#Semana 22 - A Budweiser e L542-JC.

“A maior habilidade de um líder é desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns”.

(Abraham Lincoln)

Logo na primeira reunião com a liderança da Cervejaria após a minha promoção para supervisor de produção, tive a oportunidade de participar do desdobramento anual de metas. Nessa época, nosso Gerente Fabril, Fernando Melo, comunicava orgulhosamente sobre a nova aquisição da empresa americana: A CERVEJARIA BUDWEISER. 

Ali, compreendi a dimensão da empresa em que estava trabalhando, tornando-nos a maior empresa de bebidas do mundo. Também descobri o grande desafio que teríamos naquele ano: Produzir pela primeira vez a Budweiser fora dos Estados Unidos! 

Era um projeto muito desafiador, mas a força e comprometimento que o time demonstrava era surreal. A cada dia, descobria o quão importante seria participar dessa transição entre a fusão das duas empresas.

No início, fui encaminhado para trabalhar na linha 542-JC OW, começando os meus primeiros passos como supervisor de packaging. Além do desafio da nova função, havia outro detalhe, eu nunca havia trabalhado em uma linha de Long Neck. 

Era tudo novo: processo, pessoas, insumos, equipamentos, etc. Mesmo assim, não abaixei a cabeça e fui trabalhar no 3º turno, das 00h até as 06:15 da manhã. Aprendi a realizar as rotinas básicas de fechamento e consolidação de dados de produção.

A rotina no turno da madrugada poderia ser menos intensa em termos de horas trabalhadas, mas dependia muito do líder em outras atividades além da rotina. Nesse horário, a maioria dos funcionários dos demais turnos estavam descansando, então, os problemas deveriam ser tratados exclusivamente  por nós. Era bem corrido após os fechamentos de produções para deixarmos tudo organizado para as reuniões no período administrativo do dia seguinte. 

Mesmo assim, tenho certeza que cometi muitos erros, mas aprendi bastante nesse turno com os colaboradores e os colegas de trabalho. Pois a cada noite, tínhamos que lidar com problemas diferentes.

Tudo estava indo muito bem quando, de repente, a área em que estava trabalhando mudou de OW (One Way) para RGB (Returnable Glass Bottle). Isso implicaria na mudança de toda a liderança na área: supervisores, coordenadores e gerentes de packaging. Confesso que, pessoalmente, a notícia não foi muito bem recebida, pois, no curto período em que trabalhava na Ambev, conhecia apenas as pessoas da minha antiga área. Resumindo: Houve mais uma transição e foi bem difícil no início.

Fiquei completamente perdido, pois as pessoas que iriam trabalhar comigo naquele momento nunca tinham ouvido falar do "japa" ou do “Eduardo”, realmente era um anônimo agora. Mesmo assim, entendi que para ambas as áreas, era uma ordem que precisávamos seguir. Na primeira semana, acabei conhecendo o novo Gerente de Packaging, Ricardo Gutierrez (o Guti), ele entrou na sala de troca de turno na madrugada e se apresentou como tal. Eu, por sua vez, não o conhecia, nunca tinha visto; e eu estava tímido e preocupado com todas aquelas mudanças acontecendo em um curto espaço de tempo.

Gutierrez sempre foi muito líder muito cordial e educado. Não precisava falar alto para ser compreendido, e me perguntou: " - Como você está?". Respondi: " - A linha não está performando muito bem, muitos pontos de...", e ele cortou minha frase rapidamente e perguntou novamente: " - Como você está? A sua pessoa? Sua família?". Foi ali que percebi que era um líder diferenciado e falei que estava assustado com as várias mudanças, com o cargo novo, área nova que acabara de receber e que não faltavam desafios no dia a dia. Literalmente eu precisava de suporte para uma boa integração na função. Tivemos uma longa conversa naquela noite, e acredito que ele percebeu a minha preocupação e medos, tranquilizando-me. Ali, senti-me confortável para continuar com a minha jornada, mesmo com os percalços. Sabia que tinha “ganhado” um bom gestor que cuidaria da minha carreira de primeira liderança. Naquela mesma semana, ele apresentou meu plano de integração na função, juntamente com o time de Gente.

Falando um pouco mais sobre o Guti…

Até hoje, mantenho uma amizade gigante e quem o conhece sabe do que estou falando!

Uma pessoa sempre disposta a ajudar a todos, com uma maneira fácil de ensinar e sempre de bem com a vida. Aprendi muito com ele em nossas reuniões semanais e no dia a dia. Sempre que podia, tentava conversar com ele alguns minutos pessoalmente para poder absorver o máximo de conhecimento. Assim como eu, ele cresceu dentro da empresa, foi técnico elétrico no início da sua carreira na Ambev e todos os colaboradores gostavam da maneira como ele liderava o seu time e como ele conseguia desenvolver habilidades nas pessoas. 

Nas nossas reuniões, sempre dava a palavra para falarmos de nossas ideias, mesmo que não fossem boas, mas ele ouvia atentamente sempre nos fazendo pensar fora da caixa. Lembro uma vez logo no início me ensinou sobre o funcionamento do inspetor de garrafas, nós estávamos em frente a máquina e eu podia ver o prazer dele para o tempo dele para ensinar algo para as pessoas. Literalmente, deixou um legado como pessoa e líder na nossa área.

Voltando..

E foi assim que conheci outros supervisores e coordenadores que me ajudaram muito nesse primeiro momento. Ao todo, éramos 4 analistas, 17 supervisores, 3 coordenadores, 1 gerente e mais de 250 pessoas nas linhas de produção. Era a maior área da fábrica!

Infelizmente (ou felizmente), eu não estava preparado profissionalmente para absorver as primeiras produções de Budweiser no Brasil, e alguns tempo depois, fui substituído pelo supervisor Carlão e comecei a trabalhar na L541 Long Neck, particularmente era um TIMAÇO e aprendi demais com aquela turma. Mas isso será nosso próximo capítulo.

Até a próxima semana.