Portugal Inovador
Durante este confinamento, descobrimos que Portugal é um país inovador.
Tudo graças ao relatorio do EIS (European Innovation Scoreboard 2020) que posiciona Portugal pela primeira vez como um Strong Innovator. Algo inédito e pelo qual devemos estar verdadeiramente orgulhosos. Este é o resultado de um trabalho árduo que tem vindo a ser executado diariamente por todas as empresas e organismos que desenvolvem a sua atividade em Portugal.
Não obstante, não podemos descurar o papel dos fundos comunitários para a inovação (H2020) dos quais foram aprovados mais de 2.000 projetos num total de mais de mil milhões de euros financiados. De todos estes projetos, os centros de investigação foram os principais beneficiários, ao captarem 37,1% do financiamento europeu atribuído. As instituições de ensino superior representaram 26,7%, as PME 6,7% e as grandes empresas 10,3%. O restante foi destinado a instituições públicas, associações, etc.
Desde os anos 60 que diversos cientistas sociais tinham proposto uma nova economia, uma economia sustentada no conhecimento. No entanto, foi a apenas nos anos 90 que a OCDE relançou o conceito e deu preponderância ao mesmo. Esta passagem foi reforçada pela aceleração da difusão das TIC, designadamente pelo computador pessoal e pela internet. Esta ultima terá sido, muito provavelmente a invenção mais importante na área das comunicações desde a introdução da imprensa por Gutemberg em 1436.
Apesar do esvaziamento da bolha das dot.com em 2001, que veio arrefecer o excessivo otimismo que havia sido protagonizado por tantos académicos de renome como Peter Drucker e Alvin Toffler, era inegável que a economia mundial tinha sido alvo de um processo transformacional. Essa mudança é hoje clara e notória. A força motora da economia dos diversos países desenvolvidos assenta no conhecimento, no know-how e consequentemente na capacidade das suas empresas de produzirem inovação.
Olhando em maior detalhe para o relatório da EIS e em particular para o ranking dos diversos países europeus, temos:
. No grupo da frente (Innovation Leaders) países como a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca;
. No 2º grupo (Strong Innovators), a Áustria, Bélgica, Alemanha, França, Irlanda, Estónia e Portugal);
. No 3º grupo (Moderate Innovators), países como a Croácia, Grécia, Itália, Espanha, …
. No ultimo grupo (Modest Innovators), países como a Roménia e Bulgária.
Este ranking foi efetuado tendo por base 27 indicadores que estão agrupados em 10 grandes pilares:
. Recursos Humanos, o primeiro lugar é ocupado pela Suécia e Portugal está em 17º lugar (2 lugares abaixo da média Europeia);
. Atratividade dos sistemas de research, o primeiro lugar é ocupado pelo Luxemburgo e Portugal está em 11º lugar (2 lugares acima da média europeia);
. Ecossistema amigável à inovação, o primeiro lugar é ocupado pela Dinamarca e Portugal está em 7º lugar (4 lugares acima da média europeia);
. Financiamento e suporte, o primeiro lugar é ocupado pela Dinamarca e Portuga está em 15º lugar (5 lugares abaixo da média europeia);
. Investimento empresarial, o primeiro lugar é ocupado pela Alemanha e Portugal ocupa a 9ª posição (2 lugares abaixo da média europeia);
. PME's inovadoras, o primeiro lugar é ocupado por Portugal (15 lugares acima da média europeia);
. Colaboração empresarial, o primeiro lugar é ocupado pela Áustria e Portugal ocupa a 20ª posição (7 lugares abaixo da média europeia);
. Propriedade intelectual, o primeiro lugar é ocupado pelo Luxemburgo e Portugal ocupa o 17º lugar (5 lugares abaixo da média europeia);
. Impacto ao nível dos RH, o primeiro lugar é ocupado pela Irlanda e Portugal ocupa o 17º lugar (4 lugares abaixo da média europeia);
. Impacto ao nível das vendas, o primeiro lugar é ocupado pela Irlanda e Portugal ocupa a 24ª posição (19 lugares abaixo da média europeia).
