Precisamos falar sobre o Racismo: Combatendo as "pequenas" ações racistas causadas por um racismo estrutural nas organizações do mercado de trabalho
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Precisamos falar sobre o Racismo: Combatendo as "pequenas" ações racistas causadas por um racismo estrutural nas organizações do mercado de trabalho

Hoje, 10 de maio de 2023, me deparei com uma postagem linda, aqui no linkedin, tecida pela atriz Taís Araujo sobre a importância da representatividade de pessoas pretas como protagonistas das telenovelas brasileiras. Na postagem ela falava como estava feliz por termos um marco histórico das três principais novelas globais serem protagonizadas por pessoas negras. Um comentário, entretanto, chamou minha atenção, o comentário trazia a seguinte indagação: "É só a cor ou é o talento?" - o comentário era de uma pessoa branca. Na hora pensei: Se encontramos esse tipo de questionamento aqui no linkedin, também podemos encontrar dentro das nossas empresas e organizações. Precisamos, então, falar sobre o racismo!

O racismo é um problema enraizado em nossa sociedade brasileira há séculos. Embora tenhamos progredido significativamente em muitas áreas, a discriminação racial ainda persiste em diversas formas, inclusive no ambiente de trabalho. É essencial reconhecer que o racismo não se manifesta apenas por meio de atos explícitos de ódio, mas também por pequenas ações e atitudes sutis que reforçam um sistema racista. Neste artigo, quero explorar como essas "pequenas" ações racistas são resultados de um racismo estrutural e discutiremos a importância de combatê-las nas organizações do mercado de trabalho.

Entendendo o racismo estrutural:

O racismo estrutural é um sistema de desigualdade enraizado nas estruturas e instituições de uma sociedade. Ele permeia todos os aspectos da vida, incluindo o mercado de trabalho. No Brasil, por exemplo, a população negra enfrenta desafios sistemáticos no acesso a oportunidades de emprego, promoções e salários justos. Além disso, os estereótipos e preconceitos arraigados perpetuam a marginalização dos profissionais negros, dificultando sua ascensão nas organizações.

A ilusão da meritocracia:

Em um mercado de trabalho ideal, a meritocracia seria um princípio fundamental, onde as oportunidades seriam distribuídas com base no mérito e nas habilidades individuais. No entanto, a realidade é que vivemos em uma sociedade marcada pelo racismo estrutural, onde pessoas negras enfrentam barreiras significativas na busca por qualificação, vagas de emprego e no avanço de suas carreiras.

A meritocracia pressupõe que todos têm as mesmas oportunidades e que os indivíduos alcançam o sucesso apenas com base em seus méritos individuais. No entanto, essa ideia ignora as desigualdades estruturais que afetam pessoas negras desde o início de suas vidas. A falta de acesso à educação de qualidade, a segregação residencial e a discriminação sistemática criam obstáculos significativos que dificultam o avanço profissional das pessoas negras.

Claro que isso não acontece para todas as pessoas negras, algumas têm o privilégio de nascerem em um lar bem estruturado, terem acesso à educação de boa qualidade e desfrutarem de uma qualidade de vida decente. Mesmo assim, elas encontram dificuldade de colocação no mercado. Aqui está o problema dos padrões sociais e dos vieses cognitivos arraigados na nossa sociedade.

Os vieses cognitivos, muitas vezes inconscientes, podem levar a avaliações distorcidas e preconceituosas durante os processos de seleção. Mesmo que uma pessoa negra com privilégios demonstre qualificações e competências excepcionais, ela ainda pode ser subestimada ou confrontada com a desconfiança devido aos estereótipos negativos associados à sua raça. Essa dinâmica cria uma barreira adicional para esses profissionais, dificultando a conquista de oportunidades em linha com suas habilidades e experiências.

Da mesma forma, uma pessoa branca, por mais que não tenha tido acesso à educação e não esteja qualificada para uma vaga, por se encaixar nos vieses cognitivos enraizados na sociedade podem ser vistas como "melhor preparadas" para algum cargo.

