem elas, será um caminho aos obsoletos.

Silvio Vebber

Conceito e Assessoria em Moldes de Injeção

7 a

O mais importante para uma cooperação é acreditar em nosso potential intelectual

Pedro Molverstet

Analista de Melhoria Contínua Lean | Brandili Têxtil

7 a

Muito bom o artigo. Faz todo o sentido quando analisamos a produtividade no Brasil... Obrigado

Pedro Molverstet

Analista de Melhoria Contínua Lean | Brandili Têxtil

7 a

Muito bom o artigo...

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