Estamos mesmo em deflação?

Estamos mesmo em deflação?

São Paulo, 12 de outubro de 2022

Meu pai, professor de estatística, ensinou-me que os olhos enganam. Se olharmos somente com os olhos os números de inflação do 3º trimestre, encontramos a luz no fim do túnel. São três meses de deflação no índice geral.

Contudo, há de se interpretar os fatos, olhar com critério, antes de pular em conclusões equivocadas que possam levar a decisões de negócio que comprometam os resultados futuros. A tabela abaixo mostra a variação trimestral dos grupos de itens que formam o índice do IPCA.

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Nota-se que a deflação é decorrente, principalmente, do item ‘transportes’, que não só teve a maior variação negativa, como também é o item de maior peso no índice. Dentro do item transportes, além de combustíveis, existem gastos de manutenção de veículos e transporte público. Mas a queda da gasolina, e por consequência, do etanol foram os principais responsáveis pela queda do índice.

A deflação tracionada por combustíveis, é mais relacionada a um fenômeno especulativo que econômico. Primeiro, porque sabemos da alta volatilidade do preço do petróleo no mercado internacional, que pode mudar o rumo rapidamente, à gosto da OPEP, ou em função do conflito bélico Rússia-Ucrânia. Segundo, porque o petróleo influencia o preço de quase tudo, de alimentos até pasta de dente e cosméticos (ver artigo sobre inflação e petróleo A tempestade Perfeita: Inflação ). E como os demais itens do índice não cederam, há dúvida se esta queda no preço dos combustíveis é uma oscilação temporária ou situação de longo prazo. Mesmo em um cenário de queda de preços ocasionada por recessão global, a OPEP ainda poderia cortar a produção para equilibrar os preços. 

O quadro abaixo mostra a variação percentual dos itens do grupo transportes do IPCA (fonte: IBGE). 

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Vemos uma redução significativa na gasolina e etanol, mas tímida no diesel e transportes públicos. Isso quer dizer que a população em geral está sendo pouco beneficiada por essa redução de combustíveis e ainda permanecerão com baixo poder aquisitivo. Portanto, não se espera grandes movimentos de consumo, nem tão pouco maiores vendas para as empresas. E esse baixo poder de consumo é o calcanhar de Aquiles do Brasil. (ver artigo sobre poder aquisitivo O Brasil e a economia zumbi

Fato é que a queda na inflação tem causa principal na gasolina e etanol enquanto os demais itens permanecem no mesmo nível de preço, sem oscilações significativas. Mas o que esperar então?

No curto prazo, ainda teremos constrição do consumo. Médio e longo prazo: existe a possibilidade de redução dos preços por conta de uma recessão global que está se desenhando para próximo ano, mas podendo ser afetado por uma possível guerra também.

Tal incerteza se reflete também no mercado financeiro, onde os principais players estão divididos entre comprar ‘ativos futuros’ esperando uma melhora econômica e de consumo, ou vender futuro, esperando o pior cenário. O quadro abaixo, do movimento de outubro, reflete isso. “Players” se posicionando em posições opostas. Muita indefinição.

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Então chegamos aqui: Uma deflação frágil, baseada em um item, uma ameaça de recessão global futura, um cenário de guerra se agravando, e cada um indo para um lado. Os anos de experiência e muitas crises econômicas me ensinaram que o melhor a fazer é dar um passo de cada vez e preparar-se. O que significa isso? Gestão flexível do capital de giro, contratos com clausulas prevendo eventuais rupturas na cadeia, mapeamento de ‘key positions’ que detém o conhecimento da empresa e fazer um plano para eles, cuidar da saúde mental do time, terceirizar o que for possível, fazer caixa, monitorar movimento dos clientes, procurar por oportunidades de desenvolvimento de novos produtos ficando atento a novas e potenciais necessidades dos clientes etc. Na governança da empresa, existe uma política de crise? Ela já está colocada em prática? Ou ela será feita reativamente em meio à crise?

Palavras-chave são: agilidade, motivação, consciência, adaptação, atenção, comunicação e minha favorita – antecipação.

Aqueles que se preparam são vistos como aqueles que gostam do desafio, tem coragem, e criatividade, e aproveitam o momento para investir e inovar. Para eles não existe crise. O homework já foi feito. 

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