Serviços - A Grande e longa jornada - Parte 1
Essa história retrata um período de quatro anos, de 2017 a 2021, porém não será possível contá-la sem citar sua origem nos fatos ocorridos em maio de 2010. Pois bem, este foi o mês e o ano em que decidi: Eu deveria mudar de ares. Na época não se falava no termo "empreender", e "Startup" não fazia parte do vocabulário Português ou do senso comum da sociedade brasileira, mas é fato que eu decidi que deveria ter mais experiências iniciando novos negócios até que criasse o meu próprio. Fiz uma viagem diferente, me lancei por 27 dias na região nordeste do meu país, cruzando seus estados e conhecendo todas as pessoas que conseguia, e no caminho me deparei com guias turísticos, médicos, advogados e o mais inusitado, um homem chamado Joey. Ele era americano, vinha do Brooklyn, NY, e vivia há cerca de 2 anos em Fortaleza. Não falava uma palavra em português, apenas espanhol e inglês e, no Brasil, vivia como sem teto. Eu percebi que a maioria das pessoas que conheci tinham algo em comum: eram prestadores de serviços. Incluindo Joey, pois, enquanto eu estava em Fortaleza, me vendeu um mapa - mas não um mapa qualquer: o abriu no meio da rua, e como eu também falo inglês e espanhol, me fez uma série de questões perguntando o que eu gostava de comer, o quanto eu estava disposto a pagar em minhas refeições, e desenhou em seu mapa onde eu deveria ir de acordo com minhas preferências, e principalmente quais locais eu deveria evitar para não ser assaltado, fosse por ladrões ou nos caros restaurantes.
Joey é um nome meramente figurativo, infelizmente não me recordo mais o nome daquele senhor, talvez fosse Joey mesmo, não me soou tão estranho assim. Fato é que Joey conseguiu seus R$10,00 por sua prestação de serviços, que demonstrou posteriormente ser precisamente técnica, uma vez que tive uma das experiências mais baratas em toda minha viagem, neste período no Ceará. O homem era afiado.
De acordo com o decorrer dos dias, fui conhecer alguns pontos turísticos do estado, e, assim, as pessoas que por ali estavam, e então conheci o casal Nilton e Marcia, eram de Goiânia. Após horas de conversa eles me citaram que sua viagem tinha sido muito boa, e parte disso tinha a ver com um gringo que conheceram na região central de fortaleza, alguém que vendeu a eles um mapa personalizado de acordo com suas preferências gastronômicas, e eu os cortei dizendo "- Joey, certo?"
"Ele mesmo! Você também o conheceu?"
No meu último dia ali, estava comendo um acarajé na avenida Beira mar em Fortaleza (por mais estranho que isso soe, sim, eu estava comendo um acarajé em Fortaleza), quando me apareceu mais uma vez Joey, que prontamente me reconheceu, abriu um sorriso e disse que estava feliz em me ver, e gentilmente me pediu mais dinheiro. Eu o olhei nos olhos, dei um sorriso meio torto, reconhecendo um verdadeiro matuto a minha frente, e respondi: "sell me something", que significa "me venda algo" em inglês. Rimos muito.
Ele me contou naquela noite sobre como veio parar no Brasil, e como ele vivia anteriormente nos Estados Unidos à base de prestação de serviços e vendas. Ele fez de tudo: foi militar, agente de turismos, lavador de carros, cuidador de jardim e de repente veio para o Brasil passar uns dias e nunca mais quis voltar aos Estados Unidos. Já aqui, teve problemas com álcool, mas tinha uma vida mais tranquila e me lembro quando despretensiosamente eu disse: "A prosperidade é muito cara, te custa tudo", não entendi ao perceber Joey de cabeça baixa e olhos marejados em um tom bastante humano por alguns segundos, desfazendo a expressão e me agradecendo pelo papo, breve amizade e pelo serviço que me prestou. Mais tarde, no hotel, me lembrei deste inusitado amigo, e me peguei pensando sobre como é difícil a vida de quem presta serviços de alguma forma. É você por você mesmo, e se ainda assim você consegue conectar os pontos e ter algum tipo de sucesso ou tranquilidade financeira, diversos fatores te impedem de crescer, e querer dar passos maiores. Penso que é bem compreensível, afinal foi muito difícil chegar até ali. Mesmo com tudo a favor de você, não existe tempo hábil para examinar o trabalho sob uma nova perspectiva, no máximo aprender como o executar melhor.
Ao longo de minha viagem eu coletei muitos e muitos exemplos de pessoas que faziam o impossível para conseguir crescer de alguma forma. Eu vi, comi, ri e chorei com elas. Eu já era um prestador de serviços: era um vendedor (de tecnologia, mas um vendedor) de uma empresa de tecnologia que também era uma prestadora de serviços, e foi assim que ainda em minha viagem eu decidi o que eu iria fazer e qual caminho iria seguir. Eu iria atuar em minha área e dedicaria minha carreira a entender a vida dos prestadores de serviços, com o intuito de facilitar o seu trabalho. Eu tinha saído do meu emprego na Equinix antes da viagem e não fazia a menor ideia de como ia encontrar um objetivo e, ainda no nordeste, tive contato com uma empresa de distribuição de produtos voltados para tecnologia. Depois de algumas conversas estava decidido. Eu iria iniciar a operação da área de serviços desta empresa, Anixter, na América do sul. Eu ainda não sabia o que viveria na pele de um prestador de serviços, e iria demorar a descobrir, mas fatalmente o faria. O que eu também não sabia, é que eu estava embarcando na jornada da minha vida.
Continua...