Embora Portugal esteja classificado no grupo Strong Innovators, uma análise mais cuidada denota que dos 10 pilares analisados ao nível europeu, Portugal apenas se encontra acima da média europeia em 3. Estamos acima da média europeia, na "Atratividade dos sistemas de research", no "Ecossistema amigável à inovação" e na "PME's inovadoras". Ou seja, embora tenhamos um tecido empresarial constituído por 99,9% de PME's, as mesmas têm conseguido inovar nos seus processos, produtos ou serviços, temos conseguido publicar artigos científicos e temos as infraestruturas necessárias para o desenvolvimento da inovação.
Do outro lado da moeda, estamos abaixo da média europeia, na qualificação dos RH (atrás da Lituânia e do Chipre), no financiamento e investimento empresarial, na colaboração empresarial, nos registos de propriedade intelectual e no consequente impacto ao nível de RH (tarefas de alto valor acrescentado) e do retorno ao nível dos negócios realizados.
E estes dados revelam uma lacuna basilar da estrutura socioeconómica portuguesa que pode hipotecar o futuro de Portugal. O conhecimento, o know-how deve e terá que ser um desígnio nacional. É nele, que reside o futuro do nosso país e dos nossos cidadãos. Se queremos (e temos) que dar o salto deve ser nesta área que temos que colocar todo o nosso empenho e todo o nosso foco na educação.
Não podemos e não queremos competir nos baixos custos. Não podemos e não queremos competir na mão de obra intensiva e sem qualificação. Não podemos e não queremos competir com a China ao nível dos custos de produção, mas podemos e devemos competir com a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca ao nível da inovação e do conhecimento.
E este é o momento. Este é o momento de preparar o nosso futuro, o futuro do nosso país e das futuras gerações. Com o próximo quadro comunitário, relativos aos fundos europeus da política de coesão relativo a 2021-2027 temos que ser capazes de aplica-los na educação e na formação. E este investimento deve ser efetuado na camada mais jovem, mas também nos nossos gestores e empreendedores. É crucial, num país com 99,9% de PME's, dotar o nosso tecido empresarial de know-how para continuar a inovar de forma a manter e evoluir as suas empresas num mercado cada vez mais global e mais digital.
E para tal os programas operacionais (como o POCH) têm aqui um papel fulcral. Através dos seus 5 eixos de apoio (formação de jovens, formação avançada, formação ao longo da vida, qualidade e inovação e apoio técnico) podem e devem continuar a ser uma alavanca na transformação do nosso país. Até 2020 o POCH teve uma dotação financeira de 3 mil milhões de euros e prevê-se que no novo quadro comunitário esta dotação possa duplicar.
Mas é crucial que todos nós façamos o nosso trabalho. Que tenhamos a consciência que o futuro será difícil, árduo e penoso. Mas que, se nos prepararmos, se tivermos as ferramentas certas (Know-how) teremos um lugar de destaque na europa e no mundo tal como os nossos antepassados o tiveram na altura dos descobrimentos. Tivemos a ousadia, a coragem, mas inegavelmente o know-how para conquistar "…. mares nunca de antes navegados ".
Devemos usar este relatório da EIS-Portugal Strong Innovator, para criar um desígnio nacional. Um desígnio em que Portugal se torne um país com um capital humano com know-how, com conhecimento, com melhores recursos humanos… um país com o conhecimento certo para partir á descoberta de um novo mundo, um mundo de inovação.
"As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;"
In Lusiadas
IT Program Manager at Fidelidade
4 aArtigo muito interessante. Parabéns Felix Lopes. Admito que fiquei surpreendido pela posição de Portugal neste ranking e mais ainda no indicador das PME's inovadoras. Só está a faltar a colaboração.
Portugal já é, mas não muitos enchergam. NO fim, os jovens vão mesmo trabalhar para as empresas estrangeiras...