Remuneração Baseada em Valor: Os principais impactos deste novo modelo para os Profissionais da Saúde
Em retrospectiva dos últimos 50 anos da medicina no Brasil feita recentemente pelo Dr. Drauzio Varella, ele comentou que durante este período o paciente deixou de ser o centro da atenção e razão de existir do sistema para se transformar apenas em um número. O modelo de remuneração vigente em nossa saúde suplementar, chamado de fee-for-service, ou conta-aberta, reflete exatamente isto. O sistema é remunerado pelo número de tratamentos realizados e não pelo resultado clínico proporcionado ao paciente.
Em paralelo, o envelhecimento da população acompanhado do aumento da prevalência das doenças crônicas farão que até 2030, os gastos com saúde saltem dos atuais 9.5% do PIB para cerca de 25%. Obviamente esta situação é insustentável.
A boa notícia é que solução para este desafio não só coloca o sistema de saúde em uma trajetória sustentável, mas também volta a colocar o paciente como centro e razão de existir do sistema. Estamos falando de Value Based Payment, em que a remuneração passará a ser realizada pela qualidade do resultado clínico proporcionado ao paciente dentro de custos razoáveis. Em países da Europa e Estados Unidos estamos vendo rapidamente a evolução neste sentido. No Brasil, vemos empresas líderes já avançando neste modelo. A Amil, por exemplo, declarou publicamente ter a meta de fechar 2017 com 21% de seus contratos baseados em modelos alternativos de pagamento.
Recentemente, no evento EthiconTalks, realizado em São Paulo, tivemos um painel debatendo os impactos destes novos modelos para os profissionais de saúde. Este painel moderado pelo Ricardo Amorim, contou com participação de Denise Eloi, CEO do ICOS, Reinaldo Scheibe, Presidente da ABRAMGE e minha participação representando a indústria.
No painel comentou-se que alguns hospitais de referência tem criado planos de auto-gestão para seus funcionários e respectivos familiares. Estes planos já incorporam conceitos de Valued Based Care e constituem pilotos para que os mesmo possam estar mais preparados para negociações maiores nos próximos anos. Estes hospitais tem relatado aumento do engajamento de seus times e redução de até 27% nos custos per capita do plano de saúde em contraste com inflação médica de 15% ao ano do período. Estes resultados tem sido consequência de ações de promoção de saúde, foco na atenção primária alavancando os modelos de médicos de família.
Enfim, esta é uma tendência que irá acontecer independente de resistências que possam surgir. A pergunta hoje em dia é quando, se avançará rapidamente nos próximos 3 anos ou se demorará ainda 10 anos para vermos esta mudança.
Em relação ao profissional de saúde, é fundamental que primeiro este tenha a ciência desta tendência e que estes, assim como todos os outros atores – indústria, hospital, operadoras de saúde –, sejam protagonistas e participem da construção desta mudança.
A educação de todos é fundamental. Nesta mudança de modelos de remuneração, haverá transferência de risco das operadoras para os outros atores. Por exemplo, na cirurgia bariátrica, se o acordo prevê que complicações acima do índice da literatura serão cobertas pelo hospital, cirurgião e indústria, tem de se ter clareza sobre os riscos assumidos e ter mecanismos para mitigá-los. Ao mesmo tempo os ganhos por melhores resultados tem de ser compartilhados com os profissionais de saúde.
A pergunta que fica é quais os principais impactos para os profissionais de saúde. Primeiro, (1) haverá busca por equipes com melhores resultados clínicos e maior eficiência operacional. Estas equipes serão mais valorizadas e aumentará a tendência por corpo clínico fechado nos hospitais com estes modelos. Segundo, (2) os modelos iniciais irão compartilhar economias geradas ou irão direcionar volume de atendimento para as equipes da casa. Terceiro, (3) haverá bem mais transparência de resultados. Quarto, (4) será importante entender riscos assumidos e ter mecanismos para mitigá-lo, como por exemplo: (a) Moral Hazard, (b) Risk Adjustment, (c) Risk Cap, (d) Risk Corridors.
Em resumo, estamos diante de um tendência que vai transformar o Mercado e é importante envolvimento de todos para que esta mudança ocorra da melhor forma possível, para cada um dos atores e acima de tudo para o paciente.
Anesthesiologist, University of São Paulo
7 aPassa aki no Hospital Universitário da USP que a gente dá uma forcinha pro projeto .
Promoção de saúde e bem-estar, Saude populacional, Gestão de Saúde, Saúde Corporativa
7 aÓtimo! São mudanças necessárias...
Cardiologista Hosp.Siriolibanes e Fleury
7 aAcho que assistimos a duas revoluções no ambiente médico-hospitalar, ou da Saúde, no sentido mais amplo: temos tecnologia e ciência alinhadas a um perfil essencialmente técnico no gerenciamento de recursos. A remuneração baseada em resultados, a meu ver, tem um longo percurso a ser traçado, justamente pelas inúmeras variáveis que participam do processo e que independem do profissional médico exclusivamente. Entenda- se, por exemplo, o grau de investimento nas equipes multiprofissionais, que tem papel determinante no resultado, mas que muitas vezes tem sua importância negligenciada: pessoal de enfermagem, fisioterapia, nutrição, fono, etc Outro fator: perfil dos pacientes: como traçar metas ou comparar resultados de profissionais em ambientes tão distintos! A mortalidade em uma UTI de transplantados ou oncológicos não é a mesma de uma geral ou cirurgia... Enfim, os desafios estão aí! Estabelecer um modelo para um profissional com tantas particularidades está longe de ser rapidamente criado/implantado.
Especialista em OPME | Consultora | Professora | Palestrante
7 aCompartilho de sua visão. A mudança se faz necessária e muito importante o paciente voltar para a excencia do sistema. Gosto das iniciativas de gestão em Saúde ATS, outro movimento é na frente de qualidade, elevando o nível da assistência e sem dúvidas essa singularidade dos Stake Holders é o que vai impulsionar a mudança.
ophthalmologist - glaucoma specialist
7 aGostaria de questionar aos especialistas: como vincular o pagamento ao resultado clínico se a promoção de saúde é uma função de meios e não de fim e que o resultado final é definido por variáveis que vão além do controle do paciente, do promotor de saúde e da própria instituição. Outro ponto, talvez mais polêmico: é o sistema de saúde algo possível de ter um lucro ético? Não seria o lucro da saúde ter uma população saudável, produzindo e consumindo. Não há dúvida que temos que promover adequações, mas quais exatamente? Ter a operadora bônus de bilhões divididos com seus acionistas? Ou ter população com baixos índices de absenteísmo, invalidez, com alta produtividade e consumo?