Quanto vale o Show?
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Quanto vale o Show?

Na década de 80, Silvio Santos perguntava isso todo domingo, em seu programa "Show de Calouros" após alguma apresentação que poderia ser sensacional ou terrivelmente estranha.

Pouco importava o estilo e a eficiência da apresentação, pois era a banca de jurados que determinava o valor daquela atração. Aracy de Almeida dava seus déix páux, Elke Maravilha achava todos umas gracinhas, Décio Piccinini fingia ser técnico na análise e Pedro de Lara se perfazia de vilão e/ou galã de quinta categoria. Esse "julgamento" completava o processo e fazia parte do entretenimento construído para o público. All inclusive, por vezes bem armado e quase sempre muito risível.

O que me trouxe para essas lembranças foi a leitura de duas matérias do El País, em que eu tive a nítida impressão que existe um novo-velho Show na praça, mas agora em vez de dinheiro do homem do baú, temos a busca pelo "like perfeito" para o qual Vale Tudo!

Texto 1 (12/06/2019)

‘Influencers’ posando em Chernobyl, a moda mais sinistra e polêmica do Instagram

Após a bem-sucedida série do HBO, subiram as visitas à zona do pior desastre nuclear da história. Muitos desses turistas aproveitam para se imortalizar, colhendo mais críticas do que ‘likes’

Texto 2 (11/07/2019)

O caso dos ‘instagramers’ que confundiram um lixão tóxico com um lago paradisíaco

Autoridades de Novosibirsk, terceira maior cidade da Rússia, já alertaram que a água faz mal para a pele e o fundo arenoso é muito perigoso para os banhistas

Ainda me impressiona a maneira (por vezes desmedida) de transformar-se em partícipe de um ambiente imagético desconectado da realidade vivida, mas totalmente conectado com um espaço ideal e editado pixel por pixel. E digo "ainda", pois mesmo tendo passado quase uma década do meu mestrado, em que estudei a presença e a validação da presença na rede, isso é algo que me causa atenção. Menos pela busca das pessoas por notoriedade e significância, fato que tem muito mais tempo e nenhuma conexão com o advento do mundo digital (muito pelo contrário), mas a minha atenção está focada na corrida em troca de migalhas afetivas digitais chamadas likes.

No caso das matérias, especificamente, o ato de capitalizar a desgraça de Chernobyl parece muito cruel, mas ainda tendo a interpretar como pior aquele que nada em meio a rejeitos tóxicos capazes de ferir sua pele, em busca de uma imagem que se assemelhe com uma paisagem caribenha em plena Sibéria. Quer enganar quem?

Interessante pensar que aqueles que "seriam enganados" produzem comentários tão ou mais "arranjados" do que as falas dos jurados do Show de Calouros, fazendo parte da imagem construída da atração dos instagramers. Enquanto isso o "telespectador" também está pingando seu "joinha" e dando feedback de que sim, é muito válida essa "atração" para ele.

No fim, eu não preciso perguntar quanto vale o show. O fato de existir um show desses, me ajuda e entender os processos de construção de sentido, as estruturas de significado das imagens, as relações mediadas pelas interfaces e isso tudo vale mais do que barras de ouro, pelo menos para esse semioticista.

#instagram #influencer #semiotic #chernobyl #Novosibirsk #elpais




Vyvian Teixeira

Diretora de Experiência do Cliente | CX | CS | CCare

5 a

Na Grécia Antiga os homens que se enquadravam nos padrões de beleza da época, se exercitavam nus, chegavam a passar 8 horas na academia. Isso porque o "ser belo" era considerado uma dádiva de Deus e ser bonito por fora indicava também beleza da alma, o que conferia um status diferenciado. A verdade é que as ferramentas ficam simples, ágeis e modernas, trocam-se os personagens e o cenário, mas a essência do que se entende por humanidade sofre com a dificuldade de evoluir no que tange a necessidade de ser admirado e aceito. E nesse jogo histórico de vaidades vale tudo, já se foram os ramos, os aplausos, agora são likes, o que virá no futuro?

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