Propósito de Marca: Já iniciou a sua jornada?
Acordo todos os dias bem cedo e tenho a primeira missão de levar o meu filho adolescente para a escola. O meu café da manhã é preparado de forma rápida; eu tomo o primeiro expresso dos vários ao longo dia, e me deparo logo cedo com uma cápsula de alumínio que sai de uma caixa de papelão. Lembro que ao comprar as cápsulas, recebi um plástico para colocar as usadas e a instrução de que quando as mesmas estiverem cheias, para que eu as deixe em um ponto de coleta. Se eu fizer isto, me dizem que o adubo vai para o solo e o alumínio é 100% reciclado. OK, fico menos preocupado com o impacto do meu consumo. Confesso que esta não foi a razão pela qual eu comprei a marca, mas posso dizer que tudo soma...
Num mundo onde compramos bens e serviços com cada vez mais opções, as marcas lutam para se destacar em todos os territórios e é fato que hoje elas precisam de algo mais.
Num mundo cada vez mais ‘uberizado’, a posse de algo, toma diferentes proporções, principalmente paras as novas gerações, que são muito mais sensíveis a estas mudanças.
Ter, possuir algo, mesmo que de forma temporária, passa a carregar o sentido de que no mínimo, este ‘bem’ fez e faz o bem. Isto é, a cadeia de produção tem impacto mínimo sobre o meio ambiente, embalagens podem ser recicladas e finalmente o seu consumo pode de alguma forma, contribuir com algum impacto positivo para a sociedade.
Nesta última parte, que muitos atribuem ao seu ‘propósito’, a maioria das marcas estão apenas iniciando a sua jornada. Produzir impacto na sociedade não é a única forma de propósito de marca1, mas eu acredito que seja a mais poderosa.
Algumas marcas produzem um impacto positivo na sociedade, por exemplo, destinando em algumas campanhas pontuais, a sua renda para instituições mais necessitadas. Embora isto realmente ajude e se caracterize como marketing social, é preciso entender que isto não é propósito de marca.
O propósito de marca é o significado por trás da sua existência, o seu verdadeiro DNA - uma visão idealista do que você quer se tornar para o seu público.
Talvez o exemplo mais emblemático de propósito que impacta na sociedade, seja a da marca de roupas esportivas ‘Patagônia’. O seu reconhecido programa “Common Threads”, tem por objetivo reciclar peças de vestuários criando novas fibras. O programa é composto por 5 “R´s” – “Reduza o que você tem”, “Reutilize o que possui”, “Repare o que puder” “Recicle todo o resto” e “Recrie um mundo sustentável”.
Lembre-se de que, independentemente do propósito escolhido, você deve torná-lo autêntico e transparente.
É necessário convencer as pessoas de que sua marca vive e prega seus valores e não apenas os menciona em lindas e efêmeras campanhas de publicidade. 'This is inside out'!
Dove se tornou uma marca icônica, ao promover a beleza e diversidade ‘real’ das mulheres de todas as formas, melhorando a sua autoestima. Sabemos que a marca não nasceu com este propósito, mas um trabalho sério e consistente pode mudar o DNA de uma marca e sua razão de existência.
Simon Senek (autor do ‘Circulo dourado’) pôde ilustrar muito bem o valor do propósito de marca com a sua famosa frase que eu prefiro não traduzir:
‘People don't buy what you do; they buy why you do it’.
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Já próximo de deixar o meu filho ‘geração Z’ na escola, ele me questiona:
- Pai, você não acha que toma muitas cápsulas de café?
Escrevo no meu diário de anotações: ‘reduzir consumo de café...’ Talvez seja bom para mim e melhor ainda para o meio ambiente!
PS: Se você quiser atrair talentos da geração do meu filho num futuro próximo, pode ter certeza de que eles priorizarão trabalhar para as marcas com propósito!
E você? Que outros exemplos do Brasil você gostaria de dividir por aqui de marcas que estão trabalhando bem esta jornada do propósito?
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1. Jim Stengel (CMO da P&G entre 2001 e 2008) publicou em 2011 em seu livro “Grow” 5 categorias de propósito na qual a maior parte das marcas se encaixam: 1. Impacto sobre a sociedade; 2. Evocam orgulho; 3. Inspira a explorar; 4. Facilita conexões e 5. Motiva felicidade.
Sobre mim:
Profissional sênior da área de Marketing com forte atuação global, regional e local. Possuo expertise na área de gerenciamento, desenvolvimento, pesquisas e monitoramento de marcas e em todos os processos do desenvolvimento da comunicação. Formei e apoiei equipes de empresas do setor de consumo, bens duráveis, tecnologia, telecomunicações, retail, automotivos e serviços profissionais. A ampla experiência que obtive como cliente de grandes empresas e provedor de serviços de informação permitem que eu conecte a uma visão de negócios apurada, forte orientação e suporte de dados para tomada de decisões assertivas. Sou formado em Economia, com especialização em Marketing Digital e Analytics pela Columbia Business School e já ministrei aulas de Marketing para turmas de MBA executivo pela Universidade de São Paulo.
Te ajudo com planejamento financeiro para proteger suas finanças agora e garantir o amanhã!
5 aAlan Liberman parabéns pela profunda reflexão que nos leva com seu artigo. O propósito tem que ser genuíno, pois sempre vem a luz a verdadeira intensão.
Gerente de Comunicação e Marketing | Consultora em Comunicação e Mídias Digitais | Relações Públicas
5 aMais um fantástico artigo, Alan! Sempre muito bom ler temas de marketing escritos por você!
Fundador e CEO da MOTIVARE | Autor do livro “Marketing sem blá-blá-blá: inspirações para transformação cultural na era do propósito”
5 aBoa Alan. O Propósito de uma marca é uma revelação, nunca uma definição. A maioria das marcas tradicionais podem se beneficiar de estratégias de cause marketing(como Doritos tem feito brilhantemente com Rainbow pex) mas as tentativas de muitas tentando alegar mudança ou adoção de propósito não “cola”. Não passa autenticidade para a nova geração de consumidores. Marcas como Patagonia,Tom’s e Selina entre outras são o real exemplo do que significa um Brand Purpose.