Por que você deveria estudar sobre Diversidade
Esta semana recebi o certificado impresso de um curso que realizei pela Future Learn, em parceria com a universidade americana Purdue sobre Diversidade e Inclusão. O certificado veio lá de Londres para Curitiba. Foi o suficiente para me fazer refletir.
Diversidade e Inclusão é um tema relativamente novo para mim, apesar de desde pequeno ter enfrentado situações clássicas de julgamentos e preconceito. Filho de um negro com uma mulher branca, eu nunca havia parado para olhar minhas raízes e entender uma série de coisas que aconteceram na minha vida até poucos meses atrás. Através desta formação, comecei a perceber o quanto é necessário entender as suas raízes para compreender o seu próximo e viver uma vida mais empática, dentro e fora do ambiente de trabalho.
Um dos primeiros exercícios da formação em Diversidade é conhecer sua própria história e compartilhar com outras pessoas, para que consigam entender seus motivadores de vida e carreira. Pois bem, deixe-me contar um pouco sobre a minha.
Pra quem não me conhece, venho de uma origem muito singela. Meus pais, trabalhadores de origem rural, decidiram ir para a cidade grande na década de 80. Sem estudo, sem experiência com carteira assinada... Meu pai, homem negro e pobre, com dois filhos pequenos e uma esposa do lar. Não precisa de muita imaginação para concluir como foi difícil a caminhada.
No início dos anos 90, conseguimos uma oportunidade de morar em uma casa simples, nos fundos de uma igreja católica. Em troca, meus pais se tornaram os caseiros da capela. Foi ali que nossa família passaria os próximos 20 anos (e, no meio do caminho, com uma nova irmã, completando a família).
Durante todo esse período, nunca... nem um único dia sequer da minha vida, me recordo de ter visto o meu pai chegar em casa de cabeça baixa. Ele e minha mãe nunca estavam de mau humor. Mesmo nos momentos críticos, convivendo com desemprego e só não passando necessidade por conta das doações que recebíamos, eu não me senti marginalizado. Nunca percebi “bullying” ou qualquer tipo de discriminação. Meus pais, sem nenhum tipo de sofisticação, criaram seus filhos para batalhar, persistir e acreditar em dias melhores. Simples assim. Minha primeira lição sobre como conviver em ambientes pouco diversos.
O tempo passou. Ainda no final da infância precisei começar a trabalhar e desenvolvi minha carreira sempre com esses valores em minha essência. Hoje, olhando para trás, eu consigo perceber com mais clareza todas as dificuldades que nossa família superou.
Eu e meu pai, brincando de dominó no quintal de nossa casa.
Eu nunca tive acesso a um ensino de qualidade em minha infância, ou a um tratamento dentário, a um acompanhamento médico ou qualquer uma dessas coisas básicas da “vida moderna”. Através de leitura de livros didáticos de inglês, doados na igreja em que a gente morava, aprendi desde cedo a ter gosto por uma segunda língua – e mal sabia o quanto isso iria me ajudar no futuro.
Ao longo do tempo, fui reprovado em muitos processos seletivos. Na época eu pensava: “Não era pra ser”. Mas hoje, mais maduro e consciente, consigo voltar em cada entrevista e perceber os julgamentos e preconceitos de pessoas que julgam pela aparência, pela qualidade da roupa e até mesmo pelo bairro onde eu morava.
Todas essas experiências fizeram crescer em mim um desejo ardente de trabalhar em uma área onde eu pudesse ajudar pessoas a serem mais conscientes e olharem “além dos números e das aparências”. Encontrei no RH uma chance de fazer isso. Mas não foi fácil. Em 2008, ainda atuando em uma área técnica, comecei a ajudar pessoas, de forma voluntária e nas horas vagas, a criar um CV, a se preparar para uma entrevista. Esbarrei até mesmo em viciados em drogas, mas que hoje são advogados, administradores e por aí vai.
Após 14 anos de muita preparação e várias entrevistas frustradas, eu consegui minha primeira chance na área. Durante os momentos em que pensava em desistir, lembrava dos valores dos meus pais e seguia em frente. Hoje sou um homem casado, pai de duas meninas lindas, saudável, feliz e acabei de receber um certificado vindo de um outro País - graças à persistência em aprender uma nova língua, entre outras coisas, mesmo com o mundo me dizendo muitas vezes que isso não seria possível.
Resolvi dividir essa fração da minha história porque o curso de Diversidade me mostrou que, antes de julgar, de querer tomar um partido ou uma decisão que tenha impacto na vida de outras pessoas, devemos ter um olhar empático. Em quase 100% das situações nós não temos a menor ideia do que se passa com a pessoa com quem estamos conversando, que estamos contratando, demitindo ou simplesmente vendo passar.
Em um mundo cada vez mais polarizado, intolerante e até mesmo depressivo, vejo ainda mais importância em viver os valores de meus pais: batalhar, persistir e acreditar em dias melhores.
Isso se passa em ter uma consciência maior sobre as diferentes pessoas que conhecemos ao longo de nossas vidas. Se você é um ser humano, convoco você a conhecer mais sobre Diversidade & Inclusão. Não importa qual seja a sua cor, etnia, opção sexual, crença religiosa... Não importa se você vem de uma origem humilde ou sempre teve recursos... Buscar conhecer melhor sua história e se interessar genuinamente pela história de quem vive ao seu redor te fará uma melhor pessoa (e certamente um melhor profissional).
A cada diz que passa, a tecnologia vai exigindo que sejamos mais e mais humanos. Entender melhor como navegar pelas diferenças é fundamental para criarmos ambientes de trabalho sustentáveis e inclusivos.
Pense nisso. Um ótima semana!
Obs.:
Se você se interessou pelo tema, deixo aqui algumas sugestões de leituras e um vídeo que podem ajudar você nessa caminhada sobre Diversidade e Inclusão (os que tive acesso estão em inglês, mas se você tiver algumas sugestões em português, deixe nos comentários):
- “Success Through Diversity: Why the Most Inclusive Companies Will Win” de Carol Fulp
- “We Can’t Talk about That at Work!: How to Talk about Race, Religion, Politics, and Other Polarizing Topics” de Mary-Frances Winters
- “Inclusive Conversations”, também de Mary-Frances Winters
VP & Partner at FESA Group
3 aBoa, Andre Andrade!! Ótimo texto e reflexão! Boa seman pra vc tbm!
Consultora de Recursos Humanos (RH) | Especialista em Gestão de Carreiras e Desenvolvimento Humano | Empregabilidade (Currículo, LinkedIn, Entrevistas, Networking) | Soft Skills | DISC | PDI | Orientação Profissional
3 aAndre Andrade, muito legal conhecer um pouco mais a sua história e a sua dedicação em relação ao estudo da diversidade. Concordo com você que todos devemos buscar mais informação e conhecimento sobre inclusão e diversidade. Obrigada pelas indicações! Além de cursos e livros, indico acompanhar alguns influenciadores aqui no próprio LinkedIn, já que muitos Top Voices abordam estes temas. Abraços!
Sócio-Diretor Grupo Proposito (Proposito Human Capital Solutions, AGIL People Solutions, PRO DigitalHR)
3 aExcelente Andre Andrade ! Texto que nos faz refletir e nos inspira a questionar nossas atitudes no dia a dia. Parabéns!!!
Founder da Techrx - Professora na Dom Cabral - Educadora Parental - Chief Happiness Officer
3 aCarimie Romano [ela/ella/she]
RH na Volvo I Recursos Humanos | Recrutamento & Seleção I Desenvolvimento Organizacional
3 aBeatriz Santa Rita será que tô no caminho?