Será que você chegou até aqui por mérito?

Vejo muitas discussões sobre meritocracia aqui no LinkedIn e em outras redes. Alguns são contra, outros já defendem com unhas e dentes esta ideia.

Sempre tem alguém com um discurso do tipo “ah, mas fulano conquistou isso por mérito próprio”, “você tem que correr atrás dos seus sonhos, fazer por merecer”. Mas, será que somente a perseverança basta?

Ontem, assisti ao vídeo Meritocracia da Rita Von Hurty — excelente, como sempre — e, nele, ela nos faz pensar e questionar determinadas conquistas. Em dado momento, Rita mostra como o tempo e espaço foram importantes para algumas ascensões (como a do Neymar, por exemplo) e, ao mesmo tempo, como ainda hoje há concentração de riqueza nas mesmas famílias há gerações.

Do meu ponto de vista, penso que é muito fácil falar em mérito quando se é branco, homem, hétero e de “berço de ouro”. Quando nunca lhe faltou comida na mesa ou precisou trabalhar aos 12 anos (ou mesmo antes). Também é muito fácil romantizar a mulher preta que rala em dois empregos, tem filhos e ainda arruma tempo para estudar. Ou o pedreiro que se formou em Direito após pedalar 42 km por dia TODOS OS DIAS.

É um pensamento no mínimo ingênuo acreditar que pessoas com realidades similares às descritas acimas têm as mesmas oportunidades no mercado. Por isso, ações de reparação e promoção de justiça social são ainda necessárias no Brasil. Eu sei que, se não fosse pelo Prouni, eu não teria me formado em Relações Públicas pela PucMinas.

Enfim, penso que todos devemos refletir sobre nossos privilégios, nossa trajetória, as oportunidades que nos foram dadas e quanta reparação ainda é necessária no Brasil. Não estou dizendo que pessoas privilegias do ponto de vista social não são trabalhadoras ou abdicaram de várias coisas para conquistarem determinadas posições ou bens. O ponto é que precisamos reconhecer tais "regalias". As oportunidades não são as mesmas. 

Além do vídeo da Rita, que está repleto de referências, também indico a leitura da entrevista dada por Sidney Chalhoub ao Jornal da Unicamp e que você assista ao vídeo "Corrida de privilégios" no Youtube. Pense nisso! 😉