As "pequenas" ações racistas no ambiente de trabalho:

As pequenas ações racistas são comportamentos, comentários ou decisões que podem parecer inofensivos à primeira vista, mas têm um impacto significativo na experiência dos profissionais negros. Por exemplo, piadas raciais disfarçadas de "brincadeiras" podem criar um ambiente hostil e constranger os funcionários negros. Quero aqui também levar-nos a pensar sobre os gatilhos mentais que ativamos em pessoas que passaram a vida inteira sendo diminuídas, limitadas, silenciadas e violentadas por conta da herança histórica que o racismo tem no mundo. Além disso, a falta de representatividade nos espaços de liderança, a atribuição de estereótipos negativos e o tratamento diferenciado são exemplos de como o racismo estrutural se manifesta nas organizações.

A falta de representatividade é extremamente nociva, pois comunica intrinsecamente, que não adianta sonhar com um futuro melhor. Ela torna inalcançáveis os objetivos e aspirações profissionais. Imagine que uma pessoa ouviu durante toda a vida que é impossível ser uma gerente negra, ela busca referências em todas as organizações em que é admitida e não consegue visualizar em cargos de gerência, pessoas negras. Nas novelas, filmes e livros que ela assiste e lê, as pessoas negras estão sempre em cargos estereotipados como empregadas domésticas, criminosos, presidiários, moradores de favela, pessoas em situação de rua e, em alguns casos, até escravos. Qual a perspectiva de futuro e, pior, quais as vozes internas e externas, vão direcionar essa pessoa?

Essa não deve ser uma pauta apenas do RH ou uma bandeira carregada apenas pelas pessoas negras. Precisamos assumir nossa responsabilidade e buscar, sempre que for necessário, elucidar essas questões fazendo com que pessoas que têm pequenas ações racistas reflitam sobre como essas ações são nocivas, machucam e violentam toda uma raça.

Somos uma sociedade e devemos lutar pelo respeito nas nossas relações interpessoais em todas as esferas que estejamos.

Combatendo o racismo nas organizações:

É responsabilidade de todos combater o racismo estrutural nas organizações do mercado de trabalho. Aqui estão algumas ações que podem ser adotadas para promover um ambiente mais inclusivo:

a) Educação e conscientização: Promover a conscientização sobre o racismo estrutural e os privilégios é essencial. Treinamentos e workshops sobre diversidade e inclusão pode ajudar a sensibilizar os colaboradores para as questões raciais e desconstruir estereótipos. É importante criar um espaço seguro para as pessoas compartilharem experiências e aprendam com diferentes perspectivas.

b) Políticas e práticas inclusivas: Estabelecer políticas claras de não tolerância ao racismo e à discriminação, bem como implementar práticas que garantam a equidade de oportunidades, é fundamental. Isso inclui a revisão dos processos de contratação, promoção e avaliação de desempenho, buscando eliminar preconceitos inconscientes.

c) Representatividade, diversidade e inclusão: É crucial promover a diversidade em todos os níveis hierárquicos da organização. Isso envolve a adoção de programas de recrutamento que valorizem a inclusão, a criação de espaços de diálogo para que todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas, independentemente de sua origem étnica, e a implementação de medidas para aumentar a representatividade e o respeito - como a formação de grupos de afinidade e a criação de oportunidades de desenvolvimento para profissionais negros.

d) Revisão dos processos de recrutamento: As organizações devem examinar seus processos de recrutamento para identificar e eliminar vieses e práticas discriminatórias. Isso pode incluir a adoção de currículos cegos, onde as informações pessoais, como nome e foto, são removidas durante a fase inicial de triagem, para que os candidatos sejam avaliados com base em suas qualificações e experiências.

e) Ampliação das redes de contatos: As empresas podem investir em programas que promovam a ampliação das redes de contatos dos candidatos negros. Parcerias com instituições educacionais, programas de estágio e mentoria são exemplos de iniciativas que podem fornecer acesso a oportunidades profissionais que antes eram inacessíveis.

