Quando a estratégia falha

Quando a estratégia falha

São Paulo, 28/08/2022

Gosto da frase “Keep it simple”. Diz tudo, faz ficar transparente e direto. Deveria ser a base de toda estratégia. Mas para se chegar a isso, é preciso ter muito discernimento. Saber ler o momento e entender onde estamos indo. Escrever é fácil, certo? Vamos ser simples e direto:

O gráfico abaixo, feito por Frederik Ducrozet, Head of Macroeconomic Research na Pictet Group, ilustra como a Europa errou em sua estratégia energética deixando-a em situação complicada, pré-inverno europeu, e com a inflação global aumentando. A Europa simplesmente concentrou sua matriz energética em gás vindo da Rússia. Não obstante, ao aderir ao embargo ocidental à Rússia, devido a guerra da Ucrânia, a Europa vê seu fornecimento de gás reduzido e seus preços subindo descontroladamente. 

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Até então, a ideia parecia boa: Trocar a energia poluidora baseada em carvão por gás, que é muito mais limpo, e atende melhor ao ideal ambiental europeu. Onde está o erro? Concentração no gás e no fornecedor (Rússia) e ainda foi fazer embargo contra seu parceiro comercial. Qual o impacto no negócio e na economia? Vários. Para se ter uma ideia, uma linha de produção leve, que use média tensão, gasta entre 5-8% do custo em energia. Depende muito do tipo de produção e da idade das máquinas. Mas em geral é isso. Imaginem o produtor alemão vendo sua energia subir 20X, ou francês olhando seu custo de energia multiplicar por 17x. Muitos sairão do negócio, e a população vai pagar a conta. As siderúrgicas e emrpesas que tem autoformo vão ter que multiplicar o preço de venda sob risco de perder volume. Mas não tem como desligar os fornos. É uma situação alarmante.

A Europa errou feio, como nós no passado ao manter a matriz energética em hidroelétricas majoritariamente. Ainda é assim, mas em menor proporção que no passado, quando os racionamentos eram comuns e a situação só não era pior porque o Brasil realmente não cresce. Ao contrário, vem a décadas em um processo de desindustrialização que reduz a demanda por energia.

O Brasil também falha na estratégia, de forma superlativa. Nosso erro está em colocar muito foco no Agronegócio e deixar outros setores ao relento. Estamos cometendo o mesmo erro da Europa, e em algum momento iremos pagar o preço. O gráfico abaixo do IBGE mostra o período pré-pandemia, onde já estávamos destruindo nossa indústria.

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Olhando o gráfico, nossa indústria regrediu para antes de 1950. Isso representa não só perda de trabalho qualificado, mas sobretudo, de geração de produtos de valor agregado. Por mais que o agro cresça, nunca vai chegar a adicionar o valor que a indústria poderia fazê-lo. Ainda mais se for indústria da tecnologia. Como exemplo, o Brasil, em 2007, criou um programa chamado PADIS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores). Até hoje (2022), sem resultados concretos. Sem estratégia. Um país em que a indústria primária definha, sonha em ter indústria “high tech”. Parece propaganda.

Voltamos ao primeiro parágrafo. Nossos líderes não têm discernimento, e não podem conceber um plano estratégico, nem se assim o quisessem. Os resultados comprovam que desde a década de 80, tais líderes vêm transformando o Brasil em um fazendão gigante, com uma mina de minério de ferro e petróleo no mar. Erro estratégico crasso? Se o objetivo é virar fazenda, não. Se o objetivo é crescer o país e gerar valor, sim. Mas o populismo não liga para isso. O importante é aparecer na foto do agronegócio.

A tabela abaixo extraída do BEA (Bureau of Economic Analysis – US Government) mostra o peso e a importância de outros setores além do agro no PIB americano. Aliás, mostra o quão irrisório é o valor agregado do agronegócio na economia americana frente aos outros setores como manufatura e educação. Até artes e entertainment agrega mais. Claro que o Brasil é diferente e o agro tem mais importância aqui. Mas o ponto é que o agro é importante porque os outros setores foram ignorados estrategicamente e o agro passou a ser relevante.

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O ponto aqui é que nosso erro estratégico, tal qual a Europa, está em focar esforços em um único setor e esperar que nada de ruim aconteça. Pior que isso, ignoramos o valor que cada setor, como manufatura, educação, artes etc. poderiam agregar. Então, sob este ponto de vista, é erro estratégico crasso.

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