Por uma gestão socioambiental efetiva
Eli Lemos

Por uma gestão socioambiental efetiva

Certa vez, discutindo com uma empresa gestora de um grande porto no Brasil durante a transição da diretoria, fizemos uma pergunta não corriqueira ao novo presidente: você tem segurança para assumir o empreendimento considerando o status socioambiental? O desconforto causado pela pergunta não veio de forma alguma de um olhar desatento para as questões ambientais, mas sim pela dúvida sobre a qualidade das informações socioambientais levantadas e utilizadas pelo empreendimento, de seus impactos potenciais e os já ocorridos. Afinal de contas, as informações de operação são amplamente gerenciadas, mas como estão as informações socioambientais aplicadas a essa operação?

A gestão socioambiental de um grande empreendimento é complexa, principalmente pela diversidade de informações necessárias para coleta e análise, pela complexidade de relacioná-las aos desafios de operação do empreendimento, mas, principalmente, pela abrangência de stakeholders que precisam ser comunicados, apoiados ou que necessitem de intervenções. Para o empreendimento portuário em questão, se tratava em quase 1.000 condicionantes socioambientais em mais de 20 licenças para áreas de influencia socioeconômica e físico-biótica de mais de 75 e 35 km de raio, respectivamente. Muitas prefeituras, comunidades, ONGs, órgãos ambientais etc., sem contar outras empresas, cadeia de suprimentos, infraestrutura de acesso etc. influenciados por esse empreendimento.

Para portos, e para diversos outros negócios em infraestrutura, produção, mineração, extrações diversas e mesmo empreendimentos agropecuários, o correto desenho e execução da gestão socioambiental trás ganhos de produtividade, melhor relacionamento com os stakeholders e menor risco à alta gestão e a conselheiros. Também reduz custos com programas socioambientais, trazendo melhores resultados de impactos mensuráveis de forma mais eficiente. Já trabalhamos com casos em que a redução do custo da gestão socioambiental foi da ordem de 30%, com melhores resultados operacionais e de visibilidade dos programas implantados. Voltando ao empreendimento portuário, durante a nossa análise técnica foram encontradas várias condicionantes remetendo a um mesmo impacto ocorrido. Isso implica em duplicidade de investimentos em programas de compensações, sem a devida necessidade, ou seja, aumento de custos, sem necessariamente um melhor resultado socioambiental. Além disso, os investimentos não estavam necessariamente conectados com os resultados esperados para o IDA - Índice de Desempenho Ambiental, criado pela Antaq. (leia o post do Juan Landeira sobre a relevância desse aspecto).

No Brasil e no mundo, os esforços socioambientais são bem dimensionados e reconhecidos. Porém, os resultados ainda estão aquém do que nossa sociedade demanda. Um olhar sistêmico, inovador e efetivo para essas questões são fundamentais. Num prazo muito curto, uma má gestão socioambiental pode implicar em inviabilidade de investimento ou de operação em negócios antigamente bem estruturados.

 

*Euler Santos é diretor técnico na Promon Meio Ambiente. A PMA, através da TerraVision, da Brandt Meio Ambiente e da Verti Ecotecnologias, possui as competências necessárias para o desenho, a implantação e a gestão socioambiental em empreendimentos de infraestrutura. Além disso, possui ferramentas proprietárias para geoespacialização da gestão socioambiental.

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