d) Combate aos estereótipos: É fundamental desconstruir estereótipos prejudiciais e promover uma cultura de respeito e igualdade. Isso pode ser alcançado por meio de campanhas de conscientização, comunicação interna inclusiva e pela valorização da diversidade cultural dentro da organização.

e) Escuta ativa e diálogo aberto: Promover um ambiente em que as pessoas se sintam confortáveis para compartilhar suas experiências e preocupações é essencial. Os líderes devem demonstrar uma postura de escuta ativa, acolhendo as demandas e sugestões dos colaboradores, e agir de forma a promover a igualdade e combater o racismo sempre que necessário.

Combater o racismo estrutural no mercado de trabalho exige um esforço coletivo e contínuo. Pequenas ações racistas podem ter um impacto profundo na vida dos profissionais negros e perpetuam um sistema desigual.

Para construir uma sociedade mais justa e inclusiva, é necessário que nós, que fazemos parte das organizações, assumamos a responsabilidade de combater o racismo por meio de políticas inclusivas, educação, diversidade e diálogo aberto.

Somente dessa forma poderemos criar um ambiente de trabalho onde todos os profissionais, independentemente de sua raça ou origem étnica, possam prosperar e contribuir plenamente para o crescimento e sucesso das organizações. Juntos, podemos fazer a diferença e construir um futuro mais igualitário para todos.


Sua empresa já segue esses passos? Existem outros que não abordei aqui? Junte-se a mim e a tantos outros e sugira outras ações para podermos mudar essa realidade dentro das nossas organizações.

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Esli Queiroz | esliqueiroz@gmail.com | Linked in |

Paloma Emidio Bispo

Talent Development/ &Inclusion/ Labors Affairs/ Intercâmbio Auckland

1 a

👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾 Simplesmente sensacional São situações que temos que enfrentar todos os dias… pensamos que poderia ser diferente, mas no dia seguinte está tudo igual (ou pior)… Isso tem que acabar!

Rafael de Barros Marinho, MSc

CEO e Fundador da Barros & Oliveira | Especialista em Cidadanias Europeias | Consultor Migratório | LION™

1 a

Hoje, é inaceitável que ainda tenhamos que lidar com a prática repugnante do racismo. É uma violação flagrante dos direitos humanos e uma forma de discriminação que não tem lugar em uma sociedade moderna e progressista. O racismo é um obstáculo para a construção de um mundo justo e igualitário, minando a dignidade e a liberdade das pessoas afetadas por ele. Devemos unir nossas vozes e nos posicionar firmemente contra o racismo, trabalhando juntos para erradicá-lo de uma vez por todas. O racismo não apenas perpetua estereótipos prejudiciais e generalizações simplistas, mas também cria divisões e conflitos desnecessários entre as pessoas. Negar a igualdade de oportunidades e tratamento justo com base na cor da pele é uma injustiça gritante. É nosso dever como seres humanos defender a igualdade de direitos e tratar todas as pessoas com respeito, independentemente de sua raça ou etnia. Somente através da educação, conscientização e ações enérgicas podemos combater efetivamente o racismo e criar uma sociedade inclusiva, onde todos tenham a chance de prosperar e viver livremente, sem medo de discriminação.

Valéria Nascimento

Educadora Musical, Psicóloga Clínica Comportamental, ABA, Psicopedagoga , Musicoterapia, Psicóloga Social

1 a

Não podemos deixar passar mais essa pauta… 🙌🏽🙌🏽🙌🏽🙌🏽🥲🥲🥲

Anna Gould

Guardians of the Law, Advocates of Justice

1 a

Precisamos ser antirracistas para que essas "opiniões" sejam refletidas e muito menos compartilhadas nas redes. Artigo maravilhoso!

Gisele Cristina T. da Silva

Assessora de Superintendência /Professora de Psicoética e Técnicas de Treinamento e Ensino

1 a

Postagem muito essencial! Parabéns!

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