Trabalho e produtividade
Almir Pazzianotto Pinto
O propósito do artigo não é denegrir a imagem do trabalhador. Tenho por ele respeito sagrado, e assim o demonstrei como advogado, Secretário do Trabalho, Ministro do Trabalho, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, em palestras, artigos e livros. Tanto pela ascendência paterna, como pelas raízes maternas, venho de famílias de trabalhadores, constituídas por pessoas honradas e simples, afeitas à estilo modesto de vida.
É impossível, porém, ignorar estudos internacionais idôneos, voltados à relevante questão da produtividade, expressão em economia definida como “relação entre a quantidade de valor produzido (agregado) e um ou vários fatores necessários para alcançá-la”.
Na edição de 30/6, página B16, o jornal “O Estado” publicou matéria sob o título “Brasil amarga o 61º lugar no ranking sobre produtividade do trabalhador”. Destaco o primeiro parágrafo, onde se lê: “O Brasil está se distanciando do padrão de competitividade não apenas de economias desenvolvidas, mas também de países emergentes. No ranking de produtividade da força de trabalho, o País está na 61ª posição, de um total de 64 nações avaliadas de acordo com indicadores e pesquisas com executivos de empresas pela escola de educação executiva suíça IMD (Institute for Management Developement). O País só está melhor posição quando comparado à Mongólia, a Nova Zelândia e Venezuela”.
Inexistem pesquisas sobre o assunto no mundo jurídico-trabalhista. A preocupação dominante, entre Ministros, Desembargadores, Juízes, Procuradores, consiste na defesa de garantias constitucionais e legais dos assalariados.
Sem lhes desmerecer os cuidados, a questão da produtividade não deve ser relegada ao abandono. É da maior capacidade produtiva que resulta a possibilidade do crescimento econômico, com serviços e produtos competindo no mercado interno e internacional com qualidade e preço. Absenteísmo, desídia, litigiosidade excessiva, ferramentas obsoletas, excesso de bacharelismo e de sociologismo, falta de investimentos para desenvolvimento educacional, científico e tecnológico, carência de mão de obra industrial especializada, são determinantes da baixa produtividade.
No ranking de 62 países produtivos, o Brasil ocupa a 57ª posição. Os dez primeiros lugares pertencem, pela ordem, à Noruega, Luxemburgo, Estados Unidos, Bélgica, Holanda, França, Alemanha, Irlanda, Austrália, Dinamarca. Comparado à de nações latino-americanas, o mais baixo resultado em dólares por hora é o nosso.
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Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Site Migalhas, 12/7/2023.