Primo Rico, Olivetto e a Publicidade

Se você ainda não foi impactado, em breve o será. Thiago Nigro, o popular “Primo Rico” da internet, está oferecendo no YouTube, em todas as redes sociais e quiçá em homens placa que vendem ouro na Avenida Paulista o seu novo curso sobre processos de criação - estrelado por nada mais, nada menos, que Washington Olivetto.

Pois bem. Que Olivetto sabe muito sobre criatividade, me parece óbvio. Ele é, e sempre será, um dos principais expoentes da publicidade brasileira. Não apenas abriu espaço para a profissão aqui mesmo no país (possibilitando que pessoas como eu não tivessem que escolher entre Direito ou Engenharia), como também angariou muitos louros e ouros para a nossa propaganda em festivais internacionais.

Por mais que não exista uma fórmula única para se ter ideias e que o tal processo seja amplamente pessoal e gradual, não tenho dúvidas que o W cantado por Jorge Ben tenha técnicas interessantes para compartilhar com quem está disposto a aprender sobre o assunto.

O que me incomoda nisso tudo, de verdade, é o mecenas por trás desta iniciativa - e como, naturalmente, é deturpado, simplificado e até mesmo supervalorizado o processo de criação publicitária.

Na página do referido MBA, as promessas são muitas (abre aspas):

• Aprender a multiplicar suas vendas criando ótimas campanhas de publicidade;
• Aprender a vender mais gastando menos;
• Criar marcas e reputações que são sempre as mais lembradas pelo consumidor;
• Afiar o discurso para começar a vender milhões de reais a mais;
• Criar campanhas que viralizem e se tornem assunto obrigatório das pessoas.

Reparou que todos os argumentos passam por vendas e/ou reconhecimento pessoal? Você se inscreve no curso e, voilà!, sai dali sendo o melhor profissional de propaganda já visto no planeta. Alguém que não só cria as melhores e mais marcantes campanhas do planeta, mas que também otimiza a verba dos clientes para ter cada vez mais milhões em sua conta bancária.

Balela? Com certeza. Mas algo totalmente esperado de quem se notabilizou ensinando às pessoas a como se ir do mil ao milhão, “fazendo com que o seu dinheiro trabalhe por você”.

Ao meu ver (e o meu olhar aqui traz 20 anos de empirismo na área), existem diversos cursos que podem sim auxiliar profissionais a desenvolverem melhor o seu método criativo. Mas, sinceramente, é algo que pede mais transpiração do que inspiração. Fora que qualquer pessoa que trabalhe com isso sabe muito bem que este é um processo pra lá de complexo, com muitas informações, variáveis, entraves, limitações (de verba e de tempo) e afins.

Ademais, este não é um processo individual. Na vida real, raramente cria-se sozinho. Você pode até conceber um insight ou colocar a mão na massa dentro da sua casinha, mas todo o sistema envolve muitas outras cabeças e opiniões - sejam elas do seu dupla, chefe, parceiro ou cliente. Quem cria sozinho é artista, não publicitário.

A verdade é que propaganda bem feita não tem atalho, mágica ou esquema de pirâmide. Assim como, imagino eu (um rapaz de Humanas pouquíssimo afeito às Exatas) que não basta fazer um curso por melhor que seja sobre investimentos para se tornar um multimilionário no ramo.

Seja como for, o curso - e a campanha que tenta desesperadamente vendê-lo - está aí. Se matricula quem quer.